14 de jun. de 2014

Chutando o pau da trave.

Pádua Marque
Jornalista e Escritor 
Nesta segunda-feira dia 9 de junho quem esteve na Câmara Municipal para acompanhar a sessão ordinária deve ter saído de lá com aquela sensação de quem, assim como eu e muitos de meus amigos de infância, saía daqui do Macacal nos idos de 1970 pra assistir a um jogo lá no Catanduvas, uma região naquela época considerada perigosa e que só ia lá quem tinha negócio tal a fama de um time de futebol, salvo engano o Botafogo. Se não for este o nome do dito cujo que me valha nesta hora de aflição enciclopédica o Batista, hoje presidente do Parnahyba e ao que me consta ainda morador pras bandas de lá.
Este time era formado, e a fama corria pelos cinco cantos do mundo, pela valentia e resistência física de seus jogadores, todos recrutados no que havia de melhor na região. Era, com licença da palavra e sem qualquer intenção de preconceito, cada toba de negro que mais pareciam aqueles tanques de guerra americanos que invadiram o Iraque pra derrubar o Sadam Hussein. E aí saía daqui do bairro de Fátima ou da Guarita uns camaradas magrinhos, acostumados a pouca lida pra enfrentar dentro de campo aqueles homens, cada taca de negro mais forte que outro.
Não dava outra. Era rolar a bola e esperar o destroço. Se por uma infelicidade os donos de casa estivessem em desvantagem no placar era dado um jeito pra que houvesse um arranjo decisivo do juiz favorecendo o time nativo. Ademais porque o campo de futebol era feito aquelas aldeias lá pros lados de Mato Grosso. Ficava no centro da aldeia rodeada de casinhas de taipa cobertas de palha. Aqui e ali alguma ou outra de tijolo e coberta de telha. Mas isso era coisa rara. E se algum jogador do time visitante desse uma de desentendido de quem detinha o mando de campo, esse camarada e todos os seus colegas estavam era lascados.
O resto era conforme estou aqui descrevendo. E toda a torcida era formada pelas mulheres, filhos, netos, namoradas e daqueles jogadores, que quando era época de São João saíam a brincar o bumba-meu-boi. Alguém era doido de tirar uma gracinha que fosse com alguma das várias moças presentes ao estádio? Alguém era doido de mesmo perdendo achar que o juiz era ladrão? Passou pela cabeça de alguém achar que aquela marcação foi errada? Com aqueles camaradas magrinhos, saídos do Macacal e já lá chegados ao Catanduvas mais bêbados que uma porca? Ninguém era doido!
Por dê cá esta palha havia uma briga e aí o jogo estava encerrado. Bastava pouca coisa pra contrariar os brios dos donos da casa e da aldeia. Era coisa de olhar pro juiz com a cara feira ou cuspir no rumo pra donde estavam as mulheres dos donos da bola pra que a água do caranguejo entornasse. E quantas e quantas vezes time daqui da Parnaíba não saiu do Catanduvas debaixo de pedra batendo com o pé na bunda. Depois era coisa de muita negociação. Coisa de chamar até monsenhor Roberto pra retirar aqueles que não puderam sair e lá ficaram feitos reféns, fossem velhos, homens feitos e até meninos. Tentasse pra ver.
Hoje este cenário de há mais de 50 anos não existe mais mesmo porque nem há mais time de subúrbio e nem há mais aqueles negros valorosos no Catanduvas, trabalhadores braçais, catadores de caranguejo, carvoeiros, remanescentes dos mucambos do Testa Branca, enfim, uma população que a Parnaíba muito deve, mas que pouco tem feito por ela. Mas voltando ao cenário da Câmara Municipal desta segunda-feira dia 09 de junho, todo mundo que lá estava ficou se apertando nas cadeiras e dentro das calças. O vereador Bernardo Rocha questionou um projeto de lei de seu colega Gustavo Lima, já votado e aprovado sobre a denominação do estádio municipal, aqui perto de casa.
Este estádio, que até está desativado e já nem tem mais os refletores, levou o apelido de Mão Santa, uma homenagem ao antigo prefeito de Parnaíba, médico, governador e senador. Mas Gustavo Lima teve aprovado projeto de lei denominando de Pedro Alelaf o estádio, que a torcida azulina também chama de Piscinão do Tubarão. Bernardo Rocha embora tenha sido um dos vereadores que assinou o projeto veio com outra conversa passado um final de semana. Aí embolou o meio de campo. Pra encurtar caminho igual se fazia pra se chegar ao campo do Botafogo: a discussão entre os dois vereadores ficou azeda e causou até tremedeira naqueles que estavam nas galerias. Igual quando ia assistir jogo no Catanduvas.

Por Pádua Marque
Jornalista e Escritor 

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