SÃO FRANCISCO E SANTA CLARA E OS APELOS DO PLANETA

Frei Gilberto Siqueira Alves, OFMCap*

Os santos são luzeiros e profetas a romper a inércia e desmotivação evangélica que tanto assaltam nossos corações em meio ao chamado de Deus para correspondermos ao melhoramento espiritual, relacional e social. Não podemos pensar em Francisco e Clara sem associá-los às transformações da cidade de Assis na Itália do século XIII. Provaram com a força do testemunho que o sentido do serviço aos necessitados e a busca da pobreza franciscana podem ser internalizados segundo as orientações da Sagrada Escritura. Tudo isso vem confirmar a presença de Cristo em Francisco que não faz acepção de pessoas, credo, cultura, língua, etc.

Não teria sentido para Francisco cuidar de seus irmãos e irmãs na fé se não fosse zeloso com a natureza, obra amorosa do Sumo Deus. Essa postura o colocou na prudente ligação do espiritual com as mazelas humanas, “... a conversão de Francisco é bem mais do que uma simples mudança espiritual, é uma escolha de vida social.” [1] Francisco soube manifestar o agradecimento ao Deus Criador dos seres animados e inanimados no belíssimo Cântico das Criaturas. Com seu ar de poeta do Altíssimo, diz: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas especialmente o senhor irmão sol, o qual é dia, e por ele nos iluminas. Ele é belo e radiante com grande esplendor, de ti, Altíssimo, traz o significado.” [2] Defender a vida eis uma das muitas virtudes desses dois santos mestres, Francisco e Clara, que melhoraram a intimidade das pessoas com Deus através do cuidado com o planeta terra, nossa casa de convivência e subsistência também das futuras gerações.

Defender a vida é também a bandeira do cristão devoto de Francisco e Clara. Quando lançamos olhar sobre a situação do planeta, vem à mente o descaso e exploração das potencialidades e bens ofertados pela irmã e mãe terra que nos sustenta e aquece! Já falava Francisco no auge de sua espiritualidade do cuidado.

O desrespeito ao planeta terra não conhece limites: a luta desigual e gananciosa para retirar as riquezas minerais; os lençóis freáticos sendo poluídos pela falta de projeto sustentável; a negligência com as gerações que povoarão o nosso planeta terra; o desrespeito à dignidade e sacralidade da vida humana, sobretudo, em países que vivem em guerras; as inúmeras vítimas de catástrofes da natureza. A reação violenta da natureza [3] seria o planeta terra pedindo “basta” na maneira de o homem explorar inconsequentemente as riquezas naturais? A terra não nos pertence, enquanto posse! O cuidado responsável com a mãe terra, pura dádiva de Deus, é questão de sobrevivência. Repercute dentro de nós o apelo do respeito à criação. Desse modo deixaremos excelente legado para as gerações sobre o zelo contínuo.

Passados VIIII séculos de existência desses dois santos, que o povo nunca esquece e os ama, somos convocados a multiplicar, no hoje de nossa história, o amor aos seres criados por Deus que tanto esses nossos pais espirituais souberam viver e amar loucamente. A causa que eles defenderam se torna questão de sobrevivência e bem-estar para nossos futuros irmãos e irmãs. Deus conta conosco; abracemos com carinho a missão confiada a cada um de nós por uma vida digna.

*Vigário da Paróquia São Sebastião / Parnaíba-PI.

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[1] MANSELLI, Raoul. São Francisco. Petrópolis, Vozes, 1997, p. 68.

[2] FONTES FRANCISCANAS E CLARIANAS. Petrópolis, Vozes, 2004, p. 104.

[3] “Não há unanimidade na comunidade científica a respeito das causas destas mudanças climáticas a que assistimos. Para alguns, apesar das grandes emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs), estas alterações são resultantes de um processo natural do planeta, enquanto grande parcela as relaciona com as atividades empreendidas pelo ser humano após a implementação do atual sistema de produção.” (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Campanha da Fraternidade, 2011: texto-Base. Brasília, Edições CNBB. 2010 p. 15).