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"O Bembem" - Benjamin Santos |
Quando a notícia da doação chegou à PHB foi notícia de alvíssaras. Alegrou todo mundo, até mesmo pela curiosidade. Os livros revelam a personalidade dos seus donos. É aquela conversa de que “dize-me o que lês e eu te direi que és”. O senador da República Francisco das Chagas Caldas Rodrigues declarou a seus filhos (Almira, Teresa, Conceição e José Alexandre) seu desejo de que toda a sua biblioteca fosse doada à Parnaíba. No caso “Parnaíba” significa o povo da Parnaíba, os peagabês que hoje vivem na cidade em que ele nasceu e àqueles que virão depois dos de hoje. A curiosidade era simples: o que lia Chagas Rodrigues, que livros comprava, quando leu cada um deles, como lia, fazia anotações de pé de página, riscava, sublinhava. Afinal, o que interessou, durante 60 anos, ao leitor Chagas Rodrigues. É o que precisamos saber: quais livros adquiriu desde que era jovem na cidade, quando se tornou governador, deputado e senador. Logo depois da notícia de doação, os livros chegaram à PHB diretamente ao prefeito, em 2009, quatro meses depois da morte do senador. Chegaram ao prefeito, autoridade máxima da administração da PHB. E livros necessitam de administração. Como se sabe agora, todos os volumes vieram já devidamente catalogados, prontos para ocupar estantes e ficarem disponíveis ao público-leitor.
O primeiro boato foi de os livros seriam levados para a antiga Estação de Trem da Parnaíba, lugar sagrado ainda restante da primitiva ferrovia do Piauí. Para isso, desmontaram a Exposição Permanente do Museu do Trem, ali instalado. E foi caso de extrema rejeição na cidade. Tirar do seu lugar próprio algo que havia sido colocado pelo prefeito anterior seria mais um ato de implicações politiqueiras tão comuns ainda na cidade. Desistiu-se então de desfazer-se do Museu como museu, cujas peças voltaram para lá, embora sem qualquer conceito museológico.
E os livros doados pelo senador?
Em 2010, o vice-prefeito Florentino Veras declarou a Benjamim Santos, editor deste jornais, que a Prefeitura iria doar toda a Biblioteca Chagas Rodrigues ao Campus Universitário da Parnaíba. Mesmo assim nada foi feito.
Até hoje os livros continuam encaixotados num canto da sala de reunião do gabinete do prefeito. É desperdício de tempo; o tempo que passa sem que se conheça os livros. Ou será que alguém pensa que esses livros nos foram enviados para que a família se livrasse deles, como de entulho? Não se pode pensar assim a respeito de livros. Uma brochura ou um capa-dura, por mais que demore, sempre encontra o seu leitor perfeito.
E por que a idéia de doá-los à riquíssima Universidade Federal. Lá, ficarão encerrados em sala que só os acadêmicos visitam. A Biblioteca Chagas Rodrigues precisa de lugar próprio, seu, dentro de sua cidade. A Universidade é Federal; não é “da Parnaíba”. Qualquer reitor, num frêmito súbito, pode levá-los para Teresina ou qualquer outro lugar... e adeus. Os Livros do Senador, agora, são da Parnaíba. Precisam estar disponíveis para leitura em uma sala da cidade. Se há alguma inteiramente disponível é no andar superior do Instituto Histórico. Há sala vazia e apropriada. Basta que venham os caixotes e algumas estantes. Se a prefeitura não tiver dinheiro para comprar mesas e cadeiras e um computador, o próprio Instituto pode resolver isso, por mais que demore ou que seja difícil.
Uma sala no Instituto Histórico com a Biblioteca Chagas Rodrigues é ideal. É o perfil do Instituto. Há ventilação. Há luminosidade natural. Há visão de telhados da Velha Parnaíba... e há sobretudo silêncio. Em caso de nova situação difícil no Instituto, seus membros saberão vencê-la, como acabaram de fazer.
Atenção, Prefeitura da Parnaíba: o Instituto Histórico está pronto para receber os Livros do Senador. Basta oferecer ao seu presidente atual, Reginaldo Junior. Além do mais, foi na Rua Duque de Caxias que Chagas Rodrigues viveu sua infância e sua juventude. A casa dos seus pais ainda está lá, sempre linda, quase em frente à pracinha Coronel Osório. Atenção: nem há muito o que pensar. O povo precisa desses livros.
Editorial do jornal O Bembém, 41, de maio, 2011.