Outro dia fui, como de
costume, ao centro e fiquei na praça da Graça observando o movimento. Uns iam,
outros vinham. Outros estavam parados e a vida seguindo. Mas me chamou a
atenção dois trabalhadores de uma empresa terceirizada da prefeitura e que
faziam a marcação de faixas de estacionamentos nas proximidades da agência da
Caixa Econômica Federal. Um deles estava usando um pincel, daqueles antigos,
cerdas longas, largo, mas de cabo curto enquanto o outro usava um rolo, desses
de esponja, mais confortável e que lhe garantia maior rapidez no desempenho.
Eu não pude ficar
observando até o final da manhã como foi que terminou aquele trabalho, o uso de
duas técnicas diferentes, essa tecnologia tão simples e ao mesmo tempo tão
complexa, ali à minha frente. Mas no pouco tempo pude perceber que o rapaz do
rolo estava anos e anos à frente do outro. O rapaz que usava o pincel gastava
muito mais tinta do que o outro, sem contar a posição incômoda de ficar com a
bunda pra cima por mais tempo. Certamente que ao final do dia deve ter chegado
em casa com o lombo dolorido.
E assim como naquele
trabalho aparentemente tão simples na praça da Graça eu pude observar nestes
dias o quanto alguns prefeitos do Piauí mudaram ou tentaram mudar o andamento
de trabalho de suas equipes quando demitiram servidores ocupantes de cargos
comissionados dando lugar pra outros. E esses outros certamente são aqueles que
ficaram esperando uma boquinha, uma oportunidade de, simplesmente, entrar na
folha de pagamentos apenas porque na campanha ficaram em cima, atrás ou à
frente do palanque batendo palmas e agora foram cobrar a fatura dos serviços.
Essas práticas tão
antigas tem apenas um objetivo, o de acomodar apadrinhados sem ao menos
observar os critérios de capacidade e competência de auxiliares. Antigos cabos
eleitorais e que se acham no direito de exigir no meio de mandatos dos
prefeitos e até governadores esses ou aqueles cargos. Eles, pensando bem,
fizeram pouco, muito pouco. Assim as prefeituras se transformam em balcões de
negócios. Passam a ser propriedades de grupos políticos. E todos aqueles
auxiliares, muitos deles com capacidade técnica comprovada têm assim de uma
hora pra outra que deixar os cargos simplesmente porque os prefeitos ou
governadores estão sendo pressionados.
E esses prefeitos e
governadores não estão nem um pouco ligando pra o povo que os elegeu. A
preocupação agora é desmontar a máquina e remontar mais lá na frente. Remontar
com peça ordinária, com o refugo, coisa comprada no ferro velho. Com gente de
partido, gente que apenas bateu palmas. Mas é gente que precisa de um agrado,
um bombom, um biscoito, nem que seja um pedaço, um sobejo que sobrou no pacote.
O bem coletivo fica pra trás. Agora o importante é acomodar o compadre. Que se
dane a capacidade técnica de muitos auxiliares que ajudaram o prefeito a chegar
até aqui. Agora, em muitos casos, quando a máquina está ajustada nos parafusos
a gente troca de ferramenta. Troca o rolo pelo pincel. É mais barato.
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