14 de out. de 2013

O MEDO SEGUE OS NOSSOS SONHOS! (*)



Numa comunidade da Índia as pessoas são levadas a acreditar que a vida tem um outro momento após esta breve passagem terrena. Passado esse momento, eles podem evoluir para o “paraíso”, o “céu”, um local onde se vive eternamente. Nesse espaço há um guardião, o “São Pedro” que fica de prontidão a receber as pessoas e permitir ou não a sua entrada no local sagrado. Diz-se que o guardião faz apenas duas perguntas a quem chega lá: a primeira, “onde você esteve você foi feliz?” e a segunda, “na busca dessa felicidade você fez outras pessoas felizes?”. Nisto reside todo o sentido da vida humana: a busca da felicidade e que esta busca não seja carregada pelo individualismo, pelo egoísmo.
Portanto, o ser humano busca a felicidade. Mas, o que é felicidade? Provavelmente, cada pessoa que resolver responder a esta pergunta apresentará uma resposta própria, pois a felicidade, num certo sentido, é algo individual, pessoal e intransferível. Por outro lado, há uma ideia de felicidade que pertence ao senso comum e é compartilhada pela esmagadora maioria das pessoas: felicidade é ter saúde, amor, dinheiro suficiente, etc. Além disso, a ideia de felicidade não é uma coisa recente. Com certeza, ela acompanha o ser humano há muito tempo e faz parte de sua história.
A obra de Heródoto “A história” que é a obra mais antiga da história do ocidente há relato sobre Croesus, rei da Lydia que durante diálogo com o sábio Sólon demonstrou a central preocupação com a felicidade (eudaimonia). O substantivo eudaimonia consiste na junção do prefixo eu(bom) e damon (deus, demônio, espírito) representando a ideia central de Sólon de que a vida dependia do destino, sendo uma grande parcela determinada pelos deuses. Croesus afirmava ser feliz por não lhe faltar nenhuma posse (bens materiais). Sólon argumentava, por sua vez, que só era possível atribuir o adjetivo “feliz” após a análise de toda a vida de uma pessoa, ou em outras palavras, após a morte.
Um defendia uma felicidade medida em momentos e por meio de avaliação objetiva, enquanto o outro na avaliação total da vida e por meio da demonstração de valores subjetivos. Enquanto que um apontava que a vida podia ser conquistada em posses, o outro defendia que os acasos da vida seriam cruciais para fazer alguém feliz.
O filósofo grego Sócrates (469 a.C./399 a.C.) deu novo rumo à compreensão da ideia de felicidade, postulando que ela não se relacionava apenas à satisfação dos desejos e necessidades do corpo, pois, para ele, o homem não era só o corpo, mas, principalmente, a alma. Assim, a felicidade era o bem da alma que só podia ser atingido por meio de uma conduta virtuosa e justa.
Felicidade do latim felicitas é também definida como estado de satisfação plena e global de todas as tendências humanas. Entre os gregos, a busca da felicidade como vinculada a procura do bem supremo e da virtude. Aristóteles enxergou a felicidade como “a atividade de alma dirigida pela virtude”, ou seja, pelo exercício da virtude, e não da simples posse.
Epicuro enunciava que a vida feliz é impossível sem a sabedoria, honestidade e justiça (que são em verdade inseparáveis). Ser feliz é necessariamente o desejo de todo ser racional porém finito sendo, segundo Kant, inevitável um princípio determinante da faculdade de desejar Bachelard ainda apontou que “para sermos felizes, precisamos pensar na felicidade do outro”.
Bertrand Russel foi um dos raros filósofos a defender a noção de felicidade em obra de caráter popular intitulada “A conquista da felicidade” em 1930 e aponta o tradicional conceito de felicidade, uma condição indispensável que é a multiplicidade dos interesses, das relações do homem com as coisas e com os outros homens, portanto a eliminação do egocentrismo, do fechamento em si mesmo e nas paixões pessoais.
O filósofo iluminista Immanuel Kant (1724/1804), na obra “Crítica da razão prática” definiu a felicidade como “a condição do ser racional no mundo, para quem, ao longo da vida, tudo acontece de acordo com o seu desejo e vontade”. Kant criticou os conceitos dados para a felicidade, nos sentidos que fazem dela um objeto da razão pura.
Adolf Huxley em sua obra “Brave New World” retratou que o medo de ser infeliz é peso que atormenta. Responder a questão sobre o que é necessário para ser feliz é o manancial para haver vários livros, programas, propagandas, filmes que efusivamente evocam o tema.
A falta de clareza em expressar no que consiste a felicidade, a torna fonte quase inesgotável de ponderações e polêmicas. Mas, não podemos assumir ou antever que a sociedade contemporânea seja sombria ou pessimista apenas por conta da carência de felicidade.
O caminho verdadeiro da felicidade pode ser resumido em fugir da opinião alheia, o que significa não aceitar por aceitar as suas determinações e ser menos o que os outros querem que você seja e mais ou totalmente aquilo que você acha que deve ser procurar a felicidade em si mesmo e não no mundo exterior, pois só a própria razão pode conhecer o melhor para o indivíduo, e saber lidar com os incontroláveis acontecimentos do destino, para sofrer o menos possível e reconhecer e aproveitar o máximo dos bons eventos que se apresente.
Desta forma, Sêneca define a felicidade enquanto um bem sólido e localizável não muito distante, negando a ideia de que esta seja aparente e inacessível. A felicidade estaria mais nas coisas simples, o que é preciso antes de tudo é o olhar para si, ou seja, o definidor da felicidade. Sem medo de ser feliz, dever-se-ia buscar realizar os seus sonhos. Sem medo, pois o medo segue os nossos sonhos! 



(*) Fernando Gomes, sociólogo, cidadão, eleitor e contribuinte parnaibano.

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