Por:Pádua Marques(*)
Nessa semana foi entregue ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria Geral da República uma relação de nomes de políticos com ou sem mandato que foram beneficiados com generosas quantias em dinheiro do esquema de corrupção na maior empresa estatal brasileira, a Petrobrás. Dinheiro que serviu entre outras coisas pra financiamento de campanhas e suas variações, coisas que somente políticos entendem e sabem como funcionam.
E a relação de gente de Brasília e nos Estados que está envolvida ao que parece não deve ser pequena não. Têm senadores, ex-presidentes da República, deputados federais, deputados estaduais, prefeitos, ex-governadores, governadores, enfim, gente influente e bem vestida e sobre quem o cidadão comum, esse cidadão que paga energia elétrica e gasolina pelos preços mais exorbitantes jamais imaginaria que fosse. Esses mesmos políticos que estiveram um dia na sua porta pedindo votos e logo em seguida, depois de eleitos ou não meteram o pé na carreira com as burras cheias.
Todo esse rito de entrega dos documentos pelo procurador-geral Rodrigo Janot ao ministro relator, Teori Zavascki e a partir daí o que deve e pode ser feito me lembra de uma parte de minha infância muito saudosa e querida: minha mãe na ponta da enorme mesa da nossa cozinha catando feijão pra “botar no fogo”, como ela mesma dizia. Pra aqueles que têm pouca vivência com os costumes antigos essa expressão significa preparar o almoço e não como se poderia imaginar hoje entre essa gente do facebook, jogar os caroços nas brasas.
Mas aquele rito silencioso de minha mãe, assim como de tantas mães ainda vivas ou passadas pra eternidade vai se repetir agora pelas mãos de um homem culto e doutor de leis, o ministro Zavascki. Ele vai passar dias e mais dias, noites e mais noites debruçado em cima de pilhas e pilhas de documentos tentando achar pistas e provas pra depois de uns meses dar um parecer sobre quem tem responsabilidade criminal em um dos maiores escândalos políticos no Brasil e que envolve até a raiz da unha o partido da presidente Dilma e seus aliados.
Quem nunca viu alguém catando feijão mire nessa figura. É um trabalho de muita paciência e concentração. Os olhos concentrados e as mãos ainda mais firmes de minha mãe iam catando aqueles caroços. Uns podres aqui, alguns murchos acolá, outros defeituosos mais à frente e dentro de um tempo estavam separados os bons dos ruins. Depois vinha a lavagem pra dali a pouco irem pra panela com os ditos temperos. A água era derramada e aqueles caroços podres, às vezes cheios de gorgulhos, pela gravidade, vinham à tona.
Novamente a mão de minha mãe e a agora perícia do ministro Zavascki voltam à cena. Aqueles caroços que relutaram em permanecer escondidos dando umas de espertos serão retirados finalmente da bacia e jogados fora. Assim será, esperamos todos, a cata, a retirada dos políticos ruins do meio dos bons. Os bons vão pra panela e servirão ao almoço da família enquanto os podres, murchos, gorgulhentos e defeituosos vão pra o lixo e o esquecimento das urnas.
(*)Pádua Marques é escritor e jornalista