Semana passada, mais
precisamente no sábado pela manhã, eu e meu amigo de longa data, José Luiz de
Carvalho, fomos até Buriti dos Lopes, aqui pertinho, a fim de que ele pudesse
resolver algumas pendências. Sempre gostei de fazer estas viagens curtas e mais
ainda pra uma cidade onde tenho vários e muitos amigos e que sempre me
proporcionam satisfação em fazer uma visita. E nestes momentos de conversa eu e
ele vamos traçando planos, rememorando passagens e sempre acreditando que
alguma coisa há de acontecer pra melhor.
Logo na saída de
Parnaíba quando passamos por algumas indústrias que estavam fechadas, por ser
um sábado, perguntei pra ele qual delas ainda estava em atividade. Tinha uma de
tintas, outra, não me lembro bem, de ração pra animal, mais lá na frente outra
de blocos de concreto e mais ainda na frente outra de massa pra construção
civil. A maioria pelo lado direito de quem está indo pra Buriti dos Lopes. Mas
do lado esquerdo me chamou a atenção a imponente construção de um cemitério
privado, desses que, me perdoem, a gente daqui só vê em filme de americano.
Vendo todos aqueles
projetos de fábricas, disso ou daquilo, daquilo que um dia na cabeça de alguns
homens foi expectativa de um parque industrial nesta Parnaíba, alguns já mostrando
desgaste na estrutura e mais o abandono, feito ossada de uma carniça no meio de
um campo onde não há mais vida, nem flora e nem fauna, onde não há mais água
nem nada, fiquei silencioso e triste. E me larguei a perguntar ao amigo quantos
homens e mulheres, principalmente jovens saídos das escolas de formação, bem
que poderiam estar naquele exato momento com seus salários no bolso depois de
uma semana trabalhada.
Lá se vão tantos anos
de nossas vidas sem que a gente veja nascer e frutificar, como se dizia no meu
tempo, engrossar o talo, alguma indústria, dessas que a gente só vê ou ouve
dizer que tem na terra dos outros e muitas vezes bem pertinho daqui.
Indústrias, fábricas disso e daquilo. De biscoito, macarrão, óleo de cozinha,
móveis, vassouras, bebida, doces, bicicleta, papel higiênico, capa pra sofá,
caneco de alumínio, penico de plástico. Não interessa o que fosse. O
interessante é que fosse fábrica. Fábrica pra empregar com carteira assinada e
com férias, décimo terceiro, licença maternidade e tudo aquilo que o operário
tem direito.
Indústrias que pelo
valor de bens fabricados garantissem no final do mês a centenas e centenas de
homens e mulheres um salário real e assim pudessem proporcionar um equilíbrio
com as outras atividades, o comércio vendendo bem e os serviços funcionando.
Indústrias que garantissem estabilidade e satisfação na qualidade de vida, sem
depender única e exclusivamente do emprego público. E por outro lado, criassem
como é próprio na iniciativa privada, esta ambição saudável pelo crescimento
profissional.
E fomos seguindo e
conversando eu e Zé Luiz sobre as oportunidades e a vocação de Parnaíba pra
algumas atividades que dão dinheiro e outras que pra alguns afoitos deram e dão
muito é dor de cabeça. E largamos a nomear este ou aquele empreendimento que
nos últimos vinte anos, isso contando somente contando o tempo em que estou por
aqui em Parnaíba, nasceram e morreram no mesmo dia frustrando milhares de
trabalhadores, jovens, donos de supermercados, bares, restaurantes, farmácias,
bancas de peixe, churrasquinhos e de tantos outros gêneros de negócios que
precisavam e precisam dessa movimentação natural de uma ou mais fábricas pra
que continuassem e continuem ativos. Porque não se concebe uma cidade sem a mínima
vocação pra indústria, pra empregar tanto sua mão de obra jovem quanto a que já
tem alguma ou muita experiência.
Digo que frustraram
milhares de jovens, homens e mulheres trabalhadores de Parnaíba porque foram
empreendimentos que aqui chegaram com capitais privados ou financiados pelo
governo e criaram uma expectativa enorme pra uma população desacostumada ao
emprego formal, desse de carteira assinada e que é necessário pra o equilíbrio
econômico e a paz social. Muitos desses empreendimentos eram dados como bons ou
excelentes mesmo. Mas o que há com a Parnaíba que não segura médios e grandes
negócios?
E aquela viagem me
deixou mais uma vez triste. Triste de perceber que o destino breve de algumas
dessas fábricas no que seria o parque industrial de Parnaíba possa ser um
cemitério de galpões e de máquinas enferrujando e de matéria-prima se
deteriorando. Porque mais cedo ou mais tarde o destino de alguns desses
empreendimentos acaba levando o empresário até a sempre porta escancarada e a
burra generosa do governo. Porque ninguém, e isso aqui é quase regra, quer
assumir riscos. Ninguém a uma altura dessas quer dar com os burros na altura da
anágua, como dizia minha madrinha. Ao que parece a coisa só deve estar dando certo
mesmo é com o cemitério. E lá tem vagas.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor