Muitos
podem supor que o autor do texto está equivocado ao lançar como título tal
indagação. Afirmo aos ilustres leitores que não cometi equívoco algum. Foi
proposital; um chamamento à reflexão. Sabem por quê? Porque, hoje, o homem não
é apenas o mero explorador e predador da natureza. Ele é o artífice e ao mesmo
tempo produto desta fábrica global chamada “sociedade dos valores artificiais”.
Creio
que este contínuo mecanismo de desconstrução natural tem propiciado mudanças
marcantes não apenas no espaço geográfico tecnificado, mas também no
comportamento de pessoas. Estamos vivenciando um dinâmico processo de
artificialização das relações sociais. Estaria o homem perdendo a sua essência?
Por
sermos um molde do capitalismo, somos tratados como peças; manipulados como bonecos;
como robôs controlados, às vezes obrigados a seguir preceitos contrários aos nossos
ideais de vida. Tudo em troca de um determinado valor que recebemos.
Somos valorizados! Isso é importante, reflete o
leitor. Parece que o cronista, agora está falando algo coerente!
Digo. Amigo, não é este o valor que você deve está
imaginando - valores como a moral; a ética; a idoneidade; a espiritualidade; a gratidão;
a fraternidade etc., herdados de nossos ancestrais. Infelizmente, estes são
nobres princípios cada vez mais esquecidos e às vezes substituídos por novos
“paradigmas da modernidade”.
Falo do valor material, o “rótulo financeiro” que o
mundo impõe a cada ser, uma espécie de “DNA capitalista”. Como diz o ditado: “Você
vale pelo que tem”. Seu prestígio social é proporcional às suas posses, ou
seja, pelo tamanho e qualidade de seus bens (montante das aplicações
financeiras; valor do contracheque; imóveis; automóveis; fazenda; jóias etc.).
É gesto louvável daquele que, nos dias de hoje,
preza por indeléveis valores como a honestidade; a fraternidade; o amor
incondicional ao próximo; a boa formação familiar; o otimismo etc. Mas,
infelizmente, se o indivíduo não for possuidor de razoável patrimônio material
e financeiro, ou nem mesmo se enquadrado num bom emprego, pode esquecer! Amigo,
você é carta fora do baralho! Você não faz parte deste jogo de seduções! Perdoe-me
pela sinceridade, mas os hipócritas vão lhe intitular de “pé rapado”.
Neste mundo materialista, habitado por idólatras do
dinheiro; por mercenários e por aqueles que almejam a todo custo levar vantagem
sobre o outro, ser apenas bom sujeito não basta. É preciso ter “bala na agulha”
se não desejar ser classificado de fracassado social.
Quero enfatizar que sou contrário a essa estrutura
social doentia onde os menos abastados são estigmatizados. Há de se reconhecer
que este capitalismo, que a todo instante se reinventa, trouxe muitas benesses.
Mas não podemos esquecer que cicatrizes continuam sendo abertas por força deste
modo de produção desigual, onde reina absoluto o “soberano senhor dinheiro”.
Antônio Pereira de Araújo - Professor
“Não
existe absolutamente nenhuma diferença entre eles [indivíduos e mercadorias], contanto
que se tome a determinação formal, e esta ausência de diferença é sua
determinação econômica, a determinação na qual se acham uns aos outros em uma
relação de comércio; é o indicador de sua função social ou da ligação social
que há entre eles”. (ADORNO,1986)
“As
ideologias expressam situações e interesses radicados nas relações materiais,
de caráter econômico, que os homens, agrupados em classes sociais, estabelecem
entre si” (MARX, 1996).
Edição Blog do Pessoa