9 de jan. de 2013

Os caminhos para o Delta do Parnaíba




Delta do Parnaíba - Ave Guará
Desde pequeno sempre gostei de jipe. Primeiro o do meu pai, João Veloso, que saia de Floriano para Teresina em um jipe Willis, cara alta, sempre dando problemas mecânicos. Já adulto, fizemos um grupo de jipeiros em São Luís, formado pelos amigos Luís Alfredo Guterres, Luís Alfredo Simões, Gonçalo Gama, Francisco Queiroz, Airton e por mim, para passear pelos lençóis maranhenses e pelo Delta do Parnaíba. 

Nessas andanças, pude constatar que para se chegar ao Delta do Parnaíba há três caminhos: um pelo Piauí, outro pelo Ceará e outro pelo Maranhão. Pelo Piauí, vindo de qualquer lugar do país, chega-se a Teresina e depois se percorre 330 km de estrada asfaltada até a Cidade de Parnaíba. Vindo do Ceará o melhor caminho é a partir de Jericoacara, pela praia, de carro tracionado 4x4. É preciso apenas controlar a tábua de maré, é que na cheia os carros atolam em uma região de mangue. Passando o atoleiro, atravessa-se o rio pelo pontão em Camocim e a partir daí vai-se por estrada asfaltada margeando as belas praias piauienses. Por esse caminho se pode visitar a praia de Macapá, cujo povoado foi praticamente destruído pelo mar. Tem-se igualmente uma bela vista das praias do Coqueiro e Atalaia, até chegar à bucólica e acolhedora Luís Correia. Tanto em Parnaíba quanto em Luís Correia se encontra uma rede hoteleira razoável.

Chegando a Parnaíba pelo Piauí ou pelo Ceará, vai-se até o cais do porto, às margens do Rio Igaraçu, braço do Parnaíba, lá existem várias agências com passeios para o Delta. Há outra opção, caso você tenha um barco ou jet ski, dirija-se direto à Ilha Grande de Santa Isabel e de lá siga pelo Rio Parnaíba até a entrada dos igarapés, que ficam quase na foz do rio. Quem vai de jet ski ou de lancha pequena sente a forte influência das ondas, é divertido, todos se molham. A melhor companhia é a de Vigerlênio Machado, grande anfitrião das terras parnaibanas.

O passeio é ótimo. Entra-se pelo igarapé com vegetação de mangue às margens. É possível se observar macacos. Outro fato que chama bastante a atenção são as ostras que crescem nas raízes das árvores, quando a maré está seca é possível observar melhor. O mangue é rico em caranguejos e o turista pode, com a ajuda do guia, comprar alguns para cozinhar quando o barco parar. Em um dos igarapés há uma parada em uma ilha, chamada de Ilha dos Poldros. Lá uns espanhóis construíram uma casa, com piscina e churrasqueira. É um bom lugar para se comer os caranguejos adquiridos na viagem. O único problema é que a ilha é particular e é necessário convite dos proprietários.

Mais adiante há um porto onde os barcos das agências param, lá é possível comer os caranguejos e ainda experimentar o ovo de galinha caipira com gosto de marisco. É que as galinhas comem caranguejos, siris, ostras etc. Ah, ia esquecendo, as marolas só existem na confluência do rio com o mar, depois a água é calma. Após esse porto, o igarapé fica bem largo e se avistam as dunas. Lá na frente o barco estaciona, é possível subir as dunas a pé para fotografar e tomar uma cerveja gelada, aquela trazida no isopor de Parnaíba.

O terceiro caminho é pelo Maranhão, o destino é a Cidade de Tutóia. A viagem pode ser feita de duas formas a partir de São Luís. Uma é por Itapecuru-Mirim passando por Chapadinha e São Bernardo, a estrada é asfaltada e foi recentemente recuperada. Outra é por Barreirinhas, com 260 km até esta cidade de asfalto em ótimo estado de conservação. A partir daí tem-se 70 km de trilha pelas dunas, portanto, a aventura tem de ser com veículo 4x4.

