Quando menino, eu e
alguns amigos nos reuníamos todo final de tarde num cantinho do campo do
Fabril, aquele quadrado ali entre a avenida São Sebastião e as ruas Afonso Pena,
Tabajara e José Bonifácio. Íamos ver o
pessoal do Palmeiras do Chaga Toba treinando e quando dava quórum entre os
nossos a gente formava dois times e também batia uma bolinha, de preferência
bola de meia. Quem teve infância e hoje tem mais de sessenta anos de idade sabe
do que estou falando.
Aquele rito de toda tarde
acabou fazendo com que entre nós se construíssem amizades que até hoje
mantemos. Com alguns de nós mais velhos já chegando à adolescência e tendo que
procurar uma coisa pra fazer, aprender um ofício pra mais tarde dar dinheiro em
casa, nosso grupo foi se desfazendo. Parnaíba pouco ou quase nada oferecia pra
quem quisesse fazer carreira. Era no máximo fazer um curso no Senai ou, já
engrossando a voz e o talo da pinta entrar na Marinha ou rezar pra ter um
concurso da Caixa ou do Banco do Brasil. Eram as quatro únicas saídas pra
rapazes pobres.
Mas voltando pro campo do
jogo da bola de meia eu lembro de colegas e amigos incríveis na arte de fazer
gols, driblar, fazer defesas espetaculares, armar jogadas, exercerem liderança
dentro de campo. E o jogo de bola de meia é uma excitação sobre o outro tipo de
jogo de bola, disputado por mais gente dentro de campo. É que no jogo da bola
de meia a partida é disputada por apenas um jogador de cada lado. Lembra uma
partida de tênis sem a rede de obstáculo no meio.
Falando em armar jogadas
dentro de campo, nessa semana que acaba de acabar, aqui em Parnaíba estiveram
reunidos na Federação das Indústrias do Estado do Piauí, prefeitos eleitos,
reeleitos, assessores, correligionários, enfim, toda sorte de gente que dentro
de mais alguns dias vai estar dentro dos gabinetes. Gente que trabalhou na
campanha e agora vem pra porta do futuro prefeito corubijar algum cargo. E
estão certos. É a paga pelo esforço de correr atrás da eleição vitoriosa.
Mas a dita reunião, pelo
que ficamos sabendo pela imprensa, foi pra tratar de um consórcio. Particularmente
eu rezo pra que dê certo, se mantenha e mais ainda, dê resultados reais. Recordo
de um desses consórcios montados aqui mesmo na Parnaíba pra traçar estratégias
de desenvolvimento do turismo. No início foi uma beleza. Todo mundo veio, deu
opinião, ouviu e foi ouvido.
A coisa, pelo que se
projetou, ia fazer o maior sucesso e ser copiada além das fronteiras do Brasil.
Até falavam que os americanos ficaram de queixo caído quando souberam da
façanha dos piauienses, cearenses e maranhenses. Mas com o tempo as tais
reuniões foram rareando, as poucas que ocorreram foram ficando monótonas e na
hora de troca de direção e de outros assuntos envolvendo responsabilidades os
meninos restantes chutaram a bola de pano pra bem longe e acabou o jogo. O
caldo entornou e ninguém mais se entendeu na cozinha. Hoje não conheço ninguém
que fale mais sobre esse empreendimento.
Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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