1 de out. de 2013

NAVEGAR É PRECISO, MUDAR TAMBÉM!

Por Fernando Gomes (*)

Este último final de semana tomei a decisão de me desfiliar do PCdoB e ingressar no PMDB. Não pensei que a repercussão fosse ganhar tantas páginas nos jornais e ocupar os principais blogs da cidade. Muitos elogiaram a mudança. Outros criticaram duramente. É a vida! Tenho maturidade para absorver tudo isso com a mais absoluta naturalidade. Pois, só quem tem a coragem de tomar decisões ditas “arriscadas” pode construir e assumir posições que lhe permita ser feliz dentro de uma perspectiva racional, negando a opção da maioria que fica à mercê do comodismo ou da condição de conforto que atende apenas ao interesse mesquinho e individual.
Tomei a decisão de escrever sobre isso porque alguns “jornalistas”, imbuídos da mais absoluta nitidez, despido de paixões e até mesmo de interesses outros tentam atribuir a mudança a uma atitude que tenta macular minha biografia política. Ora, manchada ela já ficou quando não consegui empreender o projeto ao qual me dediquei e posso assegurar que não foi por falta de desejo, nem esforço pessoais. Esta tentativa foi bloqueada por interesses de um sistema que mantêm os fracos e pessimistas reféns do interesse do grupo dominante no partido. Saí com a convicção de que permanecer para mostrar fidelidade a um estatuto que não é cumprido, é muito pior!
Reitero que a minha decisão foi tomada ouvindo alguns amigos. Mudar de partido não é uma alternativa saudável, porém, conhecendo os arranjos da organização política e não me identificando com essas práticas, vejo que é melhor sair. Se mudar de partido é ruim, creio ser pior permanecer em um partido em que não se tem identificação  com aquilo que acredito e defendo. Não me conformaria em ficar preso a amarras de coisas que não comungo. 
“O PMDB é reacionário”, disseram. O que falar de partidos que se dizem revolucionários, mas que mantêm práticas políticas condenáveis para chegar ao poder e nele permanecer a qualquer custo? Avizinha-se uma eleição e esse debate precisa ganhar os contornos de um mundo real. A utopia se perdeu num tempo em que o guardião da moralidade e da ética dissipou-se como um gás volátil.
Quem fala hoje? A mando de quem? Qual a sua contribuição para a nossa sociedade, além da subserviência aos seus senhores? O discurso usado para o achaque vem da velha estratégia de dominação que tenta manter sob controle a vida das pessoas, eles querem decidir o que deve ter a maioria (sub-emprego, pouca escola, saúde precária, dependência plena) e até os nossos próprios sonhos. Principalmente daqueles que representa ameaça ao confortável poder exercido.
Chico Buarque disse certa vez: “As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem”. Isso nos leva a reflexão da necessidade que se nos impõe de buscar transformar o mundo que nos cerca. Complementarmente, Gandhi nos revela que “Temos de nos tornar na mudança que queremos ver”. Se ali não se encontra o que desejamos e é saudável, vamos até lá e promovemos a mudança.
O fato é que dever-se-ia ter a coragem de enfrentar os desafios e não se deixar homogeneizar pela cultura que se perpetua em todos os níveis de organização social e promove as desigualdades que serve a um modelo de poder que se traveste de ético e justo.
Quero discutir mais é a essência das coisas e não a simples aparência que muitas vezes escamoteia a realidade e transparece atitude fiel e correta. Muito do que já falaram não condiz com a prática cotidiana de quem usa a palavra. A distância entre a fala e a ação parece ser a marca maior da hipocrisia humana.
Como disse uma importante pensadora da sociedade contemporânea, Hanna Arendt: “A ação é a expressão mais nobre da condição humana”. Os homens se definem pôr seu “agir” entre os outros homens, influindo no mundo que os cerca. Esta capacidade de agir em meio à diversidade de ideias e posições é a base da convivência democrática e do exercício da cidadania. Só aí, na pluralidade e na diversidade, é possível desfrutar da liberdade de criar algo novo. Desta forma, o agir humano, é o campo próprio da educação enquanto prática social e política que pretende transformar a realidade. Então, se através de uma participação consciente, temos a possibilidade de mudar as relações, construindo uma sociedade mais justa e igualitária, nem tudo está perdido!


 (*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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