A ajuda
que o governo está concedendo para as distribuidoras de energia pode pesar no
bolso do consumidor. Segundo cálculos de consultores e analistas do setor de
energia, se o governo fizesse o reajuste neste ano, de uma só vez, as tarifas
aumentariam, em média, mais de 20%. Além de pesar diretamente no orçamento
doméstico, o aumento teria um impacto sobre a inflação de 0,56 ponto
porcentual. O aumento da energia, sozinho, elevaria a inflação do ano para a
casa de 6,56% - ou seja, acima da meta de 6,5%.
Os
cálculos levam em consideração uma premissa: cada bilhão de gasto no setor de
energia equivale hoje a cerca de 1% de reajuste na conta de luz. O analista da
J. Safra Corretora, Sérgio Tamashiro, estima que cada R$ 1 bilhão de perdas
representa 1,1% de elevação na conta de luz. Como, do ano passado pra cá, a
conta já soma R$ 21 bilhões, a alta chegaria a 23% nas tarifas de energia, sem
considerar o reajuste de inflação.
A
consultoria PSR, do especialista em energia Mario Veiga, trabalha com um número
parecido. A PSR calculou, em detalhe, os impactos em cada distribuidora e
chegou a essa coincidência numérica quando tirou a média de todos os
resultados. O valor consta de relatório da PSR. Por essa base, o reajuste médio
seria de 21%.
O
governo decidiu que só vai repassar os gastos para a conta de luz em 2015,
depois da eleição, e ainda não dimensionou quanto isso vai custar para o
consumidor, muito menos o impacto sobre o inflação.
“O
próprio governo já avisou que não haverá repasse para o consumidor neste ano,
mas não deixou claro como esse reajuste será feito - se de uma vez só ou de
forma escalonada”, diz Adriana Molinari, da Tendências Consultoria.
Segundo
Adriana (que também trabalha com a relação 1% de aumento para cada R$ 1 bilhão
de custo), se o reajuste de 21% fosse realizado em 2014, haveria um aumento de
0,56 ponto porcentual na inflação. “Se fosse integralmente aplicado neste ano,
a inflação ficaria acima da meta, mas isso não vai ocorrer, e esse adicional
vai engrossar a inflação represada de preços administrados, como ocorre com
combustível e tarifas de transporte”, diz Adriana.
A
decisão de protelar o reajuste não foi bem recebida pelo mercado. Em relatório,
os analistas Marcos Severine e Henrique Peretti, do JPMorgan, disseram que, à
primeira vista, as ações de socorro às distribuidoras e geradoras são
positivas, uma vez que seus caixas estão sobrecarregados com a compra de
energia mais cara. No entanto, eles ponderaram que o governo não agiu da melhor
maneira para resolver o problema porque transferiu a conta de energia para
depois das eleições. Os analistas estimam para este ano um reajuste tarifário
de 3,3%, com impacto de 0,1% na inflação de 2014.
Avanço.
O diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, viu um avanço na postura do
governo federal ao elevar o risco de racionamento do setor elétrico de
baixíssimo para baixo, em meados da semana. Mas, na avaliação dele, a situação
é mais complicada do que mostra o discurso oficial. “Está na hora de o governo
lançar uma campanha, com estímulo tarifário, para reduzir o consumo de
energia.” Para Pinguelli, que prepara um documento com sugestões para o
governo, a redução deveria ser entre 5% e 10% da carga.
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