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Pádua Marque
Jornalista e Escritor
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Nesta segunda-feira dia
9 de junho quem esteve na Câmara Municipal para acompanhar a sessão ordinária
deve ter saído de lá com aquela sensação de quem, assim como eu e muitos de
meus amigos de infância, saía daqui do Macacal nos idos de 1970 pra assistir a
um jogo lá no Catanduvas, uma região naquela época considerada perigosa e que só
ia lá quem tinha negócio tal a fama de um time de futebol, salvo engano o
Botafogo. Se não for este o nome do dito cujo que me valha nesta hora de
aflição enciclopédica o Batista, hoje presidente do Parnahyba e ao que me
consta ainda morador pras bandas de lá.
Este time era formado,
e a fama corria pelos cinco cantos do mundo, pela valentia e resistência física
de seus jogadores, todos recrutados no que havia de melhor na região. Era, com
licença da palavra e sem qualquer intenção de preconceito, cada toba de negro
que mais pareciam aqueles tanques de guerra americanos que invadiram o Iraque
pra derrubar o Sadam Hussein. E aí saía daqui do bairro de Fátima ou da Guarita
uns camaradas magrinhos, acostumados a pouca lida pra enfrentar dentro de campo
aqueles homens, cada taca de negro mais forte que outro.
Não dava outra. Era
rolar a bola e esperar o destroço. Se por uma infelicidade os donos de casa
estivessem em desvantagem no placar era dado um jeito pra que houvesse um
arranjo decisivo do juiz favorecendo o time nativo. Ademais porque o campo de
futebol era feito aquelas aldeias lá pros lados de Mato Grosso. Ficava no
centro da aldeia rodeada de casinhas de taipa cobertas de palha. Aqui e ali
alguma ou outra de tijolo e coberta de telha. Mas isso era coisa rara. E se
algum jogador do time visitante desse uma de desentendido de quem detinha o
mando de campo, esse camarada e todos os seus colegas estavam era lascados.
O resto era conforme
estou aqui descrevendo. E toda a torcida era formada pelas mulheres, filhos,
netos, namoradas e daqueles jogadores, que quando era época de São João saíam a
brincar o bumba-meu-boi. Alguém era doido de tirar uma gracinha que fosse com
alguma das várias moças presentes ao estádio? Alguém era doido de mesmo
perdendo achar que o juiz era ladrão? Passou pela cabeça de alguém achar que
aquela marcação foi errada? Com aqueles camaradas magrinhos, saídos do Macacal
e já lá chegados ao Catanduvas mais bêbados que uma porca? Ninguém era doido!
Por dê cá esta palha
havia uma briga e aí o jogo estava encerrado. Bastava pouca coisa pra
contrariar os brios dos donos da casa e da aldeia. Era coisa de olhar pro juiz
com a cara feira ou cuspir no rumo pra donde estavam as mulheres dos donos da
bola pra que a água do caranguejo entornasse. E quantas e quantas vezes time
daqui da Parnaíba não saiu do Catanduvas debaixo de pedra batendo com o pé na
bunda. Depois era coisa de muita negociação. Coisa de chamar até monsenhor
Roberto pra retirar aqueles que não puderam sair e lá ficaram feitos reféns,
fossem velhos, homens feitos e até meninos. Tentasse pra ver.
Hoje este cenário de há
mais de 50 anos não existe mais mesmo porque nem há mais time de subúrbio e nem
há mais aqueles negros valorosos no Catanduvas, trabalhadores braçais,
catadores de caranguejo, carvoeiros, remanescentes dos mucambos do Testa
Branca, enfim, uma população que a Parnaíba muito deve, mas que pouco tem feito
por ela. Mas voltando ao cenário da Câmara Municipal desta segunda-feira dia 09
de junho, todo mundo que lá estava ficou se apertando nas cadeiras e dentro das
calças. O vereador Bernardo Rocha questionou um projeto de lei de seu colega
Gustavo Lima, já votado e aprovado sobre a denominação do estádio municipal,
aqui perto de casa.
Este estádio, que até
está desativado e já nem tem mais os refletores, levou o apelido de Mão Santa,
uma homenagem ao antigo prefeito de Parnaíba, médico, governador e senador. Mas
Gustavo Lima teve aprovado projeto de lei denominando de Pedro Alelaf o
estádio, que a torcida azulina também chama de Piscinão do Tubarão. Bernardo
Rocha embora tenha sido um dos vereadores que assinou o projeto veio com outra
conversa passado um final de semana. Aí embolou o meio de campo. Pra encurtar
caminho igual se fazia pra se chegar ao campo do Botafogo: a discussão entre os
dois vereadores ficou azeda e causou até tremedeira naqueles que estavam nas
galerias. Igual quando ia assistir jogo no Catanduvas.
Por Pádua Marque
Jornalista e Escritor