A 40 km de Barreirinhas, pelas dunas, encontra-se a Cidade de Paulino Neves, conhecida pelos nativos como Rio Novo (este era o nome do povoado antes de se tornar município). Diz a lenda que antes não havia o rio caudaloso que hoje banha a cidade. De repente, por meio de um encanto, surgiu o rio. Segundo os moradores somente toma banho naquele rio o homem que se garante, o suspeito se revela. 

Na cidade existem pequenas pousadas e dois restaurantes. O viajante precavido encomenda a alimentação com antecedência, chegando fora de hora pode ter a surpresa de não encontrar comida, a não ser que mande matar uma galinha ou um pato e espere fazer. Mas, nessa hipótese, enquanto aguarda preparar, pode literalmente se refrescar nas águas do Rio Novo que passa nos quintais das casas. 

Depois de Paulino Neves a estrada melhora, apesar de ainda continuar de areia, mas é possível viajar de 4x2 em alguns trechos, no verão. Pertinho de Tutóia, uns 10 km, têm um lugar chamado Lagoinha, para quem não almoçou em Paulino Neves lá é uma boa opção. A comida é farta, tem muito camarão e ostra. Há um banho excelente de água doce e as crianças podem se divertir à vontade, o local de banho é raso. Aos domingos vira um balneário, com roda de samba e forró. Quem quer sossego é bom evitar esse dia.

Tutóia é uma cidade pequena, com cerca 45 mil habitantes e uma estrutura hoteleira composta de pousadas, das quais se destacam a Jagatá e a Tutóia Palace. A primeira situa-se na proximidade da praia, um lugar aprazível, a segunda na proximidade do rio, mais no centro, é conhecida como a pousada da promotora. Aos finais de semana e na alta temporada é sempre bom reservar com antecedência. 

Há dois passeios recomendáveis. Um de buggy ou 4x4 para a praia do amor e outro de lancha pelo Delta. O passeio pelo Delta é realizado em dois barcos pequenos, a motor. Saem da cidade por volta das 8h e retornam no final da tarde, com a opção de se ver a revoada dos guarás. Os guarás são garças vermelhas, cuja coloração se deve à alimentação composta basicamente de uma espécie de caranguejo vermelho, existente em abundância naquelas paragens. Quando essas garças deixam de se alimentar dos caranguejos vão perdendo a cor avermelhada e voltando a ser brancas.

Pega-se o barco em um pequeno porto na margem do rio, no centro da cidade. Quando a maré está enchendo o barco tem dificuldade para chegar até à baía de Tutóia. No meio da baía há um navio todo enferrujado, encalhado. Do outro lado fica a Ilha do Cajueiro, onde se manda preparar o almoço. E é bom que se faça isso porque o serviço é demorado. 

Depois se entra em um igarapé, pelo mangue, quando se tem a visão dos pequenos caranguejos vermelhos, de garças e de pequenos peixes, chamados de quatrolhos. Durante a viagem o igarapé vai se abrindo até se avistar uma outra ilha, a do Caju. Nesta há um hotel fazenda, pertencente a uns descendentes de ingleses, a família Clark.

A Ilha do Caju é estreita e comprida, dá para atravessá-la verticalmente a pé. Do lado do canal pode-se tomar banho enquanto as crianças descem as dunas em surfboard. É preciso cuidado com a correnteza da maré, enchendo ou secando, é muita velocidade e pode arrastar uma pessoa. 

Depois da Ilha do Caju, o passeio se completa, após o almoço, com as visitas às Ilhas da Melancieira e do Coroatá. Já no final da tarde, os barcos se dirigem à Ilha dos Guarás, lá são ancorados em local estrategicamente discreto e os turistas aguardam a chegada das aves, que para lá se dirigem após um dia de caçada, a fim de passar a noite, cuidar de seus filhotes e fazer seus ninhos. É um espetáculo da natureza, elas aparecem em pequenos bandos e vão se juntando na copa das árvores. É algo indescritível, só indo lá parar ver, mas não esqueçam de me convidar para ir junto.

Roberto Carvalho Veloso é Juiz Federal e professor doutor da UFMA/ Para o Portal az
Edição Blog do Pessoa 

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