31 de jan. de 2015

Lagoa do Portinho vai pro armário poeirento do já teve.


Acaba de passar pela unidade de protocolo de objetos e situações sem chances de recuperação ou sem serventia, pra finalmente ganhar dentro de mais alguns meses ou anos uma grossa camada de poeira, aquele que foi um dos mais falados e cantados, como se dizia no meu tempo, acidentes geográficos do Piauí, a lagoa do Portinho, na divisa entre as cidades de Parnaíba e Luiz Correia. Se bem que mesmo todo mundo admirando nunca se teve notícia de que alguma coisa estava sendo feita pra lhe garantir a sobrevivência.

Deu sinais de que precisava de ajuda e resistiu o quanto pode, mas mesmo com toda essa cantoria no seu pé do ouvido agora é morta, feito Inêz de Castro. Agora está naquela parte da casa, e a cidade é uma casa ampliada, a despensa ou a casinha no fundo do quintal pra onde se rebolam  todas as coisas que tiveram alguma utilidade pra família, assim feito um jarro velho com a aseia quebrada, uns tamboretes de apenas três pernas, uma televisão sem os botões de controle, umas mesas que foram retiradas da sala porque não prestavam  mais por serem pequenas ou grandes e a família está crescendo ou diminuindo.

A partir dali, a partir daquele marco entre o presente e o passado, igual a fronteira entre a Grécia e a Turquia, a coisa agora é poeira e esquecimento. Mas no Piauí existe uma região, no norte, aonde vamos encontrar esta importante unidade de sua história. Tem um nome e uma finalidade especiais. Unidade de Registro de Objetos e Situações sem Chances de Recuperação ou sem Serventia. Já disse tudo. Tudo em quanto foi sonho maluco, dinheiro público jogado fora, promessa de políticos mancomunados com empresários ladrões, muitas obras inacabadas e outros tantos de coisas que todo mundo há de lembrar ou está lembrando.
Aqui não se está nem enumerando pelo começo, mas pelo que dá pra recordar. E até peço a ajuda de quem possa ordenar e acrescentar mais coisas. Mas Parnaíba já teve fábricas de beneficiamento de castanha de caju, Zona de Processamento de Exportação, Clube dos Trabalhadores, Ferroviário, Estrada de Ferro Central do Piauí, Rádio Educadora, voos internacionais, cobertura de ponto de ônibus, fábrica de pilar arroz, manjuba, Country Clube, Cine Delta, Estádio Petrônio Portella, Moraes S/A, Vegetex, Esplanada da Estação, Ipecea, Esnisa, transporte urbano de qualidade, Beira Rio, Igara Clube, AABB. Belga, Rio Grandense, manga de foice, azeitona, ingá. Também teve Marimbá, caju azedo, pitanga, Morros da Mariana...


Agora é a vez da lagoa do Portinho. Vai pro grande armário do esquecimento e do descaso. Igual aquela olhada com o rabo de olho quando se vai ao quintal dar uma mijada e se quer dar uma espiada no que ficou da vida passada dentro de casa. Conhecido entre a molecada e pelos desocupados de plantão de “já teve”. Vai fazer companhia com o porto de Luiz Correia, a Belamina, a urbanização da lagoa do Bebedouro, praça da Graça, o bumba- meu boi, marujada, quadrilhas de São João, o Porto das Barcas, Cine Éden, Cine Ritz. Tem é coisa. O armário velho tá precisando de outros maiores, pois está abarrotado e ainda vai chegar mais coisa.

Pádua Marques
Jornalista e escritor 

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