Desde que começou esta
Copa do Mundo da FIFA poucos dias atrás que eu ando enxergando umas coisas. Eu
nunca fui muito de dar opinião na vida de ninguém não e cada um que dê suas
cabeçadas, mas eu dessa vez não posso ficar de braços cruzados e com a língua
presa dentro da boca. O Brasil anda, como se diz na linguagem de ponta de
esquina e de dona de casa abandonada pelo marido, se esquecendo de voltar pra
casa, tão logo a bola rolou lá em São Paulo, numa tal de arena Iaquerão naquele
jogo contra a Croácia.
O Brasil tá feito
igualzinho aquele marido que tendo uma reca de filhos pra dar de comer, vestir,
mandar pra escola e dar sossego, sai de casa na sexta-feira pra trabalhar e,
findo o expediente na fábrica, na repartição do governo, no balcão da sapataria
ou da loja de peças, ao invés de voltar pra administrar seus problemas junto
com a mulher vai é dar uma de bacana com os amigos de copo no boteco da esquina
bem perto, se pabulando e falando alto. E pra ser ainda mais irresponsável, de
vez em quando olha pra ver se vê alguém de casa ou conhecido se aproximando. Coisa
de quem está fazendo coisa errada.
O Brasil não tem jeito
mesmo não. A sogra e a mulher reclamam, vivem correndo pra cima e pra baixo
tapando os buracos que ele deixa pela vida, os filhos vivem passando as maiores
privações e ele, o engraçadinho, com aquele tamanho e já embranquecendo os
cabelos não se dá conta de que tem uma montanha de responsabilidades pra dar de
conta. Vive brincando com coisa séria. Qual é, me diga, o futuro dos filhos de
um homem desses? Qual o exemplo que ele dá pra essas crianças? O que estas
crianças vão ser quando crescerem tendo um pai feito ele?
Larga toda a
responsabilidade de marido, pai e de dono de casa pra passar um mês, um mês
inteirinho sim senhor, brincando de jogar bola com uns estrangeiros. Gente que
deu pra conhecer lá pelas andanças nesse mundo perdido. E fica lá pelos
gramados de todos os bairros da cidade junto com os amigos de farra de genebra
dando uma de técnico de futebol e coisa e tal sem se importar ao menos se os
filhos ainda estão vivos! Deixa a família sem um pingo sequer de conforto. Pode
isso não. O Brasil não toma vergonha mesmo. Onde já se viu um homem feito deixar sua economia entrando em colapso, descendo a
barranca no rumo do riacho, os serviços públicos, como sempre, de péssima
qualidade.
Faltam médico e
enfermeiros em hospitais e no pronto socorro, não tem serviço de transporte
público de qualidade, não tem professor nas escolas, não tem água na torneira e
nem energia elétrica que inspire confiança. E o Brasil fica um mês de cara pra
cima na frente da televisão enchendo a casa pequena e de poucos quartos com uma
multidão de amigos que não se sabe a procedência! Se fingindo de rico, mandando
aos gritos os meninos buscar cerveja no boteco enquanto ele fica queimando
carne numa churrasqueira feita de roda de carro e cantando música de pagode.
O Brasil fica um mês
inteiro de junho se pabulando, se escondendo dos devedores, enganado sua
família, falando e se ligando a coisas tão sem importância. E no boteco da
esquina o Brasil vira técnico de futebol, economista, juiz de direito, médico,
professor, advogado, delegado de polícia, padre, o diabo. E se esquece o
Brasil, já revestido de governo, que tem uma família inteira, de norte a sul e
de leste a oeste pra dar atenção. O Brasil é aquele genro que não presta.
Aquele genro que a sogra tá canso de avisar que não é a pessoa certa pra ser
pai dos filhos de sua filha. E dentro de mais um pouco não vê a hora de todo
este tormento acabar.
O Brasil vai voltar pra
casa quando acabar a Copa do Mundo da FIFA, sem dinheiro, sem nada nas mãos,
endividado, de cabeça baixa e feito cachorro com o rabo entre as pernas e ainda
por cima com uma tremenda ressaca. E depois vai ser um tal de, valei-me Deus e
minha Nossa Senhora! Cadê os amigos ricos, os gringos falando línguas e línguas
diferentes? Cadê eles, aqueles que vieram de longe tirar a paz e a serenidade
da casa do Brasil? Cadê esse mar de prosperidade, de empregos e mais empregos? O
Brasil nunca deixou essa mania ordinária de querer ser mais do que podia ser!
Sempre quis na vizinhança, a América do Sul, ser mais e maior do que os outros.
Sempre dando uma de correr na frente. Mesmo que fosse pra mais daqui a pouco
enfiar a cara num poste.
E falando nesse negócio
de correr na frente me lembro que nesse intervalo de Copa do Mundo, enquanto a
bola rola em tudo o que é arena, muita coisa mal feita acabou virando lei e
determinação de Governo. Enquanto o Brasil vibra com os dribles e os gols de
Neymar Júnior muita coisa errada está sendo feita, muita negociata política está
sendo fechada. Muitos os projetos das casas legislativas brasileiras estão
sendo aprovados sem o menor cuidado de análise. E muitos os desempenhos da
economia que estão abaixo das expectativas. O Brasil real, aquele Brasil longe
da bola está nesse exato momento igual um caminhão no atoleiro ou numa
ribanceira durante uma chuva torrencial: quando acabar a gente vai lá e tenta
tirar. Se der deu, se não deu, desce.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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