O juiz Willmann Izac Ramos Santos,
da 1ª Vara Criminal da Comarca de Parnaíba, recebeu, na terça-feira (25), a
denúncia do Ministério Público do Piauí contra Maria dos Aflitos Silva e Francisco de Assis Pereira da Costa,
pelos crimes de oito homicídios qualificados e três tentativas de homicídios
qualificados. Os crimes foram cometidos contra membros da própria família dos
acusados e uma amiga da família, por meio de envenenamento, com o uso de
pesticida "terbufós", conhecido como "chumbinho". As
vítimas incluem crianças e adultos, com idades que variam de 3 a 41 anos. Os
homicídios ocorreram em 22 de agosto de 2024, 1º de janeiro e 22 de janeiro de
2025.
A denúncia foi apresentada pela 5ª Promotoria de Justiça de
Parnaíba, com o promotor Silas Sereno Lopes à
frente do caso. O magistrado determinou que os acusados sejam citados e
apresentem sua resposta à acusação dentro do prazo legal. Entre as vítimas
fatais estão crianças como João Miguel Silva (7 anos), Ulisses Gabriel Silva (8
anos), Manoel Leandro da Silva (18 anos) e Maria Lauane Fontinele Lopes Silva
(3 anos), além de adultos como Francisca Maria Silva (32 anos), Maria Gabriele
Silva (4 anos), Lívia Maria Leandra Silva (17 anos) e Jhonatan Nalbert Pereira
da Silva (7 anos). Também foi
Maria dos Aflitos Silva e Francisco de Assis Pereira da
Costa
Indiciamento da Polícia Civil
A Polícia Civil de Parnaíba concluiu o inquérito policial que
investigava o envenenamento coletivo de oito pessoas e indiciou a matriarca da
família, Maria dos Aflitos da Silva, e seu companheiro, Francisco de Assis
Pereira da Costa, pelos crimes de homicídio, tentativa de homicídio, fraude
processual e denunciação caluniosa. Conforme a Polícia Civil, Maria dos Aflitos
e Francisco de Assis agiram de modo premeditado e meticuloso para dar cabo à
vida dos membros da família, começando com as mortes de João Miguel da Silva (7
anos), em 28 de agosto de 2024, e Ulisses Gabriel da Silva (8 anos), em 10 de
novembro de 2024. As duas crianças passaram mal em Parnaíba e foram internadas
no Hospital de Urgência de Teresina (HUT), mas não resistiram.
Francisco de Assis foi indiciado pela Polícia Civil por cinco
crimes diferentes: fraude processual, quatro homicídios triplamente
qualificados com aumento de pena de 1/3 a metade, três feminicídios com aumento
de pena de 1/3 a metade, duas tentativas de feminicídios com aumento de pena de
1/3 a metade e uma tentativa de homicídio triplamente qualificado com aumento
de pena de 1/3 a metade. Já Maria dos Aflitos foi indiciada por cinco crimes:
denunciação caluniosa, quatro homicídios triplamente qualificados com aumento
de pena de 1/3 a metade, quatro feminicídios com aumento de pena de 1/3 a
metade, duas tentativas de feminicídios com aumento de pena de 1/3 a metade e
uma tentativa de homicídio triplamente qualificado com aumento de pena de 1/3 a
metade. A combinação do controle obsessivo de Francisco de Assis e a cegueira
emocional de Maria dos Aflitos não parou por aí. A investigação revelou que
Francisco de Assis tinha um profundo desprezo pelos filhos e netos de Maria, a
ponto de controlar rigidamente os alimentos da casa, o que causava episódios de
fome entre os familiares. Documentos encontrados indicam que ele tinha uma
obsessão por ideais nazistas e por substâncias tóxicas, como o terbufós, que
foram utilizadas para matar os integrantes da família em janeiro de 2025, seis
meses após as duas primeiras mortes.
Prisão de Lucélia
Com as mortes de João Miguel Silva (7 anos) e Ulisses Gabriel
Silva (8 anos), após ingerirem alimentos contaminados, a família das vítimas,
incluindo a mãe das crianças, Francisca Maria da Silva, e a avó, Maria dos
Aflitos, inicialmente acusaram a vizinha Lucélia Maria da Conceição. Durante a
busca em sua residência, foi encontrado terbufós, o veneno utilizado nos
envenenamentos, o que resultou na prisão preventiva de Lucélia. No entanto,
após novas mortes na família, a situação tomou outro rumo e Lucélia foi solta
seis meses depois.
O almoço de Ano Novo e novas mortes em sequência
Em 1º de janeiro de 2025, nove membros da família passaram mal
após um almoço de baião de dois. Cinco morreram nos dias seguintes: Manoel
Leandro da Silva (18 anos), Igno Davi da Silva (1 ano e 8 meses), Maria Lauane
da Silva (3 anos), Francisca Maria da Silva (32 anos) e Maria Gabriela da Silva
(4 anos). Inicialmente, Maria dos Aflitos e Francisco de Assis tentaram
transferir a culpa para peixes, mas exames toxicológicos revelaram que o veneno
estava no baião de dois, preparado na noite de 31 de dezembro. A investigação
apontou que Maria dos Aflitos e Francisco de Assis foram os únicos acordados
naquela noite e que o veneno foi introduzido na comida na madrugada de 1º de
janeiro. Francisco de Assis, cujas versões mudaram várias vezes, pode ter sido
contaminado de forma dérmica ao manusear o veneno.
A morte de Jocilene e a confissão de Maria dos Aflitos
Em 22 de janeiro, Maria Jocilene da Silva, vizinha de Maria dos
Aflitos, morreu após ingerir café na casa da suspeita. Maria dos Aflitos
inicialmente tentou encobrir o caso, alegando que Jocilene teve um infarto, mas
a perícia encontrou traços de terbufós no copo da vítima. Após ser presa, Maria
dos Aflitos confessou que matou Jocilene para "libertar" seu
companheiro Francisco, preso por envolvimento nos envenenamentos. Ela alegou
estar "cega de amor" por ele, acreditando que, ao eliminar pessoas
próximas a ele, conseguiria manter o relacionamento. Com a conclusão do
inquérito e o indiciamento de Maria dos Aflitos e Francisco de Assis, o
relatório final foi remetido ao Ministério Público, que deverá oferecer
denúncia à Justiça contra o casal.(GP1)