É na feira que nos
conhecemos melhor e descobrimos até onde pode chegar nossa origem, nosso senso
de justiça, economia, solidariedade. E na feira também é pra onde vão alguns
candidatos em época de eleição. Vão pra onde nunca antes foram e agora se
fazendo de humildes e populares. Aqui abraçam um vendedor de carne ou de
frutas. Mais lá na frente comem de graça uma banana ou uma manga na banca de
outro. E por aí vão até ganharem as eleições e se esquecerem da empreitada.
E certo dia eu estava na
feira e fiquei observando os vendedores de galinhas. Galinhas de todas as
variedades. Umas pequenas, outras já franguinhas de primeira pena e outras mais
na frente ainda maiores e com os pés cascorentos. Todas peadas com embiras
naquele terror de sol e quase sendo pisoteadas pelos fregueses. Chega um aqui,
levanta uma pelos pés e pergunta preço. Acha caro, regateia. Depois acaba
levando. E a galinha olha triste pro novo dono sabendo que o destino mais tarde
é a faca afiada da dona da casa no pescoço e a panela de água quente.
Eu fiquei observando
aquela arrumação toda. Uma galinha já velha, poedeira ao que parecia, com
aquela cara de poucos amigos e de quem liderava o bando no terreiro. Cara de
quem foi tirada de cima dos ovos ainda cedo pra vir à feira naquele dia de
domingo. Ela passou a dar bicadas na embira. Coisa de muita paciência. O dono
delas, besta, distraído na conversa com os outros, nem se deu conta da façanha
da peralta. Num esfregar de olho a galinha acabou se soltando.
Ficou livre da embira,
mas ficou ali, na dela, esperando uma chance de meter o pé na carreira naquele
meio de gente. Daí até o dono reunir todas na roda de novo ela já estava era
longe, calculou. Chegou um freguês e pegou justo ela. Como não acertou a compra
com o vendedor acabou devolvendo ao chão e ao meio das outras. E foi naquele
exato momento, naquele alvoroço todo que a galinha achou de fugir.
Mas eu fiz este arrodeio
todo e saí aqui mais na frente pra chegar numa situação meio estranha e que até
hoje não entrou nesta minha cabeça de pouco estudo. Ninguém até agora, pelo que
sei, conseguiu enfiar na cabeça dura do governo que ele perde dinheiro com esse
negócio de colocar tornozeleira eletrônica em presos. Não deu, não dá e nunca
vai dar certo esse negócio, meu Alá do céu! Nem aqui na Parnaíba e nem no
caixa-pregos!
De vez em quando aqui na
Parnaíba a gente fica sabendo que foi preso um elemento que estava com
tornozeleira eletrônica. Estava gozando de um regime mais brando, mas na calada
da noite e até mesmo de dia estava aprontando de novo. De ladrão de carros a
assaltante de bancos. Toda sorte de bandidos e homicidas, traficante de drogas
e outras carreiras no, ao que parece, compensador mundo do crime. E toda vez
que eu fico sabendo que foi pego um desses presos com aquele trambolho entre o
pé e a canela eu me lembro da história da galinha amarrada com embira.
Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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