26 de jul. de 2014

Os caranguejos políticos do Piauí.

Neste início de campanha política pras eleições de outubro eu me lembro de certa vez ter conhecido um sujeito das bandas de Minas Gerais que estava a negócios por estas bandas da Parnaíba. E a gente passou a puxar aquela conversa comprida de pé de balcão e que por mais que se queira nunca tem fim, mesmo porque conversa de bêbado não tem pé nem cabeça. Porque dor de cabeça mesmo a gente só vai ter no outro dia curtindo uma ressaca. Mas isso foi há muito tempo.

E naquele tal que não acaba mais de, desce mais uma e, essa sou eu quem paga, nós conversamos sobre tudo e mais um pouco. Até que caídos pela tentação enveredamos pra maldita política. Mas naquela conversa mais sem fim tipo feito rosca de moinho. Antes passamos pela cozinha. E foi quando o mineiro de Alfenas me perguntou pelos pratos mais apreciados desta, como diria Pero Vaz de Caminha ao ver as dunas da lagoa do Portinho, vasta terra dalém mar. Eu sem piscar um olho disse que era o caranguejo. Cozido pra se comer quebrando é coisa de lamber os beiços. Bateram palmas pra mim!
E naquela horinha mesmo já estava na mesa e fumegando feito a milium, trazida pela fiel serviçal Donana, uma bacia com a preciosidade. Coisa de umas cinco cordas de caranguejos escolhidos a dedo entre os melhores da região dos Tatus. Larguei a fazer uma explicação pro mineiro de como eram capturados e trazidos a ferros, feito negros de Angola, até a mesa dos melhores restaurantes da Parnaíba. Mas antes disse que essa preciosidade também estava incluída na nossa carteira de produtos de exportação e que o principal comprador era o Ceará.
Pois não é que o mineiro ia ouvindo e assuntando tudo de boca aberta feito velho quando vê menina de minissaia? E ficou assim de mão no queixo principalmente quando eu e meus colegas fizemos uma demonstração de como o bicho caminhava no mangue. Depois de ouvir a gente sobre como era a vida e o triste fim daquela espécie o colega veio com aquela de dizer que não iria colocar aquilo na boca. Uma ofensa sem tamanho!  Tentamos muitas e muitas vezes, mas não deu. E não dando passamos a falar de política, que é o que mineiro mais sabe fazer depois de pão de queijo.
E aí me vem uma comparação sobre os caranguejos e os políticos do Piauí. Certo que não todos, mas a maioria ainda anda de banda, correndo de ponta e procurando um buraco pra se esconder tão logo são eleitos. Grandes lideranças políticas piauienses atuais ainda em muito que se assemelham a este bicho saído do mangue. Andam pra trás no tempo.  Passado um tempo de vulto ainda relutam em permanecerem com os mesmos discursos ultrapassados e se agarrando nas formas e fórmulas mais rudimentares de fazer política.

Pois é assim que vejo alguns políticos piauienses da atualidade. Sempre repetindo as mesmas coisas. Sempre se balizando pelos velhos caciques, enganando seus eleitores que lhe confiaram o voto. Sempre imitando aquelas lideranças hoje ultrapassadas e que fizeram política em cima do discurso rasteiro, da ofensa pessoal, da intimidação, do dinheiro pra comprar voto e troca de insultos. Sempre jogando lama uns nos outros e depois correndo pra loca. Depois, na próxima eleição vem voltando devagarinho, tomando chegada feito essa gente que gosta de pegar no alheio e que escolhe a noite pra atormentar o sossego público. E feito caranguejos eles estão sempre correndo de lado, desajeitados. E esse lado mais ocidental do Brasil é o habitat natural dessa espécie de crustáceo humano.
O Piauí e o Maranhão juntos criaram de forma natural uma faixa de terra atraente pra este tipo de crustáceo político. Saem à noite e ao raiar do dia aos bandos nos mangues. Quando ameaçados pelo catador correm pro buraco de onde vieram pra voltar logo mais, assim feito sem cerimônia, repetindo as mesmas promessas em dedicar a vida parlamentar ou executiva ao serviço da população mais pobre, pela educação, saúde, segurança. Os caranguejos políticos do Piauí e do Maranhão ainda vão infelizmente permanecer por muito tempo sendo a peça gastronômica mais apreciada pelo povo. Mas um dia este mangue seca.
 Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor

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