Por: Pádua Marques(*)
Toda essa presepada envolvendo a Petrobrás, seus principais executivos, a presidente Dilma Rousseff e a presidente da estatal, Graça Foster, de proporções do tamanho de um trem siberiano carregado com toras de carvalho e que a cada hora se evidencia mais e mais gente de dentro e de fora na molecagem, me lembra neste momento de um utensílio muito especial que tem de ter em casa de qualquer família no Nordeste, onde pelo menos tem um pé de caju, o caco de assar castanha.
Pois é com esta cara e com todos os requisitos e utilidades que passo a ver a outrora maior e mais importante estatal brasileira, orgulho de muitos de seus trabalhadores e da própria população, principalmente quando há muitos anos sabia do seu desempenho. Agora não. Está empestada de tudo em quanto não presta. Mais mal falada do que mulher de ponta de rua, se é que na atual conjuntura social ainda existe mulher da vida. O rombo e o roubo é coisa de milhões de dólares que nem se compara a outros tantos escândalos já passados na casca da história recente. A Petrobrás está infestada de ladrão.
E não é coisa de ladrão pequeno não, desses ladrõezinhos de telefone celular na praça da Graça nem de bolsa de professora aposentada em fila da Caixa Econômica não. É roubo de coisa grande. Dá pra comprar umas cem parnaibas e outros quinhentos buritis dos lopes e levar na mesma sacola. Mas pra encurtar caminho e conversa que o espaço é pouco vou adiantar essa semelhança da Petrobrás com o caco de assar castanha. Pra os mais urbanizados da atualidade é um negócio feito de lata de querosene jacaré, mas pode ser de bacia velha, churrasqueira, botijão de gás ou até um pedaço de carcaça de boleia de caminhão.
Serve como o nome já diz, pra assar castanhas de caju, antes secas ao sol e que misturadas com farinha de mandioca vão ao pilão pra depois dar uma paçoca daquelas, das melhores. Essa gastronomia internacional ainda tem muito é que aprender com nós! Mas caco de assar castanha quem tem um, tem ciúmes. Ninguém gosta de emprestar caco de assar castanha porque com certeza ele nunca mais volta. Fica o ano inteiro que Deus dá jogado no sol e na chuva, pelos cantos, no fundo do quintal onde ninguém nem passa perto. Mas nem pense que vai ser fácil conseguir um emprestado!
Mas na época de safra de caju, ganha relevo. É a figura de casa mais solicitada, ganha até sobrenome. Vá pedir o caco de assar castanha de dona fulana ou de seu sicrano de tal. Os de casa mandam logo um menino ir buscar e limpar o caco pra depois de aceso o fogo ganhar um assento entre as trempes. Depois aquela cena de procurar uma vara de tamanho médio pra ir mexendo, mas tendo o cuidado pra que algumas delas não saltem fumegantes no rumo da gente. E vendo as castanhas pegando fogo dentro daquele negócio dá pra imaginar a Petrobrás neste momento.
Realmente é uma cena dos diabos ver um caco de assar castanha em atividade. Dá pra naquela coisa tão pequena e tão doméstica imaginar o que deve ser o Inferno com todos aqueles que um dia fizeram o mal na Terra. Umas já torradas, outras soltando óleo, mais outras pelas beiradas ainda sapecadas, mais no meio algumas chochas já virando carvão e aquela catinga de óleo empestando tudo, a pele, os cabelos, a roupa, a casa e até a vizinhança. E os meninos de calções encardidos ficam ali na esperança de que alguém se descuide pra roubarem umas ou duas castanhas que depois irem quebrar e comer ás
escondidas.
Mas a cena mais terrível e ao mesmo tempo engraçada é a hora de se tirar o caco de cima das trempes feitas de bandas de tijolos. Uns se afastando com medo de queimaduras, outros mais afoitos jogando areia pra apagar o fogo. E o caco de assar castanha ali na dele, feito a Petrobrás neste momento, com aquela crosta gordurosa e que ninguém quer agora pegar, depois de ser usado vai esfriando até ser esquecido. No ano que vem com a nova carga de cajus ele volta a ser útil.
(*)Pádua Marques é escritor e jornalista