Para os mais jovens,
epitáfios são aquelas inscrições em túmulos e que de certa forma têm alguma
mensagem sobre quem foi e o que fez aquele que agora está debaixo da terra e
certamente e pra felicidade de muitos nunca mais há de voltar por estas bandas.
Muitos foram bons, justos, amorosos, inteligentes, caridosos. Em Parnaíba nós
temos exemplos e mais exemplos de grandes inscrições tumulares, as mais
conhecidas são aquelas da igreja matriz de Nossa Senhora da Graça e que
despertam a atenção dos de dentrro e dos de fora.
Aproveitando esta
proximidade do Dia de Finados, quando a gente fica pensando na vida que leva e
tendo a certeza de que mais dia menos dia vai morar debaixo da terra, larguei a
pensar que toda pessoa, independente de posses, credo, instrução e
nacionalidade, deveria escolher um epitáfio. De preferência desses em latim,
pra chamar atenção e dar importância. E me ocorre aqui de dar várias sugestões
de epitáfios. Com um pouco de criatividade certas pessoas, políticos
principalmente, bem que poderiam assimilar esta minha modesta sugestão.
Praquele sujeito que em
vida reclamou de tudo, até de dinheiro novo: “isso aqui já foi bem melhor”.
Praquele ranheta, chato, difícil de se agüentar: “Não quero nem ver a cara de
vocês”. Um vagabundo, um tipo que nunca
quis nada na vida: “aqui não preciso de dinheiro”. Outro mais esperto
escolheria este epitáfio: “vocês que são vivos que agora se entendam”. Quem
levou a vida tagarelando bem que corre o risco de ter na sua inscrição da
catacumba este: “ruim aqui é porque ninguém fala nada...”.
Quem comprou no
comércio e deu calote em todo mundo, até no Paraíba, Macavi, Vera Coutinho, Zé
do Santos, Banca do Louro, Bar Carnaúba, Bicicleta da Tapioca, pode escrever no
granito ou no cimento do túmulo esta inscrição: “minhas dívidas aí se
acabaram”. O medíocre, e na Parnaíba têm muitos, escolheria esta inscrição:
“saí daí de Parnaíba como cheguei, insignificante”. E pra o ranzinza, tipo tia
velha: “a gente vê cada cara feia por aqui...”.
O bom de bico levaria
pra posteridade esta máxima: “eu esticado aqui, barriga pra cima e sem
preocupação com porra nenhuma! Eita vida mais besta! De gente mão de vaca nem a
morte escapa. Certamente que deixaria um recado pras seus descendentes e a
pérola seria esta: “vocês têm agora muito é que trabalhar ou “cansei de
sustentar vagabundo”. Outra pra devedor em tudo o quanto era canto da Parnaíba:
“devia, nunca neguei e agora é que não pago mesmo”.
O celibatário, como
sempre tentando se justificar porque não casou, bem que poderia deixar esta
inscrição no granito: “eu não nasci pra semente”. E o pobre, o lascado que
sempre viveu de casa alugada: “finalmente moro no que é meu”. Mas até aqueles
que foram humilhados poderiam ir à forra com esta inscrição: “aqui todo mundo é
igual”. O valente, aquele tipo que nunca levou um tantinho assim de desaforo
pra casa escreveria este epitáfio: “cheguei aonde todos têm medo de chegar”.
Temos ainda a sugestão
praqueles casos de sujeito encrenqueiro, tipo aquele que vai pra festa no M
Show, enche a cara e fica provocando todo mundo pra briga: “daqui não são,
daqui ninguém me tira”. E praquele que vivia reclamando das visitas fora de
hora: “agora vocês só me visitam uma veizinha no ano, né?”. E o fresco, aquele
sujeito esnobe, degenerado, metido a artista, que adorava roer e olhar pras
unhas, tipo Félix, da novela Amor à Vida: “sou alérgico a flores naturais...”.
E praqueles que ainda
não se encontraram, não caiu a ficha que morreram e graças a Deus estão agora
no mais absoluto ostracismo: “está muito escuro e não consigo encontrar a
maçaneta da porta”. Mais uma pra um avarento: “engraçado, eu sinto, eu tenho a
impressão que tem uma moeda no bolso detrás da calça”. E praquele que adorava
badalação, festa em tudo quanto era lugar, fosse Parnaíba, na Ilha Grande, na
Canabrava, Araioses, Tutóia, Baixa da Carnaúba, o diabo onde fosse: “começo a
achar aqui tudo muito monótono”.
Mas vamos em frente.
Pra o sujeito que era enturmado, não perdia uma balada começando pela Trilhus.
Tipo que saía na sexta-feira só com a carteira de identidade, de moto, sem
capacete e uns colegas de trabalho e voltava na segunda depois do meio-dia
cheio de razão e ainda tinha a cara de pau de telefonar pro patrão dizendo que
teve problemas de saúde na família. Pra esse tipo e que eu conheço vários aqui
nesta Parnaíba: “porra, cadê os outros?”. Uma sugestão de epitáfio praquele
cara folgado: “aqui está muito apertado, me sinto como se estivesse num
elevador esquisito” ou ainda “me tirem daqui!”.
Em tudo que é canto tem
gente gaiata. Até no cemitério, aquele condomínio fechado, seguro, silencioso,
pesadelo de todo mundo um dia na vida e onde sempre tem vaga, pra rico, falido,
remediado, pobre, lascado, ladrão maconheiro, valente, medroso, mulher, velho,
menino, pescador, padre, sindicalista, médico, advogado, vereador, deputado,
tudo que é tipo de gente. E como eu estava dizendo, pro gaiato, aquele que se
achava, bem que cairia bem este epitáfio: “sinto muita falta da sacanagem” ou
“deixei uma pá de gente chorando”.
Praquele que vivia nas
nuvens, esquecendo de tudo: “tinha uma coisinha pra falar, mas não consigo
lembrar”. O de bem com a vida, nunca esquentava com coisa nenhuma, que vivia
enxergando tudo azul com bolinhas brancas, bem que merecia no túmulo esta
inscrição: “quais são as novidades?”. O voluntário, que vivia ajudando os
outros e se metendo nessas campanhas pra tudo que é tipo: “quem não gosta daqui
que levante o braço”. Finalmente uma sugestão de epitáfio praquele sujeito
desconfiado com tudo e com todos: “tem alguma coisa cheirando mal por aqui”.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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