14 de out. de 2013

Não há vagas.

Semana passada, mais precisamente no sábado pela manhã, eu e meu amigo de longa data, José Luiz de Carvalho, fomos até Buriti dos Lopes, aqui pertinho, a fim de que ele pudesse resolver algumas pendências. Sempre gostei de fazer estas viagens curtas e mais ainda pra uma cidade onde tenho vários e muitos amigos e que sempre me proporcionam satisfação em fazer uma visita. E nestes momentos de conversa eu e ele vamos traçando planos, rememorando passagens e sempre acreditando que alguma coisa há de acontecer pra melhor.
Logo na saída de Parnaíba quando passamos por algumas indústrias que estavam fechadas, por ser um sábado, perguntei pra ele qual delas ainda estava em atividade. Tinha uma de tintas, outra, não me lembro bem, de ração pra animal, mais lá na frente outra de blocos de concreto e mais ainda na frente outra de massa pra construção civil. A maioria pelo lado direito de quem está indo pra Buriti dos Lopes. Mas do lado esquerdo me chamou a atenção a imponente construção de um cemitério privado, desses que, me perdoem, a gente daqui só vê em filme de americano.
Vendo todos aqueles projetos de fábricas, disso ou daquilo, daquilo que um dia na cabeça de alguns homens foi expectativa de um parque industrial nesta Parnaíba, alguns já mostrando desgaste na estrutura e mais o abandono, feito ossada de uma carniça no meio de um campo onde não há mais vida, nem flora e nem fauna, onde não há mais água nem nada, fiquei silencioso e triste. E me larguei a perguntar ao amigo quantos homens e mulheres, principalmente jovens saídos das escolas de formação, bem que poderiam estar naquele exato momento com seus salários no bolso depois de uma semana trabalhada.
Lá se vão tantos anos de nossas vidas sem que a gente veja nascer e frutificar, como se dizia no meu tempo, engrossar o talo, alguma indústria, dessas que a gente só vê ou ouve dizer que tem na terra dos outros e muitas vezes bem pertinho daqui. Indústrias, fábricas disso e daquilo. De biscoito, macarrão, óleo de cozinha, móveis, vassouras, bebida, doces, bicicleta, papel higiênico, capa pra sofá, caneco de alumínio, penico de plástico. Não interessa o que fosse. O interessante é que fosse fábrica. Fábrica pra empregar com carteira assinada e com férias, décimo terceiro, licença maternidade e tudo aquilo que o operário tem direito.
Indústrias que pelo valor de bens fabricados garantissem no final do mês a centenas e centenas de homens e mulheres um salário real e assim pudessem proporcionar um equilíbrio com as outras atividades, o comércio vendendo bem e os serviços funcionando. Indústrias que garantissem estabilidade e satisfação na qualidade de vida, sem depender única e exclusivamente do emprego público. E por outro lado, criassem como é próprio na iniciativa privada, esta ambição saudável pelo crescimento profissional. 
E fomos seguindo e conversando eu e Zé Luiz sobre as oportunidades e a vocação de Parnaíba pra algumas atividades que dão dinheiro e outras que pra alguns afoitos deram e dão muito é dor de cabeça. E largamos a nomear este ou aquele empreendimento que nos últimos vinte anos, isso contando somente contando o tempo em que estou por aqui em Parnaíba, nasceram e morreram no mesmo dia frustrando milhares de trabalhadores, jovens, donos de supermercados, bares, restaurantes, farmácias, bancas de peixe, churrasquinhos e de tantos outros gêneros de negócios que precisavam e precisam dessa movimentação natural de uma ou mais fábricas pra que continuassem e continuem ativos. Porque não se concebe uma cidade sem a mínima vocação pra indústria, pra empregar tanto sua mão de obra jovem quanto a que já tem alguma ou muita experiência.  
Digo que frustraram milhares de jovens, homens e mulheres trabalhadores de Parnaíba porque foram empreendimentos que aqui chegaram com capitais privados ou financiados pelo governo e criaram uma expectativa enorme pra uma população desacostumada ao emprego formal, desse de carteira assinada e que é necessário pra o equilíbrio econômico e a paz social. Muitos desses empreendimentos eram dados como bons ou excelentes mesmo. Mas o que há com a Parnaíba que não segura médios e grandes negócios?

E aquela viagem me deixou mais uma vez triste. Triste de perceber que o destino breve de algumas dessas fábricas no que seria o parque industrial de Parnaíba possa ser um cemitério de galpões e de máquinas enferrujando e de matéria-prima se deteriorando. Porque mais cedo ou mais tarde o destino de alguns desses empreendimentos acaba levando o empresário até a sempre porta escancarada e a burra generosa do governo. Porque ninguém, e isso aqui é quase regra, quer assumir riscos. Ninguém a uma altura dessas quer dar com os burros na altura da anágua, como dizia minha madrinha. Ao que parece a coisa só deve estar dando certo mesmo é com o cemitério. E lá tem vagas.  

Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor 

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