A gente quando morre vira
retrato. Esta máxima vale mais do que nunca para o que está acontecendo e
vai certamente acontecer com a história da Parnaíba, cidade que muitos
intitulam como “o berço da civilização e da cultura piauiense”,
mas que vem nas últimas décadas tratando mal sua memória, principalmente a escrita.
Tenho repetido isso várias vezes em conversas reservadas ou abertas com
meus companheiros do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de
Parnaíba e com os estudantes do curso de História da UESPI que fazem
pesquisas no acervo daquela instituição. Esta falta de material de
referência, principalmente do século XX, este que acabou de acabar, vai
nos fazer muita falta dentro de mais alguns anos.
Como na vida vale é o que está escrito, os futuros historiadores se
sentirão sem material que indique daqui a 30 ou 40 anos, como era a vida
dos parnaibanos, das suas necessidades, os movimentos, a sociedade
organizada e a desorganizada, as conquistas e os problemas como a falta
de água, energia elétrica, escolas, reclamações desta ou daquela ordem,
enfim, o cotidiano, o que faz uma cidade ser cidade. Dentro da
comunicação, Parnaíba não tem há tempos nenhum jornal, onde pela lógica é
contada a vida de seus habitantes.
Sabemos que tem muita gente que tem guardada para seu prazer e egoísmo
parte desta memória e que não tem a mínima vontade de passar para
historiadores, pesquisadores leigos, estudantes ou os curiosos. Isto
representa uma mesquinhez sem precedentes e no futuro vai prejudicar e
muito a educação, a cultura, a administração pública e outros segmentos
que necessitam de material de referência para suas pesquisas.
A experiência mostra que, para a pesquisa histórica o papel ainda é e
continuará sendo o grande depósito de registro. É prático, tem validade e
não necessita de equipamento sofisticado para ser manuseado. Tem lá
suas inconveniências, pois com o tempo pode ser consumido pela traça ou o
cupim ou se rasgar. Mas o equipamento eletrônico é mais inconveniente,
perecível, se deixado sem atualização. De nada adianta, por exemplo, ter
um acervo de filmes ou de documentos antigos se não forem recuperados
em CD ou DVD.
Agora voltando sobre a mesquinhez de muitas pessoas em Parnaíba de
manterem nas suas bibliotecas e dentro de baús documentos e registros
históricos importantes, isso realmente é muito ruim para a memória
futura da cidade. Gente que não mostra, não empresta, não deixa tirar
cópia, não dá e nem vende por
dinheiro
nenhum deste mundo. Prefere deixar para o cupim e a traça comerem.
Quando morre, no outro dia ou uma semana depois, passada a choradeira, a
empregada coloca tudo na calçada para ser levado pelo lixeiro.
Antonio de Pádua Marques Silva/proparnaiba.