Inevitavelmente à medida que se aproxima o pleito
eleitoral de 2016 as conversas vão sendo tomadas pelo tema da sucessão
municipal de Parnaíba. Fala-se em alguns nomes que aqui evito citar, mas quero
fazer uma provocação maior: qual é o plano desses pré-candidatos? Qual é
a discussão que travam para trabalhar em favor da cidade e da sua gente? Eles
já ocuparam cargo público? O que fizeram em favor do povo?
Poucos
nomes figuram até agora. A verdade é que faltam nomes. Faltam nomes bons e
planos que zelem pelo bem comum. Um fenômeno aponta que poucos novos líderes se
formaram ao longo da história parnaibana. Notadamente alguém das ditas famílias
tradicionais ou por elas apontadas chegaram ao poder.
Nas últimas décadas tivemos os casos de
Zé Hamilton e Florentino Neto, onde o primeiro não tinha expressão nenhuma ao
ponto de ascender à chefia do Executivo, mas foi o escolhido por Mão Santa, prefeito
da época, como seu candidato à sucessão, contrariando algumas lideranças do
grupo. Zé Hamilton foi vitorioso e logo no início do mandato rompeu com o seu
mentor, tornando-se o seu algoz até hoje.
Florentino Neto, avesso à política como
ele mesmo sempre fez questão de dizer, intitulou-se como técnico, tem uma história
política parecida, jamais seria eleito a nada não fosse o apadrinhamento de Zé
Hamilton. Este o colocou como seu vice-prefeito de 2009 a 2012 e em seguida
elegeu-o prefeito para o mandato até 2016. O que há de comum nessas histórias?
Como o poder se instalou com nomes que jamais se elegeriam sós? Qual o seu
legado? A “criatura” se voltará contra o seu “criador” novamente?!
Em comum a força política dos gestores
que, estando no poder, portanto, com a “máquina administrativa” patrocinaram
tais projetos. Soma-se a isso a falta de credibilidade da política que afasta
muita gente boa da possibilidade de envolvimento com as causas coletivas no
âmbito do processo eletivo.
O legado? Este é marcado pela distância
dos interesses da sociedade, pela falta de controle e de participação social,
politicagem barata e diversas denúncias de mau uso do dinheiro público. Governos
medíocres que usurparam o poder com acintoso uso da máquina pública leia-se o
processo de eleição e reeleição dos dois. Sim, pois o atual prefeito usa toda a
força dela buscando repetir o seu mandato.
Seus governos foram falhos e como gestores
não devem nada aos líderes tradicionais que se locupletaram do cargo para
agirem em benefício próprio. Não cito a mesma corrupção d’antes, voraz e
desmedida. Mas, sem dúvida fizeram uso de mecanismos não lícitos para chegar ou
permanecer no poder.
Afinal distribuir cargos comissionados a
apoiadores é ou não corrupção?! Beneficiar empresas e prestadores de serviços
pelo critério de pertencer ao grupo político seria lícito?! Qual a diferença
entre embolsar o dinheiro para engordar a conta bancária pessoal e usar o
erário para promover a manutenção do poder? A rigor, é a mesma coisa. Corrupção
é corrupção e caracteriza-se como a raiz de todos os males.
Fala-se de um rompimento entre os dois. Estão
descontentes, “criatura” e “criador”, mas nada que seja motivado pela inércia
dos serviços públicos. Tudo no plano dos seus projetos políticos pessoais. A razão
e a pauta da união nunca foi o bem-estar social. Igualmente, se romperem não
será pela cidade!
O atual modelo político-administrativo
é um fracasso retumbante: milhares de pessoas estão em condições de subnutrição
e outras tantas vivem na miséria. Todas à espera de um “governo” que promova o
bem-estar. Não há uma política pública emancipatória, quando muito se apoia no
“Bolsa Família”. Esmola!
Perdoem-me os pobres de espírito e
dependentes de migalhas do poder público que, pagos indevidamente, não aceitam esta
crítica como justa, necessária e útil à sociedade e à gestão pública. À
sociedade, pelo despertar à reflexão de alguns temas. E, à gestão pública, pela
ferramenta que se poderia tornar caso os administradores pensassem de fato na
coletividade.
Não exige muito da
nossa capacidade de raciocínio se voltar os olhos há um pouco mais de meio
século atrás, quando o notável Aldous Huxley embasou seu trabalho “Regresso ao Admirável Mundo Novo” a partir dos fatos documentados da
época, dos estudos e descobrimentos psicanalíticos e científicos, da evolução
industrial, da ascensão tecnológica, do pós-guerra, das análises sociológicas,
derivados do século XX e da cultura ocidental, e isso tudo no ano de 1959, ano
de lançamento do livro.
Neste livro, o autor
defende a necessidade de a raça humana educar-se em liberdade, antes que seja
muito tarde. Aldous Huxley expõe-nos os
aspectos da vida moderna de forma irônica, faz análises sobre os limites da
desumanização e do artificialismo a que poderia chegar a sociedade capitalista
tecnológica.
O autor mostra os meios e processos de uma evolução
da forma milenar do "pão e circo", utilizada por imperadores romanos,
em favor de um poder supostamente democrático para manipular e conduzir o povo.
Entre os métodos citados, estão: o uso do poder da sugestão, que pode ser da forma
branda usada no marketing ou da forma traumática, usada nas ditaduras, ou o
fornecimento da "felicidade" através do sexo livre, conforto,
comodidade da sociedade de consumo, além das diversões baratas e fugas da
realidade por meio das drogas. Qualquer semelhança com os dias atuais terá sido
mera coincidência...
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e
contribuinte parnaibano.