BRASÍLIA - Repasses do Ministério das Relações Exteriores (MRE) para algumas representações diplomáticas brasileiras no exterior atrasaram, levando a situações como corte de água e luz. Mensagens trocadas por servidores da pasta, e reveladas pelo jornal "Folha de S.Paulo", mostram a situação dessas representações, como a de Benin na África. O Itamaraty confirmou a veracidade das mensagens, mas disse que os recursos referentes ao mês de dezembro foram liberados na quarta-feira, após o processamento de repasse financeiro do Tesouro.
As mensagens mostram também problemas em Tóquio (Japão), Lisboa (Portugal), Hartford (Estados Unidos) e Guiana. Foram enviados telegramas ao Itamaraty reportando as dificuldades pelas quais essas representações diplomáticas estavam passando devido ao atraso dos repasses. Segundo a "Folha de S.Paulo", está faltando dinheiro até mesmo para comprar papel para impressoras e pagar a internet.
A pior situação é em Benin. A embaixada no país também é responsável por auxiliar os brasileiros que estão no Níger, país vizinho de maioria muçulmana onde houve uma onda de protestos contra o jornal satírico francês “Charlie Hebdo” pela publicação de cartuns sobre o profeta Maomé. Dezenas de igrejas, inclusive duas presbiterianas brasileiras, foram incendiadas.
Segundo a "Folha de S.Paulo", o encarregado de negócios em Benin, João Carlos Falzeta Zanini, informou o Itamaraty na última terça-feira que a embaixada brasileira no país tinha apenas US$ 83 em caixa. O fornecimento de energia foi cortado e o gerador desligado. Em sua residência, ele diz que está usando velas e lanternas, e que às vezes toma banho de caneca, já que a bomba de água quebrou e falta dinheiro para consertá-la. Outro problema relatado pro Zanini, segundo o jornal, é o risco de malária, doença endêmica no país. O diplomata afirmou que o ar-condicionado é "poderoso inibidor" do mosquito que transmite a doença, mas, sem energia, não é possível ligá-lo.
Segundo o jornal, outros telegramas enviados por servidores do Itamaraty ao ministério mostram atraso no pagamento de contas em Tóquio, com risco de interrupção de serviços de internet, telefonia e eletricidade. Em Lisboa, a conta de luz também não tinha sido paga, mas a energia ainda não havia sido cortada. Na Guiana, o risco de corte do serviço de internet era iminente. Em Hartford, nos Estados Unidos, os serviços de internet, telefonia, TV a cabo e o alarme da residência tinha sido interrompidos havia 40 dias. A tinta e o papel da impressora estavam perto do fim, enquanto os materiais de limpeza já tinham acabado.
As reclamações contra as restrições orçamentárias do ministério e as condições de trabalho são comuns dentro do Sinditamaraty, sindicato que representa os servidores da pasta. O Sinditamaraty soltou nota em seu site nesta quarta-feira criticando as condições de trabalho dos funcionários da pasta.
"A exiguidade de pessoal, pela privação do órgão de realizar concursos públicos, a falta de uma política de valorização de pessoal que preveja reenquadramento salarial (o salário pago aos servidores do MRE é bastante inferior ao pago aos demais servidores públicos federais), a garantia de pagamento de adicional noturno e dos adicionais de insalubridade, periculosidade e penosidade, e adicional de serviço extraordinário, todos estes fatores desestimulam a permanência dos servidores e a regular lotação do órgão, principalmente no exterior, em representações localizadas em países considerados de sacrifício como os com surto de doenças endêmicas, em guerra, com instabilidade política, com grande número de cidadãos brasileiros, etc", diz trecho da nota.
O texto começa exaltando a atuação da oficial de chancelaria Ana Carmen Leal Barbosa Caldas, lotada na embaixada na Indonésia e que foi responsável por reconhecer o corpo do brasileiro Marco Archer, executado no país no fim de semana após ser condenado por tráfico de drogas. Segundo o Sinditamaraty, ela é a única servidora que não é diplomata na representação brasileira na Indonésia. Assim acaba sobrecarregada de tarefas, o que, de acordo com o Itamaraty, "é a realidade dos servidores públicos federais do Serviço Exterior Brasileiro".
Em 9 de janeiro, o Sinditamaraty enviou ofício ao ministro recém-empossado, Mauro Vieira, solicitando uma audiência para apresentar a pauta de reivindicações para 2015 e 2016. Na ocasião, não detalhou que reivindicações seriam essas. ( colaborou Eduardo Bresciani).
Fonte: Agência o Globo