Um dos pontos turísticos mais visitados e rentáveis da região Norte do Piauí vive uma situação difícil. A Lagoa do Portinho localizada em Parnaíba, cidade distante cerca de 320 km de Teresina, parece estar com os dias contados. Sem chuvas regulares há pelo menos cinco anos, os ribeirinhos e comerciantes lamentam o fim do que já foi cartão-postal e uma das mais belas paisagens do Estado.
O empresário Aloísio Soares, dono de um bar às margens da Lagoa há quase 30 anos, revela que um dos maiores problemas que tem provocado o assoreamento no local, pode estar sendo causado pela ganância de alguns empresários da região. Segundo ele, a maioria dos que possuem terrenos próximos a Lagoa represam as águas que passariam a dar volume e vazão, provocando o desaparecimento da Lagoa por completo.
"Falta chuva boa há mais de cinco anos, esse é um dos grandes problemas, mas uma coisa que nós sabemos que está sendo fundamental para as imagens que vemos hoje, de seca, é a maneira como alguns empresários locais estão tratando a coisa. A maioria dos que possuem propriedades por onde passam os canais que enchem a Lagoa, represam as águas para criatórios particulares de peixes e aí a água que cairia aqui fica retida somente para eles", denuncia.
O empresário revela ainda que existe a informação de que dezenas de represas em propriedades particulares estão totalmente cheias nesse período de dezembro, mas ninguém pode se quer ter acesso as propriedades já que os empresários não aceitam falar com a imprensa nem se sensibilizam com a situação.
Aloísio Soares conta ainda que os órgãos públicos responsáveis pela administração da Lagoa não se mostram preocupados com o caso, e que inclusive o prefeito de Parnaíba, Florentino Neto (PT), teria tratado com descaso alguns projetos que lhe foram encaminhados.
"Há muitos anos estamos tratando desse assoreamento da Lagoa do Portinho com os órgãos públicos, mas até agora não tivemos retorno de nada. Me reuni com alguns empresários e fomos atrás do IBAMA, do Instituto Chico Mendes, da SEMAR, mas todos vieram com desculpas que não nos convenceram nem um pouco. Uma vez um ex-diretor do Distrito dos Tabuleiros Litorâneos (Distal) criou um projeto para tentar reaver a situação, e encaminhamos para o prefeito, mas a resposta que tivemos dele foi de que não havia interesse algum na proposta. Talvez à época ele pensava que não chegaríamos ao ponto que hoje chegamos", disse.
Para contribuir com o problema na Lagoa, a falta de chuvas e os ventos fortes e constantes tem aumentado o deslocamento das dunas e bloqueado as estradas que dão acesso ao local. Para tentar amenizar a situação, um grupo de estudantes da Universidade Federal do Piauí criou o movimento 'S.O.S Lagoa do Portinho', e tentam chamar atenção de autoridades municipais e estaduais, mas até o momento nada de concreto foi feito.
"O vento tem ajudado a bloquear os canais e as dunas estão se fechando mais ainda. Daqui alguns dia ficará impossível qualquer água que não for da chuva cair dentro da Lagoa. Cerca de 50 alunos criaram um movimento para chamar atenção das autoridades sobre o problema, mas se quer foram ouvidos", ressalta Aloísio.
Para quem sobrevive do comércio nos períodos de alta temporada, aos poucos vai descobrindo a triste realidade que é o fim de um bem natural. Fonte de renda, a Lagoa do Portinho ajudou dezenas de famílias a construírem sua história, como no caso do empresário Aloísio Soares. Sem água, os turistas estão deixando de circular pela região, e o prejuízo nas vendas é certo.
"Estamos sem saber o que fazer, porque a prefeitura e o Estado não dão nenhum posicionamento sobre o que fazer para voltarmos a ter água aqui, e sem água não há motivos para os turistas virem pra cá. Hoje estamos com o comércio totalmente comprometido. As vendas tiveram uma queda de 70 a 80% e hoje só temos movimento nos dias de domingo, porque é quando colocamos uma música ao vivo e o pessoal vem pra cá. Quando tínhamos a Lagoa, o pessoal vinha banhar, curtia o bar, comia, bebia, mas agora acabou", afirma.
Sem respostas viáveis para resolução do problemas, um grupo de empresários se articula e montou uma estratégia para revitalizar a Lagoa. De acordo com eles, existem soluções 'práticas e não muito caras'. "Temos contatos com o Distrito dos Tabuleiros Litorâneos (Distal), que é responsável pelo local onde passa um dos canais mais próximos da Lagoa do Portinho, alguns irrigantes deles podem nos ajudar a fazer essa transposição do canal da nascente da Lagoa. De lá, ela escorreria e voltaria a encher aqui. O único problema é que a SEMAR diz que não há recursos mínimos sequer para ajudar nesse processo", finaliza.
Colaboração: Sayuri Sato
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