Há cerca de uma semana,
mais ou menos, o secretário de Planejamento, Cezar Fortes e o vice-governador
Antonio José de Moraes Sousa Filho promoveram aqui em Parnaíba um encontro
sobre perspectivas de crescimento econômico e social, o “2050: O Piauí que a
Gente Quer”, pra elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável, o PDES. Então
eu recordo de em 2010 uma matéria muito interessante escrita pra revista
Histórica, do IHGGP tratando sobre este tema.
Lamentavelmente esta
edição não chegou a ser publicada por falta de recursos, mas agora eu faço
questão de que todos leiam este artigo-matéria e daí possam fazer suas
observações. Esta matéria foi feita dentro de uma pesquisa exaustiva em jornais
da época. Muitos assuntos hoje tidos e havidos como de vanguarda pro desenvolvimento
do Piauí já eram alardeados e dados como certos. Pra se vê que não mudou muita
coisa desde então. O artigo começa
assim:
“Na década de 1970 o
Piauí teve nas mãos todos os equipamentos técnicos e políticos pra se
desenvolver e não o fez. Aliás, fez pouco ou quase nada. Esta falta de
experiência e ambição ou as duas coisas juntas o deixaram mais uma vez num
estágio atrasado dentro do Nordeste, bem diferente de seus vizinhos, o Ceará,
Pernambuco e a Bahia, que souberam tirar proveitos do governo militar de 1964 e
atualmente estão pelo menos a grandes passos no desenvolvimento.
Toda esta mudança
ocorreria em 1975 quando deixou o governo do Piauí o engenheiro Alberto Silva e
assumiu no seu lugar o médico Dirceu Mendes Arcoverde, da região de Picos, um
político praticamente desconhecido na região norte, até então a mais
desenvolvida economicamente. Naquele tempo a indicação do governador era
indireta, quer dizer, uma indicação natural de quem estava no poder ou com
afinidades com o Movimento de 31 de Março.
O Piauí teve dezenas e
até centenas de oportunidades pra se desenvolver mais que suficientes, mais até
que outros estados. Era ministro da Secretaria de Planejamento da Presidência
da República o economista piauiense João Paulo dos Reis Veloso, natural de
Parnaíba, e Alberto Silva fora indicado pelos coronéis cearenses pra governar o
Piauí, baseados na sua capacidade empreendedora como engenheiro de uma empresa
de energia elétrica, no final da década de 1960.
O novo governador,
Dirceu Arcoverde, imprimiu vontade própria tão logo entrou no Palácio de
Karnak. Praticamente queria apagar as marcas do padrinho político e antecessor
e deixar as suas. E assim o fez. Mas política à parte, o Piauí iniciava um
período delicado na sua fraca economia porque estava agora desafinado com a
ideologia dos militares, sendo presidente o general Ernesto Geisel. Na
prefeitura de Parnaíba estava o emedebista Elias Ximenes do Prado, que havia
derrotado o candidato de Alberto Silva, o arenista e deputado estadual
Francisco das Chagas Ribeiro Magalhães.
O ano mais turbulento
daquela década foi o de 1976 quando se realizaram as eleições pra prefeito. E
foi neste período que as oportunidades do Piauí e de Parnaíba começaram a
desaparecer. Dentro do panorama econômico de investimentos o Piauí iniciava
assistindo e atravessando um período de escassez. O porto de Amarração em Luiz
Correia, um sonho de mais de um século dependia agora da liberação de Cr$330
milhões pra o início das obras.
A Companhia Brasileira
Hidráulica havia vencido a concorrência e os recursos dependiam somente de Reis
Veloso, piauiense e parnaibano. No setor industrial era anunciado que a Fosca
Indústria e Comércio, empresa paulista, único fabricante de fosfato bicálcico
no Brasil havia mostrado interesse de explorar as jazidas deste mineral
existente no Piauí. Na indústria salineira, a ESNISA, Empresa Salineira e de
Navegação Igoronhon, estabelecida em Tutóia, no Maranhão, anunciava a
necessidade de contratar 600 homens pra trabalhos braçais.
A Associação Comercial
de Parnaíba, dirigida pelo empresário Marc Jacob, defendia a construção do
porto de Amarração como peça pra atender a expectativa que se abria com a
descoberta de jazidas de fosfato em Castelo do Piauí e São João da Serra. A
produção seria algo suficiente pra ocupar 165 navios por ano, segundo cálculos
do secretário de Indústria e Comércio, Bernardino Viana. O Banco do Nordeste do
Brasil autorizava crédito de Cr$ 43,8 milhões pra compra de 105 tratores, duas
perfuratrizes e outros implementos pro setor primário em Piripiri, Parnaíba,
Campo Maior, Floriano, Canto do Buriti, São João, Bom Jesus e Corrente.
Ainda naquele ano de
1976 era criada em Parnaíba a Cooperativa dos Produtores de Cera de Carnaúba do
Norte do Piauí, com o objetivo de congregar e estimular a produção desta
cultura extrativista. Enquanto isso em Tutóia, no Maranhão, era realizada pela
Eletrobrás a primeira experiência brasileira em larga escala pro aproveitamento
da energia solar e eólica. Estudos do BNB mostravam que o Piauí deveria criar
nos anos seguintes 90 mil empregos com renda anual de Cr$ 3 bilhões. Na região
norte estava sendo esperada a visita de executivos do Banco Econômico. Havia a
perspectiva de se abrir uma agência deste banco em Buriti dos Lopes, município
grande produtor de arroz.