Se fosse em Nova York ou atravessando o Oceano Atlântico, na Europa com as elegantes e cultas, França, Itália, Espanha, Alemanha e atravessando a Mancha, Inglaterra com sua imponente Londres, ele seria reverenciado e colocado de corpo inteiro nos jornais e nas revistas de arte de grande circulação como um dos gênios da atualidade. E não me causaria surpresa se alguém dissesse que a arte moderna da reciclagem nesta segunda metade do século XX e princípio do XXI tivessem entre seus maiores expoentes, um brasileiro, piauiense e parnaibano, José de Maria Carvalho e Silva, o Zé de Maria.
Ele mesmo, o Zé de Maria. Aquele sujeito baixinho, cabeça raspada no coco, gago e que quando começa a falar fala mais que um bando de colegiais em ponto de ônibus voltando pra casa ou de mulheres numa banca de peixes na feira de domingo, mereceu em vida e do SESC Avenida em Parnaíba uma exposição com toda a sua criação atual. Em vida, ressalto, porque é muito raro no Brasil se prestarem homenagens ou darem espaço a artistas ainda vivos, principalmente quando são artistas plásticos de vanguarda.
É que no Brasil se tem ainda a infeliz ideia, o preconceito, de que as artes plásticas são pra consumo e deleite de ricos ou essas pessoas metidas a intelectuais do eixo das galerias do Rio de Janeiro e São Paulo. Mas a Parnaíba prova mais uma vez que tem seus talentos e que estes talentos merecem nosso apoio e admiração. A arte feita por nossos criadores precisa ser levada a ser conhecida e respeitada lá fora e aqui dentro pra que possa trazer divisas pro turismo se é que a Parnaíba quer mesmo encarar o turismo como peça da sua atual economia.
A exposição Híbridos Olhares de Zé de Maria está dentro do projeto Miscelânea das Artes e que se encerra nesta quarta-feira dia 30 de julho é direcionada a artistas das mais diferentes linguagens. Percorrer o imenso e rico acervo da exposição na Galeria Carlos Guido no SESC Avenida é viajar pelo que existe de mais surrealista em cada objeto. Zé de Maria sabe e sempre soube ser um artista. Difícil deixar de se admirar na frente de cada peça e imaginar que isto ou aquilo foi feito daquilo que estaria no lixo. Ele trabalha essa questão do reciclado desde muito antes de virar moda e da febre ambientalista.
Conheço Zé de Maria tão logo cheguei em Parnaíba há vinte anos. Ele tinha um restaurante ali na avenida Presidente Vargas, o Sabor e Arte, e já naquele tempo toda a decoração do estabelecimento causava admiração de seus clientes. Mas muita gente não entendia essa vanguarda, esse surrealismo. E ele continuou trabalhando. E dando apoio e cavando espaço pra divulgar os artistas novos, desde músicos, pessoal de teatro e aos artistas plásticos. É um mecenas sem fortuna, mas um mecenas. Cantor, ator, decorador, poeta, designer de moda, tudo junto. Conhecer de perto esse artista que todos nós deveríamos respeitar mais e preservar mais ainda é como abrir as portas de uma galeria de arte.
(*)Pádua Marques é jornalista e escritor
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