Convidado que fui pelo
pessoal da Sociedade Amigos da Marinha, entidade daqui de Parnaíba, neste final
de semana pra um passeio pelo delta do Parnaíba, não deixei o convite sem
resposta e atendi na hora. Fazia tempo que andava medindo aqui e mais acolá
esta possibilidade de conhecer de perto aquele fenômeno da Geografia e que o
Edilson Morais Brito ali na agência dele na beira do rio Igaraçu não se cansa
de gabar como o terceiro no mundo e único das três Américas. A América do
Norte, a de cima e dos ricos, formada pelo Canadá, Estados Unidos e pelo
México.
Depois vem a América
Central e o Caribe com sua República Dominicana, Haiti e a ilha de Cuba. Esta, feito
casa de marimbondo e espinha de manjuba na garganta do Barack Obama. Depois vem
a Guatemala, Honduras, Costa Rica, Panamá e a Nicarágua, já encostando à
Venezuela. É a América Central, a dos pobres, dos lascados e pra finalizar com
a coisa vem a América do Sul, a de alguns falsos ricos, dos, como se diz em linguagem
de esquina, a América dos metidos a importantes e entre eles estão Argentina,
Chile, Venezuela, Uruguai, Paraguai, Equador, Bolívia, Colômbia e o maior de
todos eles o Brasil.
Mas eu ali naquela manhã
de sol forte a ponto de queimar o quengo dentro daquela embarcação e na
companhia dos muitos e queridos amigos da SOAMAR fiquei observando aquele
tantão de água descendo no rumo do mar e que a cada minuto que passava ia
aumentando mais. E tinha hora que o rio Parnaíba ficava ele e o mar brincando
de queda de corpo feito menino de antigamente. E era aquele siribolo danado de
um passar por cima do outro, cada um mostrando destreza e força. Essa coisa que
muito tempo depois os japoneses vieram dizer pela televisão que foram eles que
inventaram há milhões e milhões de ano. Calcule.
E vendo aquele enorme
caminho de água do rio indo se juntar com as águas do mar mais à frente eu
fiquei pensando enquanto me segurava no banco daquela embarcação como ainda é
difícil de entender como é que com tanta água no mundo, pelo menos aqui neste
pedaço do Piauí, ainda certamente havia naquele exato momento muitas e muitas
famílias de Parnaíba sem uma gota sequer na torneira lá pelos bairros João
XXIII, Raul Bacelar, Planalto Monserrate, Betânia, Dirceu Arcoverde, Reis
Veloso, Piauí, Morada da Universidade. E
eu ali vendo o Igaraçu se torcendo feito uma cobra na areia quente me larguei a
pensar.
Não me entra no
entendimento como é que esta Parnaíba, que já tem shopping center do Freitas
Neto e da Cristina Miranda na avenida São Sebastião e vai ter outro do Paulo Guimarães no
Catanduvas , tem linha aérea da Azul três vezes na semana, tem milhares de
estudantes universitários, largas e boas avenidas pra circulação de veículos e
de pedestres, afora algumas situações ruins que a gente dá até pra esquecer por
um instante, mas ainda deixa boa parte de sua população sem uma gota de água
pra se passar na cara pela manhã quando se coloca os pés dentro das havaianas.
Pode isso não.
Agora diante de uma
situação como essa dá pra imaginar o que esperam estas quase mil famílias que
acabam de receber as chaves de suas casas na região do Joaz Sousa daqui pra
mais uns dias. Da mesma forma que outros conjuntos habitacionais que foram e
que serão instalados estes dois da zona oeste devem dentro de mais alguns dias
começar um padecimento com a falta de água. Eu me questiono se a AGESPISA não
deve ter previsto, planejado há muito tempo que Parnaíba estava crescendo e que
estaria recebendo nos próximos anos uma quantidade muito grande de famílias,
empreendimentos comerciais e industriais e que necessitavam da oferta de seus
serviços.
Voltamos pra terra
firme no cais da Capitania dos Portos e pertencente à Marinha do Brasil depois
de um passeio maravilhoso ao lado de pessoas interessantes, alegres, influentes
e bem informadas. Mas me entristeceu saber que naquele exato momento centenas
de famílias com suas donas de casa estavam passando as maiores privações por
falta de água na torneira. Uma coisa tão simples. Água. E ali naquele passeio
vendo aquela água do rio indo ao encontro da água do mar e sem serventia
nenhuma fiquei foi triste. Igual quando se vê nalgum latão de lixo aqueles
restos de comida que ainda dariam pra matar a fome de muita gente.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor