"Um dia eu estava bem, parecia que tinha passado. No dia seguinte, acordava super cansada, com dor no corpo. Do nada você piora, do nada vem uma falta de ar, uma dor que faz nem conseguir levantar da cama.”
© Werther Santana/Estadão A enfermeira Adriana Brito Leone diz ter sentido cansaço e uma dor muito forte |
O relato é da enfermeira Adriana Brito Leone, de São Paulo. Mas poderia ser da Rebeca, de Natal. Do Altair, de Niterói. Do Teddy, de Blumenau. Ou do Roberto, de Belém.
Todos engrossam a estatística das pessoas que já tiveram covid-19 no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, entre os mais de 730 mil casos confirmados oficialmente da doença no País, mais de 311 mil são considerados recuperados.
Nas últimas semanas, o governo federal tem feito questão de destacar o dado – mais até do que as informações sobre os novos casos e mortes –, tentando passar uma boa notícia. “O número de pessoas curadas tem crescido dia após dia devido aos esforços que o governo do Brasil tem empenhado em auxiliar estados e municípios a prepararem suas estruturas de saúde”, diz o ministério na nota diária que envia à imprensa com os números.
Mas especialistas e pacientes ouvidos pelo Estadão mostram que ser um “recuperado” não exatamente representa estar curado ou sem sequelas. Pacientes que foram entubados enfrentam um processo complicado de reabilitação, mas mesmo alguns que tiveram quadros considerados menos severos, e não demandaram hospitalização, relatam que a doença pode se manifestar por um tempo mais longo, com os sintomas voltando em ondas.
“O grande problema desses números é que, como só testamos quem procurou serviço médico, quem foi para o hospital, quando falamos em recuperados, estamos falando de quem teve alta hospitalar. Não significa alta médica. Os leitos precisam girar. Então às vezes o paciente sai ainda com algum sintoma, alguma queixa. Não estão aptos a voltar para o trabalho, voltar a fazer atividade física. São recuperados só da fase aguda da doença, mas é um processo gradual”, afirma Marcelo Sampaio, cardiologista da Beneficência Portuguesa (BP) de São Paulo.
Como a doença é ainda muito nova – os primeiros casos de infecção ao novo coronavírus são de dezembro, na China –, não houve tempo para observar se podem ocorrer sequelas de longo prazo.
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