30 de ago. de 2014

A afoiteza do menino que cutucou a onça.

Antes da morte de Eduardo Campos naquele acidente de avião lá em Santos, a mídia vinha se ocupando em esmiuçar aquele caso do menino que foi ao zoológico na companhia do pai e em lá chegando se pôs a mexer em tudo em quanto era animal pra ver se eram de verdade. Todo mundo viu pela televisão o quanto se tentou, pelo menos quem estava por perto, fazer com que ele desistisse da infeliz ideia de ficar provocando os animais. Deu osso de galinha pra um leão, pegou no rabo do tigre, correu, subiu na grade de proteção, meteu o braço pra tocar a cabeça da fera e outras tantas estripulias.
Olhando pras imagens daquele menino fazendo e acontecendo não se pode dizer que era um meninozinho qualquer, mas já um rapazinho, já engrossando o talo e que se bem criado por pais equilibrados já estaria tomando juízo naquela cabeça de vento. Mas ao que parece aquele menino e seu pai fazem parte deste novo modelo de família onde cada um faz o que bem entende, não há o menor princípio de autoridade, respeito e tanto faz como tanto fez dentro da maior promiscuidade. A família daquele menino é aquele tipo de família sem pé nem cabeça onde tudo é permitido.
E ele, me perdoem a rudeza, certamente deve ser aquele tipo de filho cheio de vontades, criado dentro de apartamento em frente de televisão ou de computador, inveterado nesses jogos eletrônicos e que quando vão pra escola e na sala de aula ficam o tempo inteiro com a cara enfiada no telefone celular e na volta pra casa. São de pouca conversa com outras pessoas e muito menos com pai, mãe e irmãos e quando adultos certamente vão ser neuróticos, de pouco convívio social. No dia em que saem em meio de gente dá nisso. Pois essa afoiteza daquele menino cheio de vontades acabou lhe custando um braço.
Vrajamany Rocha, de 11 anos, foi ao zoológico de Cascavel, Paraná, em companhia do pai, Marcos e de um irmão, de três anos de idade. E lá, solto, livre dos olhos e dos ouvidos do pai irresponsável se danou a bulir naquilo e com quem não deveria, os animais selvagens, que estão, por medida de segurança confinados em grades altas e mais uma área de segurança. Ele não respeitou as regras. Ficou o tempo todo malinando e chamando a atenção de quem estava por perto e mesmo advertido pelos presentes continuou provocando os animais.
Mas vamos deixar de lado este infeliz ocorrido com o menino danisco de Cascavel e vamos tratar, tendo como pista a afoiteza pra fazer aquilo em que muitas vezes nem mesmo nós acreditamos há de dar certo. E nesse momento eu falo sobre o político, o voto e o eleitor. O cidadão deve ter essa consciência de que o político, mesmo não sendo eleito, não é dono de sua liberdade de escolha e de sua vontade. E mesmo sendo eleito com o voto e o apoio desse cidadão esse político tem obrigação de lhe prestar contas. O voto ou o apoio ao político eleito não transforma o cidadão em escravo de sua vontade.
A crítica ou a cobrança é uma prerrogativa, um privilégio do cidadão que escolheu o político seu representante. Aquele que lhe prometeu isso e aquilo, certamente pra o bem coletivo, desde quando em palanque ou quando bateu na sua porta. Por isso considero de extrema importância este contato entre o político e o cidadão eleitor após o período de campanha. O que não pode e nem deve haver é este desquite entre os dois, o político e o eleitor. Vai o político eleito pras assembleias legislativas ou pra o executivo tendo noção de que tem a imensa responsabilidade de prestar contas de sua atividade. E o eleitor nunca deve se esquecer de quem elegeu e sempre cobrar resultados.

O eleitor nunca deve ter medo e nem fazer cerimônia em quem votou. Porque o que ocorre muitas e muitas vezes é a intimidação pela imponência e a imposição da autoridade. Isso não pode e nem deve servir de barreira entre o cidadão e o político. O cidadão pode e deve ter esta afoiteza do menino que foi cutucar a onça. Quando se encontrar frente a frente com seu representante, não pra ser descortês e nem inconveniente. Mas pra dar a perceber que a relação entre os dois continua no mesmo grau de confiança daquele dia ou daquela noite em que lhe abriu as portas da sua casa e lhe emprestou confiança de voto, tipo um casamento. E o político por seu lado deve ter noção de que é um servidor público. E como servidor público deve, por obrigação e não por favor, prestar contas ao seu cidadão.

Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor 

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