
A nossa bela capital, em não sendo encravada --- por um histórico equívoco do conselheiro Saraiva --- na pequena, porém aconchegante e privilegiada faixa do litoral piauiense, sofre as difíceis conseqüências de não possuir os atrativos históricos e turísticos tão comuns no restante das capitais nordestinas.
Para compensar, tentam desenvolver inócuas alternativas, como a realização de encontros, eventos artísticos, musicais e os congressos: médicos e jurídicos. Só que isso é muito pouco para alavancar o turismo na capital. Já fizeram de tudo. Levaram o torneio de Vôlei de Praia?? para o pátio de um Shopping Center, deslocaram dois terços das férias de Julho no litoral para a Micarina Meio Norte, até inventaram o Piauí Pop... Só que, infelizmente, e mesmo com esses atrativos o turismo em nossa capital não decola.
Sentindo-se desesperados, agora estão investindo maciçamente no “Turismo de Saúde”, e com isso Teresina está virando um grande hospital. Criaram um inusitado e concentrado “Pólo de Saúde” no centro de Teresina ancorado em um esquema milionário, envolvendo empresários do setor de saúde, funcionários de clínicas e hospitais, políticos e donos de hotéis, que tem rendido muito dinheiro para quem faz parte desse lucrativo negócio. Já existem até os “motoristas agenciadores” que vão à Estação Rodoviária com o intuito de arrebanhar e encaminhar os “turistas” para os hospitais, clínicas e hotéis. A prefeitura está fazendo a parte urbanística do pólo, disponibilizando para isso uma polpuda verba. A área é constituída de trinta e duas quadras e engloba vários hospitais, clínicas e pensões. A concentração hospitalar é imensa, proporcionando a um grupo de exploradores ganhar muito dinheiro com a desgraça alheia, e em contrapartida, ainda deixando na cidade o iminente perigo de contaminação por doenças infecto-contagiosas.
Teresina tem crescido bastante --- privilegiada, antes por sucessivas boas administrações, mas principalmente pela exagerada concentração de recursos provenientes de políticas públicas anacrônicas e eleitoreiras que visam seus 500 mil votos, em detrimento do restante do Estado --- sendo hoje uma cidade com uma boa estrutura, e grandes perspectivas futuras de tornar-se uma grande cidade, mas imaginamos que nenhuma tentativa será capaz de torná-la uma cidade turística, haja vista que, por natureza não possui nenhum atrativo que motive o “trade” turístico. Até o PRODETUR --- programa para o desenvolvimento do turismo na região nordestina --- que a princípio objetivava investimentos no litoral, mas que, por Teresina se auto-intitular de “Porta de Entrada do Delta do Parnaíba” vai abocanhar cinqüenta por cento das verbas que seriam totalmente destinadas aos quatro municípios que compõem o litoral piauiense.
Os equívocos cometidos pelo nobre Conselheiro custaram muito caro ao nosso Piauí. Mesmo já sendo passados mais de cento e cinqüenta anos de sua decisão, continuamos com o nosso belo litoral em petição de miséria absoluta. Por não ser localizado na capital, nunca foi olhado com benevolência pelos governadores, principalmente aqueles nascidos aqui na região. Todo o litoral nordestino é hoje uma fonte de renda inesgotável para seus estados, enquanto nós do Piauí por falta de uma decisão política, continuamos “A Ver Navios”... Ao largo!
Esta crônica foi escrita e publicada em 2005. Com a repercussão negativa provocada pela matéria do fantástico --- TV Globo --- exibida no domingo 30/05/10 resolvi republicá-la.
Mário Pires Santana