Por: Pádua Marques(*)
Pouca gente ficou
sabendo neste domingo, dia 21 de dezembro, da morte de uma das mais
emblemáticas figuras do carnaval de rua parnaibano na década de 1960, o quase
centenário ferroviário aposentado Joaquim Costa, o Simpatia, criador das
excêntricas fantasias Casa da Roça, Bloco do Urso, Casinha da Marambaia,
Chiquita Bacana e a mais famosa de todas, a Zebra. Quando um dia se escrever
esta história certamente ele não deve ficar de fora com sua irreverência e
criatividade, principalmente pra quem tem hoje mais de 60 anos.
Vendia água numa
carroça puxada por uma burra, a Mariquita e depois a Simpatia, de quem herdou o
apelido que lhe deu respeito e fama na casa de gente importante do hoje centro
histórico, as famílias Samuel Santos, Mirócles e Edgar Veras, doutor Geremias,
Mariano Sousa, Leônidas de Castro Melo Sobrinho, Walterdes Sampaio, professor
José Rodrigues e Silva e o juiz Salmon Lustosa, entre outras. E sempre assobiando,
a forma, o marketing pra atrair clientes novos.
Simpatia foi sem dúvida
o pioneiro na arte de levar pra avenida as fantasias mais interessantes e que
faziam a alegria de toda a criançada. Sua história de vida tem início em
Piripiri. Rapazinho ainda, foi trabalhar na inspetoria do DNOCS e um dia,
chamado pelo diretor pra executar uma obra no Maranhão recebeu a proposta de se
mudar pra Estrada de Ferro Central do Piauí. De Barão de Grajaú veio pra
Parnaíba, onde a ferrovia era administrada por Darcy Mavignier. Começou na
manutenção de trilhos colocando dormentes, foi também graxeiro na linha entre
Parnaíba e Piripiri, contínuo e finalmente vigilante quando se aposentou aos 35
anos de serviços.
Joaquim Costa, o
Simpatia, teve quatro esposas e filhos a perder de conta. Com a última, dona Helena, de quem ficou
viúvo há poucos anos, teve seis. Morava ultimamente numa casa da pacata Samuel
Santos, entre a Guarita e o Pindorama. Na primeira e única vez que estivemos
juntos, pra uma antológica reportagem da revista Histórica, do IHGGP, ele aos
94 anos me desafiou a memória falando todos os nomes de antigos colegas de
trabalho: Raimundo Rasga, Palanqueta, Luiz Cabaça, Joélio, Leiteirinho, Ição,
Zé Luiz, Belota, Maranguape, Mundico Olho de Bomba, Chico Gerônimo, João
Pergentino, João Pretinho, Afonso, Luiz Pirulito e Manuel do Bonde. A lista era
imensa.
No final da década de 1950
depois de muitos anos de trabalho teve direito a uma licença prêmio e foi
conhecer a nova capital do Brasil. Lá passou oito meses e aproveitou pra ganhar
algum dinheiro. Vendeu mexerica na feira, foi apontador de obras e dono de bar.
E foi nessa última ocupação que acabou fazendo amizade com a clientela de
senadores e deputados. Certa vez entraram uns deputados e pediram bebida.
Simpatia, que sempre gostou muito de assobiar acabou chamando a atenção deles.
Perguntado de onde era, respondeu que era de Parnaíba. Caiu a sopa no mel.
Os deputados passaram a
noite inteira elogiando Parnaíba. Os deputados ficaram sabendo da sua
necessidade de voltar pra sua terra. Prometeram mundos e fundos inclusive pagar
sua passagem de avião, uma regalia pra época. Mas simpatia, que sempre foi
muito desconfiado com promessas de políticos, não esperou. Veio mesmo foi por
sua conta, de pau-de-arara, numa viagem que durou dezesseis dias.
(*)Pádua Marques é escritor e jornalista
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