22 de ago. de 2013

O que tem a ver Barrichello com Parnaíba?

Outro dia parei pra pensar como duas situações tão distantes no tempo e no espaço podem ser tão próximas ao mesmo tempo. A primeira, a carreira do piloto de Fórmula 1, o brasileiro Rubens Barrichello, atualmente aposentado e comentarista da Rede Globo de Televisão. A segunda, a cidade de Parnaíba, na coroa do Piauí, que noutra época foi uma das maiores do Nordeste, tinha prestígio político, tinha indústria, tinha comércio, serviços, boas escolas, hospitais, um aeroporto que não era somente pra enfeite e que hoje se deixou ultrapassar por algumas cidades que nasceram a partir de um posto de gasolina.
Passada essa minha interpretação dos dois casos me veio o momento de colocar em ordem as coisas. Pra vocês que vem acompanhando e lendo meus artigos pode até parecer enfadonho esse negócio de toda semana ficar falando mal de Parnaíba, dizendo que a coisa aqui não anda, que os políticos são oportunistas, descompromissados e só pensam em se dar bem logo após as eleições e que a classe empresarial não se modernizou. Os meus leitores até podem ter razões pra deixarem de ler meus artigos. Mas eu tenho certeza que muitos deles concordam com minhas opiniões.
Mas voltando ao Barrichello, o piloto das pistas de Fórmula 1 e que todo mundo achava que seria o sucessor natural de Ayrton Sena, este tem uma característica que combina perfeitamente com a cidade piauiense e seu complexo de grandeza, que tendo conseguido status perde a ambição de continuar crescendo. Rubinho passou pela história do automobilismo mundial como um dos maiores azarões, pés-frios de que se tem lembrança até a presente data. Bem diferente de seu conterrâneo, que quando entrava na pista todo mundo sabia que era vitória na certa. E olhe que muitas e muitas vezes Sena começava lá atrás sem a menor chance de vencer a corrida.
E o Brasil inteiro ficava aos domingos em frente à televisão esperando o Galvão Bueno e o Reginaldo Leme falarem aquelas coisas todas. Em cada casa brasileira Ayrton Sena era feito um irmão que estava participando daquelas competições, levando a nossa marca e quando ele terminava a corrida vinha conduzindo a bandeira do Brasil e aí tocava aquela música que fizeram única e exclusivamente pra ele e que era e é a cara dele e só assenta com ele. Era aquele irmão que ia bem longe levar o nosso nome de família, dizer pra eles que a gente podia não ter lá grandes coisas, mas que tinha gana de chegar e ficar entre os grandes.
Mas Rubens Barrichello sempre foi diferente. Nem dá pra falar onde está a diferença entre os dois pilotos. Rubinho até onde todo mundo sabe é de família italiana, dessas encravadas no centro de São Paulo, ali pelo bairro do Bexiga e adjacências. Somente esta condição de ter um sobrenome italiano já lhe dá status dentro da selva paulistana quando ganha fama por fazer alguma coisa, principalmente no estrangeiro. Chegou ao circo da Fórmula 1 na carona de Sena. Ora, se com um brasileiro fazendo todo aquele reboliço no meio dos gringos, imagine dois brasileiros. Não iria ter pra ninguém. Era o que se imaginava.
Mas Rubinho foi uma das maiores decepções pros brasileiros. Nem é bom lembrar e nem falar da lista imensa de derrotas que sofreu em sua longa carreira. Nós brasileiros, quando ele estava numa pista, a gente rezava pra que acabasse. Não a dele, mas a nossa angústia. Angústia de ver todo mundo passando na frente dele e ele com aquela cara dentro do carro achando que ainda tinha condições de vencer a corrida se os outros pilotos quebrassem suas máquinas. Ficava ali como se os pneus do carro tivessem colados com chicletes. Era coisa de irritar a qualquer um. Coisa de fazer padre falar “diabo” com toda aquela lerdeza dele.
E a gente ficava ali roendo as unhas, se coçando no sofá, indo não sei quantas vezes ao banheiro, correndo até a cozinha escorrer no copo a última gota de café da garrafa térmica ou à procura de alguma coisa pra mastigar, quem sabe um pedaço de pão seco. Porque naquele momento era mais que um padecimento aquele nosso. Mal comparando e, que Deus me perdoe, era parecido com a Via Sacra. E como era bom quando acabava e a gente ficava sabendo, graças a Deus que ele estava vivo, estava bem e que os outros haviam passado na frente dele. Porque se ele ganhasse realmente ninguém nem poderia saber o que iria acontecer.

É o que anda acontecendo faz tempo com a Parnaíba. Segundo um documento divulgado recentemente com a autoridade da UNESCO, a cidade estava no ano 2000 na décima colocação entre as piauienses com maior IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano. Pelo tempo passado e as sucessivas intervenções era pra estar numa posição melhor. Agora em 2013 o mesmo documento aponta que pouca coisa mudou. Parnaíba não está entre as três primeiras, mas na quarta colocação, portanto fora do pódio. E pódio até onde eu e todo mundo sabe só tem três posições. Ninguém sabe se foi a Parnaíba que ensinou ao Rubinho Barrichello ou se foi o contrário. 

Pádua Marques
É jornalista e escritor

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