22 de dez. de 2014

Simpatia, o descanso merecido do grande folião.

Por: Pádua Marques(*)

Pouca gente ficou sabendo neste domingo, dia 21 de dezembro, da morte de uma das mais emblemáticas figuras do carnaval de rua parnaibano na década de 1960, o quase centenário ferroviário aposentado Joaquim Costa, o Simpatia, criador das excêntricas fantasias Casa da Roça, Bloco do Urso, Casinha da Marambaia, Chiquita Bacana e a mais famosa de todas, a Zebra. Quando um dia se escrever esta história certamente ele não deve ficar de fora com sua irreverência e criatividade, principalmente pra quem tem hoje mais de 60 anos.
Vendia água numa carroça puxada por uma burra, a Mariquita e depois a Simpatia, de quem herdou o apelido que lhe deu respeito e fama na casa de gente importante do hoje centro histórico, as famílias Samuel Santos, Mirócles e Edgar Veras, doutor Geremias, Mariano Sousa, Leônidas de Castro Melo Sobrinho, Walterdes Sampaio, professor José Rodrigues e Silva e o juiz Salmon Lustosa, entre outras. E sempre assobiando, a forma, o marketing pra atrair clientes novos.
Simpatia foi sem dúvida o pioneiro na arte de levar pra avenida as fantasias mais interessantes e que faziam a alegria de toda a criançada. Sua história de vida tem início em Piripiri. Rapazinho ainda, foi trabalhar na inspetoria do DNOCS e um dia, chamado pelo diretor pra executar uma obra no Maranhão recebeu a proposta de se mudar pra Estrada de Ferro Central do Piauí. De Barão de Grajaú veio pra Parnaíba, onde a ferrovia era administrada por Darcy Mavignier. Começou na manutenção de trilhos colocando dormentes, foi também graxeiro na linha entre Parnaíba e Piripiri, contínuo e finalmente vigilante quando se aposentou aos 35 anos de serviços.
Joaquim Costa, o Simpatia, teve quatro esposas e filhos a perder de conta.  Com a última, dona Helena, de quem ficou viúvo há poucos anos, teve seis. Morava ultimamente numa casa da pacata Samuel Santos, entre a Guarita e o Pindorama. Na primeira e única vez que estivemos juntos, pra uma antológica reportagem da revista Histórica, do IHGGP, ele aos 94 anos me desafiou a memória falando todos os nomes de antigos colegas de trabalho: Raimundo Rasga, Palanqueta, Luiz Cabaça, Joélio, Leiteirinho, Ição, Zé Luiz, Belota, Maranguape, Mundico Olho de Bomba, Chico Gerônimo, João Pergentino, João Pretinho, Afonso, Luiz Pirulito e Manuel do Bonde. A lista era imensa.
No final da década de 1950 depois de muitos anos de trabalho teve direito a uma licença prêmio e foi conhecer a nova capital do Brasil. Lá passou oito meses e aproveitou pra ganhar algum dinheiro. Vendeu mexerica na feira, foi apontador de obras e dono de bar. E foi nessa última ocupação que acabou fazendo amizade com a clientela de senadores e deputados. Certa vez entraram uns deputados e pediram bebida. Simpatia, que sempre gostou muito de assobiar acabou chamando a atenção deles. Perguntado de onde era, respondeu que era de Parnaíba. Caiu a sopa no mel.

Os deputados passaram a noite inteira elogiando Parnaíba. Os deputados ficaram sabendo da sua necessidade de voltar pra sua terra. Prometeram mundos e fundos inclusive pagar sua passagem de avião, uma regalia pra época. Mas simpatia, que sempre foi muito desconfiado com promessas de políticos, não esperou. Veio mesmo foi por sua conta, de pau-de-arara, numa viagem que durou dezesseis dias. 

(*)Pádua Marques é escritor e jornalista

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