Neste
início de campanha política pras eleições de outubro eu me lembro de certa vez
ter conhecido um sujeito das bandas de Minas Gerais que estava a negócios por
estas bandas da Parnaíba. E a gente passou a puxar aquela conversa comprida de
pé de balcão e que por mais que se queira nunca tem fim, mesmo porque conversa
de bêbado não tem pé nem cabeça. Porque dor de cabeça mesmo a gente só vai ter
no outro dia curtindo uma ressaca. Mas isso foi há muito tempo.
E
naquele tal que não acaba mais de, desce mais uma e, essa sou eu quem paga, nós
conversamos sobre tudo e mais um pouco. Até que caídos pela tentação
enveredamos pra maldita política. Mas naquela conversa mais sem fim tipo feito
rosca de moinho. Antes passamos pela cozinha. E foi quando o mineiro de Alfenas
me perguntou pelos pratos mais apreciados desta, como diria Pero Vaz de Caminha
ao ver as dunas da lagoa do Portinho, vasta terra dalém mar. Eu sem piscar um
olho disse que era o caranguejo. Cozido pra se comer quebrando é coisa de
lamber os beiços. Bateram palmas pra mim!
E
naquela horinha mesmo já estava na mesa e fumegando feito a milium, trazida
pela fiel serviçal Donana, uma bacia com a preciosidade. Coisa de umas cinco
cordas de caranguejos escolhidos a dedo entre os melhores da região dos Tatus.
Larguei a fazer uma explicação pro mineiro de como eram capturados e trazidos a
ferros, feito negros de Angola, até a mesa dos melhores restaurantes da
Parnaíba. Mas antes disse que essa preciosidade também estava incluída na nossa
carteira de produtos de exportação e que o principal comprador era o Ceará.
Pois
não é que o mineiro ia ouvindo e assuntando tudo de boca aberta feito velho
quando vê menina de minissaia? E ficou assim de mão no queixo principalmente
quando eu e meus colegas fizemos uma demonstração de como o bicho caminhava no
mangue. Depois de ouvir a gente sobre como era a vida e o triste fim daquela
espécie o colega veio com aquela de dizer que não iria colocar aquilo na boca.
Uma ofensa sem tamanho! Tentamos muitas
e muitas vezes, mas não deu. E não dando passamos a falar de política, que é o
que mineiro mais sabe fazer depois de pão de queijo.
E
aí me vem uma comparação sobre os caranguejos e os políticos do Piauí. Certo
que não todos, mas a maioria ainda anda de banda, correndo de ponta e
procurando um buraco pra se esconder tão logo são eleitos. Grandes lideranças
políticas piauienses atuais ainda em muito que se assemelham a este bicho saído
do mangue. Andam pra trás no tempo. Passado
um tempo de vulto ainda relutam em permanecerem com os mesmos discursos
ultrapassados e se agarrando nas formas e fórmulas mais rudimentares de fazer
política.
Pois
é assim que vejo alguns políticos piauienses da atualidade. Sempre repetindo as
mesmas coisas. Sempre se balizando pelos velhos caciques, enganando seus
eleitores que lhe confiaram o voto. Sempre imitando aquelas lideranças hoje
ultrapassadas e que fizeram política em cima do discurso rasteiro, da ofensa
pessoal, da intimidação, do dinheiro pra comprar voto e troca de insultos. Sempre
jogando lama uns nos outros e depois correndo pra loca. Depois, na próxima
eleição vem voltando devagarinho, tomando chegada feito essa gente que gosta de
pegar no alheio e que escolhe a noite pra atormentar o sossego público. E feito
caranguejos eles estão sempre correndo de lado, desajeitados. E esse lado mais
ocidental do Brasil é o habitat natural dessa espécie de crustáceo humano.
O
Piauí e o Maranhão juntos criaram de forma natural uma faixa de terra atraente
pra este tipo de crustáceo político. Saem à noite e ao raiar do dia aos bandos
nos mangues. Quando ameaçados pelo catador correm pro buraco de onde vieram pra
voltar logo mais, assim feito sem cerimônia, repetindo as mesmas promessas em
dedicar a vida parlamentar ou executiva ao serviço da população mais pobre,
pela educação, saúde, segurança. Os caranguejos políticos do Piauí e do
Maranhão ainda vão infelizmente permanecer por muito tempo sendo a peça
gastronômica mais apreciada pelo povo. Mas um dia este mangue seca.
Por Pádua MarquesJornalista e Escritor
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