Numa
comunidade da Índia as pessoas são levadas a acreditar que a vida tem um outro
momento após esta breve passagem terrena. Passado esse momento, eles podem
evoluir para o “paraíso”, o “céu”, um local onde se vive eternamente. Nesse
espaço há um guardião, o “São Pedro” que fica de prontidão a receber as pessoas
e permitir ou não a sua entrada no local sagrado. Diz-se que o guardião faz
apenas duas perguntas a quem chega lá: a primeira, “onde você esteve você foi
feliz?” e a segunda, “na busca dessa felicidade você fez outras pessoas
felizes?”. Nisto reside todo o sentido da vida humana: a busca da felicidade e
que esta busca não seja carregada pelo individualismo, pelo egoísmo.
Portanto,
o ser humano busca a felicidade. Mas, o que é felicidade? Provavelmente, cada pessoa que resolver responder a esta pergunta
apresentará uma resposta própria, pois a felicidade, num certo sentido, é algo
individual, pessoal e intransferível. Por outro lado, há uma ideia de
felicidade que pertence ao senso comum e é compartilhada pela esmagadora
maioria das pessoas: felicidade é ter saúde, amor, dinheiro suficiente, etc.
Além disso, a ideia de felicidade não é uma coisa recente. Com certeza, ela
acompanha o ser humano há muito tempo e faz parte de sua história.
A obra de Heródoto “A
história” que é a obra mais antiga da história do ocidente há relato sobre
Croesus, rei da Lydia que durante diálogo com o sábio Sólon demonstrou a
central preocupação com a felicidade (eudaimonia). O substantivo eudaimonia consiste
na junção do prefixo eu(bom) e damon (deus,
demônio, espírito) representando a ideia central de Sólon de que a vida
dependia do destino, sendo uma grande parcela determinada pelos deuses. Croesus
afirmava ser feliz por não lhe faltar nenhuma posse (bens materiais). Sólon argumentava, por sua vez, que só era
possível atribuir o adjetivo “feliz” após a análise de toda a vida de uma
pessoa, ou em outras palavras, após a morte.
Um defendia uma felicidade
medida em momentos e por meio de avaliação objetiva, enquanto o outro na
avaliação total da vida e por meio da demonstração de valores subjetivos.
Enquanto que um apontava que a vida podia ser conquistada em posses, o outro
defendia que os acasos da vida seriam cruciais para fazer alguém feliz.
O filósofo grego Sócrates (469 a.C./399 a.C.)
deu novo rumo à compreensão da ideia de felicidade, postulando que ela não se
relacionava apenas à satisfação dos desejos e necessidades do corpo, pois, para
ele, o homem não era só o corpo, mas, principalmente, a alma. Assim, a
felicidade era o bem da alma que só podia ser atingido por meio de uma conduta
virtuosa e justa.
Felicidade do latim felicitas é
também definida como estado de satisfação plena e global de todas as tendências
humanas. Entre os gregos, a busca da felicidade como vinculada a procura do bem
supremo e da virtude. Aristóteles enxergou a felicidade como “a atividade de
alma dirigida pela virtude”, ou seja, pelo exercício da virtude, e não da
simples posse.
Epicuro enunciava que a vida feliz é
impossível sem a sabedoria, honestidade e justiça (que são em verdade
inseparáveis). Ser feliz é necessariamente o desejo de todo ser racional porém
finito sendo, segundo Kant, inevitável um princípio determinante da faculdade
de desejar Bachelard ainda apontou que “para sermos felizes, precisamos pensar
na felicidade do outro”.
Bertrand Russel foi um dos raros
filósofos a defender a noção de felicidade em obra de caráter popular
intitulada “A conquista da felicidade” em 1930 e aponta o tradicional conceito
de felicidade, uma condição indispensável que é a multiplicidade dos
interesses, das relações do homem com as coisas e com os outros homens,
portanto a eliminação do egocentrismo, do fechamento em si mesmo e nas paixões
pessoais.
O filósofo iluminista Immanuel Kant (1724/1804), na obra “Crítica da razão
prática” definiu a felicidade como “a condição do ser racional no mundo, para
quem, ao longo da vida, tudo acontece de acordo com o seu desejo e vontade”. Kant criticou os
conceitos dados para a felicidade, nos sentidos que fazem dela um objeto da
razão pura.
Adolf Huxley em sua obra “Brave
New World” retratou que o medo de ser infeliz é peso que atormenta.
Responder a questão sobre o que é necessário para ser feliz é o manancial para
haver vários livros, programas, propagandas, filmes que efusivamente evocam o
tema.
A falta de clareza em expressar no
que consiste a felicidade, a torna fonte quase inesgotável de ponderações e polêmicas.
Mas, não podemos assumir ou antever que a sociedade contemporânea seja sombria
ou pessimista apenas por conta da carência de felicidade.
O caminho verdadeiro da felicidade
pode ser resumido em fugir da opinião alheia, o que significa não aceitar por
aceitar as suas determinações e ser menos o que os outros querem que você seja
e mais ou totalmente aquilo que você acha que deve ser procurar a felicidade em
si mesmo e não no mundo exterior, pois só a própria razão pode conhecer o
melhor para o indivíduo, e saber lidar com os incontroláveis acontecimentos do
destino, para sofrer o menos possível e reconhecer e aproveitar o máximo dos
bons eventos que se apresente.
Desta forma, Sêneca define a
felicidade enquanto um bem sólido e localizável não muito distante, negando a
ideia de que esta seja aparente e inacessível. A felicidade estaria mais nas
coisas simples, o que é preciso antes de tudo é o olhar para si, ou seja, o
definidor da felicidade. Sem medo de ser feliz, dever-se-ia buscar realizar os
seus sonhos. Sem medo, pois o medo segue os nossos sonhos!
(*)
Fernando Gomes, sociólogo, cidadão, eleitor e contribuinte parnaibano.