Antes da morte de
Eduardo Campos naquele acidente de avião lá em Santos, a mídia vinha se
ocupando em esmiuçar aquele caso do menino que foi ao zoológico na companhia do
pai e em lá chegando se pôs a mexer em tudo em quanto era animal pra ver se
eram de verdade. Todo mundo viu pela televisão o quanto se tentou, pelo menos
quem estava por perto, fazer com que ele desistisse da infeliz ideia de ficar
provocando os animais. Deu osso de galinha pra um leão, pegou no rabo do tigre,
correu, subiu na grade de proteção, meteu o braço pra tocar a cabeça da fera e
outras tantas estripulias.
Olhando pras imagens
daquele menino fazendo e acontecendo não se pode dizer que era um meninozinho
qualquer, mas já um rapazinho, já engrossando o talo e que se bem criado por
pais equilibrados já estaria tomando juízo naquela cabeça de vento. Mas ao que
parece aquele menino e seu pai fazem parte deste novo modelo de família onde
cada um faz o que bem entende, não há o menor princípio de autoridade, respeito
e tanto faz como tanto fez dentro da maior promiscuidade. A família daquele
menino é aquele tipo de família sem pé nem cabeça onde tudo é permitido.
E ele, me perdoem a
rudeza, certamente deve ser aquele tipo de filho cheio de vontades, criado
dentro de apartamento em frente de televisão ou de computador, inveterado
nesses jogos eletrônicos e que quando vão pra escola e na sala de aula ficam o
tempo inteiro com a cara enfiada no telefone celular e na volta pra casa. São de
pouca conversa com outras pessoas e muito menos com pai, mãe e irmãos e quando
adultos certamente vão ser neuróticos, de pouco convívio social. No dia em que
saem em meio de gente dá nisso. Pois essa afoiteza daquele menino cheio de
vontades acabou lhe custando um braço.
Vrajamany Rocha, de 11
anos, foi ao zoológico de Cascavel, Paraná, em companhia do pai, Marcos e de um
irmão, de três anos de idade. E lá, solto, livre dos olhos e dos ouvidos do pai
irresponsável se danou a bulir naquilo e com quem não deveria, os animais
selvagens, que estão, por medida de segurança confinados em grades altas e mais
uma área de segurança. Ele não respeitou as regras. Ficou o tempo todo
malinando e chamando a atenção de quem estava por perto e mesmo advertido pelos
presentes continuou provocando os animais.
Mas vamos deixar de lado
este infeliz ocorrido com o menino danisco de Cascavel e vamos tratar, tendo
como pista a afoiteza pra fazer aquilo em que muitas vezes nem mesmo nós
acreditamos há de dar certo. E nesse momento eu falo sobre o político, o voto e
o eleitor. O cidadão deve ter essa consciência de que o político, mesmo não sendo
eleito, não é dono de sua liberdade de escolha e de sua vontade. E mesmo sendo
eleito com o voto e o apoio desse cidadão esse político tem obrigação de lhe
prestar contas. O voto ou o apoio ao político eleito não transforma o cidadão
em escravo de sua vontade.
A crítica ou a cobrança
é uma prerrogativa, um privilégio do cidadão que escolheu o político seu
representante. Aquele que lhe prometeu isso e aquilo, certamente pra o bem
coletivo, desde quando em palanque ou quando bateu na sua porta. Por isso
considero de extrema importância este contato entre o político e o cidadão
eleitor após o período de campanha. O que não pode e nem deve haver é este
desquite entre os dois, o político e o eleitor. Vai o político eleito pras
assembleias legislativas ou pra o executivo tendo noção de que tem a imensa
responsabilidade de prestar contas de sua atividade. E o eleitor nunca deve se
esquecer de quem elegeu e sempre cobrar resultados.
O eleitor nunca deve
ter medo e nem fazer cerimônia em quem votou. Porque o que ocorre muitas e
muitas vezes é a intimidação pela imponência e a imposição da autoridade. Isso
não pode e nem deve servir de barreira entre o cidadão e o político. O cidadão
pode e deve ter esta afoiteza do menino que foi cutucar a onça. Quando se
encontrar frente a frente com seu representante, não pra ser descortês e nem
inconveniente. Mas pra dar a perceber que a relação entre os dois continua no
mesmo grau de confiança daquele dia ou daquela noite em que lhe abriu as portas
da sua casa e lhe emprestou confiança de voto, tipo um casamento. E o político
por seu lado deve ter noção de que é um servidor público. E como servidor
público deve, por obrigação e não por favor, prestar contas ao seu cidadão.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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