23 de nov. de 2010

O risco de se perder a memória

A gente quando morre vira retrato. Esta máxima vale mais do que nunca para o que está acontecendo e vai certamente acontecer com a história da Parnaíba, cidade que muitos intitulam como “o berço da civilização e da cultura piauiense”,
mas que vem nas últimas décadas tratando mal sua memória, principalmente a escrita.
Tenho repetido isso várias vezes em conversas reservadas ou abertas com meus companheiros do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba e com os estudantes do curso de História da UESPI que fazem pesquisas no acervo daquela instituição. Esta falta de material de referência, principalmente do século XX, este que acabou de acabar, vai nos fazer muita falta dentro de mais alguns anos.
Como na vida vale é o que está escrito, os futuros historiadores se sentirão sem material que indique daqui a 30 ou 40 anos, como era a vida dos parnaibanos, das suas necessidades, os movimentos, a sociedade organizada e a desorganizada, as conquistas e os problemas como a falta de água, energia elétrica, escolas, reclamações desta ou daquela ordem, enfim, o cotidiano, o que faz uma cidade ser cidade. Dentro da comunicação, Parnaíba não tem há tempos nenhum jornal, onde pela lógica é contada a vida de seus habitantes.
Sabemos que tem muita gente que tem guardada para seu prazer e egoísmo parte desta memória e que não tem a mínima vontade de passar para historiadores, pesquisadores leigos, estudantes ou os curiosos. Isto representa uma mesquinhez sem precedentes e no futuro vai prejudicar e muito a educação, a cultura, a administração pública e outros segmentos que necessitam de material de referência para suas pesquisas.
A experiência mostra que, para a pesquisa histórica o papel ainda é e continuará sendo o grande depósito de registro. É prático, tem validade e não necessita de equipamento sofisticado para ser manuseado. Tem lá suas inconveniências, pois com o tempo pode ser consumido pela traça ou o cupim ou se rasgar. Mas o equipamento eletrônico é mais inconveniente, perecível, se deixado sem atualização. De nada adianta, por exemplo, ter um acervo de filmes ou de documentos antigos se não forem recuperados em CD ou DVD.
Agora voltando sobre a mesquinhez de muitas pessoas em Parnaíba de manterem nas suas bibliotecas e dentro de baús documentos e registros históricos importantes, isso realmente é muito ruim para a memória futura da cidade. Gente que não mostra, não empresta, não deixa tirar cópia, não dá e nem vende por dinheiro nenhum deste mundo. Prefere deixar para o cupim e a traça comerem. Quando morre, no outro dia ou uma semana depois, passada a choradeira, a empregada coloca tudo na calçada para ser levado pelo lixeiro.

Antonio de Pádua Marques Silva/proparnaiba.

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