21 de jan. de 2015

O pincel e o rolo.

Outro dia fui, como de costume, ao centro e fiquei na praça da Graça observando o movimento. Uns iam, outros vinham. Outros estavam parados e a vida seguindo. Mas me chamou a atenção dois trabalhadores de uma empresa terceirizada da prefeitura e que faziam a marcação de faixas de estacionamentos nas proximidades da agência da Caixa Econômica Federal. Um deles estava usando um pincel, daqueles antigos, cerdas longas, largo, mas de cabo curto enquanto o outro usava um rolo, desses de esponja, mais confortável e que lhe garantia maior rapidez no desempenho.

Eu não pude ficar observando até o final da manhã como foi que terminou aquele trabalho, o uso de duas técnicas diferentes, essa tecnologia tão simples e ao mesmo tempo tão complexa, ali à minha frente. Mas no pouco tempo pude perceber que o rapaz do rolo estava anos e anos à frente do outro. O rapaz que usava o pincel gastava muito mais tinta do que o outro, sem contar a posição incômoda de ficar com a bunda pra cima por mais tempo. Certamente que ao final do dia deve ter chegado em casa com o lombo dolorido.

E assim como naquele trabalho aparentemente tão simples na praça da Graça eu pude observar nestes dias o quanto alguns prefeitos do Piauí mudaram ou tentaram mudar o andamento de trabalho de suas equipes quando demitiram servidores ocupantes de cargos comissionados dando lugar pra outros. E esses outros certamente são aqueles que ficaram esperando uma boquinha, uma oportunidade de, simplesmente, entrar na folha de pagamentos apenas porque na campanha ficaram em cima, atrás ou à frente do palanque batendo palmas e agora foram cobrar a fatura dos serviços.

Essas práticas tão antigas tem apenas um objetivo, o de acomodar apadrinhados sem ao menos observar os critérios de capacidade e competência de auxiliares. Antigos cabos eleitorais e que se acham no direito de exigir no meio de mandatos dos prefeitos e até governadores esses ou aqueles cargos. Eles, pensando bem, fizeram pouco, muito pouco. Assim as prefeituras se transformam em balcões de negócios. Passam a ser propriedades de grupos políticos. E todos aqueles auxiliares, muitos deles com capacidade técnica comprovada têm assim de uma hora pra outra que deixar os cargos simplesmente porque os prefeitos ou governadores estão sendo pressionados.


E esses prefeitos e governadores não estão nem um pouco ligando pra o povo que os elegeu. A preocupação agora é desmontar a máquina e remontar mais lá na frente. Remontar com peça ordinária, com o refugo, coisa comprada no ferro velho. Com gente de partido, gente que apenas bateu palmas. Mas é gente que precisa de um agrado, um bombom, um biscoito, nem que seja um pedaço, um sobejo que sobrou no pacote. O bem coletivo fica pra trás. Agora o importante é acomodar o compadre. Que se dane a capacidade técnica de muitos auxiliares que ajudaram o prefeito a chegar até aqui. Agora, em muitos casos, quando a máquina está ajustada nos parafusos a gente troca de ferramenta. Troca o rolo pelo pincel. É mais barato.

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