21 de jun. de 2014

Agora eu sei onde está escondida a água.



Convidado que fui pelo pessoal da Sociedade Amigos da Marinha, entidade daqui de Parnaíba, neste final de semana pra um passeio pelo delta do Parnaíba, não deixei o convite sem resposta e atendi na hora. Fazia tempo que andava medindo aqui e mais acolá esta possibilidade de conhecer de perto aquele fenômeno da Geografia e que o Edilson Morais Brito ali na agência dele na beira do rio Igaraçu não se cansa de gabar como o terceiro no mundo e único das três Américas. A América do Norte, a de cima e dos ricos, formada pelo Canadá, Estados Unidos e pelo México.
Depois vem a América Central e o Caribe com sua República Dominicana, Haiti e a ilha de Cuba. Esta, feito casa de marimbondo e espinha de manjuba na garganta do Barack Obama. Depois vem a Guatemala, Honduras, Costa Rica, Panamá e a Nicarágua, já encostando à Venezuela. É a América Central, a dos pobres, dos lascados e pra finalizar com a coisa vem a América do Sul, a de alguns falsos ricos, dos, como se diz em linguagem de esquina, a América dos metidos a importantes e entre eles estão Argentina, Chile, Venezuela, Uruguai, Paraguai, Equador, Bolívia, Colômbia e o maior de todos eles o Brasil.
Mas eu ali naquela manhã de sol forte a ponto de queimar o quengo dentro daquela embarcação e na companhia dos muitos e queridos amigos da SOAMAR fiquei observando aquele tantão de água descendo no rumo do mar e que a cada minuto que passava ia aumentando mais. E tinha hora que o rio Parnaíba ficava ele e o mar brincando de queda de corpo feito menino de antigamente. E era aquele siribolo danado de um passar por cima do outro, cada um mostrando destreza e força. Essa coisa que muito tempo depois os japoneses vieram dizer pela televisão que foram eles que inventaram há milhões e milhões de ano. Calcule.

E vendo aquele enorme caminho de água do rio indo se juntar com as águas do mar mais à frente eu fiquei pensando enquanto me segurava no banco daquela embarcação como ainda é difícil de entender como é que com tanta água no mundo, pelo menos aqui neste pedaço do Piauí, ainda certamente havia naquele exato momento muitas e muitas famílias de Parnaíba sem uma gota sequer na torneira lá pelos bairros João XXIII, Raul Bacelar, Planalto Monserrate, Betânia, Dirceu Arcoverde, Reis Veloso, Piauí, Morada da Universidade.  E eu ali vendo o Igaraçu se torcendo feito uma cobra na areia quente me larguei a pensar.
Não me entra no entendimento como é que esta Parnaíba, que já tem shopping center do Freitas Neto e da Cristina Miranda na avenida São Sebastião e  vai ter outro do Paulo Guimarães no Catanduvas , tem linha aérea da Azul três vezes na semana, tem milhares de estudantes universitários, largas e boas avenidas pra circulação de veículos e de pedestres, afora algumas situações ruins que a gente dá até pra esquecer por um instante, mas ainda deixa boa parte de sua população sem uma gota de água pra se passar na cara pela manhã quando se coloca os pés dentro das havaianas. Pode isso não.
Agora diante de uma situação como essa dá pra imaginar o que esperam estas quase mil famílias que acabam de receber as chaves de suas casas na região do Joaz Sousa daqui pra mais uns dias. Da mesma forma que outros conjuntos habitacionais que foram e que serão instalados estes dois da zona oeste devem dentro de mais alguns dias começar um padecimento com a falta de água. Eu me questiono se a AGESPISA não deve ter previsto, planejado há muito tempo que Parnaíba estava crescendo e que estaria recebendo nos próximos anos uma quantidade muito grande de famílias, empreendimentos comerciais e industriais e que necessitavam da oferta de seus serviços.

Voltamos pra terra firme no cais da Capitania dos Portos e pertencente à Marinha do Brasil depois de um passeio maravilhoso ao lado de pessoas interessantes, alegres, influentes e bem informadas. Mas me entristeceu saber que naquele exato momento centenas de famílias com suas donas de casa estavam passando as maiores privações por falta de água na torneira. Uma coisa tão simples. Água. E ali naquele passeio vendo aquela água do rio indo ao encontro da água do mar e sem serventia nenhuma fiquei foi triste. Igual quando se vê nalgum latão de lixo aqueles restos de comida que ainda dariam pra matar a fome de muita gente.

Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor 

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