Delta do Parnaíba - Ave Guará |
Nessas andanças, pude constatar que para se chegar ao Delta do Parnaíba há três caminhos: um pelo Piauí, outro pelo Ceará e outro pelo Maranhão. Pelo Piauí, vindo de qualquer lugar do país, chega-se a Teresina e depois se percorre 330 km de estrada asfaltada até a Cidade de Parnaíba. Vindo do Ceará o melhor caminho é a partir de Jericoacara, pela praia, de carro tracionado 4x4. É preciso apenas controlar a tábua de maré, é que na cheia os carros atolam em uma região de mangue. Passando o atoleiro, atravessa-se o rio pelo pontão em Camocim e a partir daí vai-se por estrada asfaltada margeando as belas praias piauienses. Por esse caminho se pode visitar a praia de Macapá, cujo povoado foi praticamente destruído pelo mar. Tem-se igualmente uma bela vista das praias do Coqueiro e Atalaia, até chegar à bucólica e acolhedora Luís Correia. Tanto em Parnaíba quanto em Luís Correia se encontra uma rede hoteleira razoável.
Chegando a Parnaíba pelo Piauí ou pelo Ceará, vai-se até o cais do porto, às margens do Rio Igaraçu, braço do Parnaíba, lá existem várias agências com passeios para o Delta. Há outra opção, caso você tenha um barco ou jet ski, dirija-se direto à Ilha Grande de Santa Isabel e de lá siga pelo Rio Parnaíba até a entrada dos igarapés, que ficam quase na foz do rio. Quem vai de jet ski ou de lancha pequena sente a forte influência das ondas, é divertido, todos se molham. A melhor companhia é a de Vigerlênio Machado, grande anfitrião das terras parnaibanas.
O passeio é ótimo. Entra-se pelo igarapé com vegetação de mangue às margens. É possível se observar macacos. Outro fato que chama bastante a atenção são as ostras que crescem nas raízes das árvores, quando a maré está seca é possível observar melhor. O mangue é rico em caranguejos e o turista pode, com a ajuda do guia, comprar alguns para cozinhar quando o barco parar. Em um dos igarapés há uma parada em uma ilha, chamada de Ilha dos Poldros. Lá uns espanhóis construíram uma casa, com piscina e churrasqueira. É um bom lugar para se comer os caranguejos adquiridos na viagem. O único problema é que a ilha é particular e é necessário convite dos proprietários.
Mais adiante há um porto onde os barcos das agências param, lá é possível comer os caranguejos e ainda experimentar o ovo de galinha caipira com gosto de marisco. É que as galinhas comem caranguejos, siris, ostras etc. Ah, ia esquecendo, as marolas só existem na confluência do rio com o mar, depois a água é calma. Após esse porto, o igarapé fica bem largo e se avistam as dunas. Lá na frente o barco estaciona, é possível subir as dunas a pé para fotografar e tomar uma cerveja gelada, aquela trazida no isopor de Parnaíba.
O terceiro caminho é pelo Maranhão, o destino é a Cidade de Tutóia. A viagem pode ser feita de duas formas a partir de São Luís. Uma é por Itapecuru-Mirim passando por Chapadinha e São Bernardo, a estrada é asfaltada e foi recentemente recuperada. Outra é por Barreirinhas, com 260 km até esta cidade de asfalto em ótimo estado de conservação. A partir daí tem-se 70 km de trilha pelas dunas, portanto, a aventura tem de ser com veículo 4x4.
A 40 km de Barreirinhas, pelas dunas, encontra-se a Cidade de Paulino Neves, conhecida pelos nativos como Rio Novo (este era o nome do povoado antes de se tornar município). Diz a lenda que antes não havia o rio caudaloso que hoje banha a cidade. De repente, por meio de um encanto, surgiu o rio. Segundo os moradores somente toma banho naquele rio o homem que se garante, o suspeito se revela.
Na cidade existem pequenas pousadas e dois restaurantes. O viajante precavido encomenda a alimentação com antecedência, chegando fora de hora pode ter a surpresa de não encontrar comida, a não ser que mande matar uma galinha ou um pato e espere fazer. Mas, nessa hipótese, enquanto aguarda preparar, pode literalmente se refrescar nas águas do Rio Novo que passa nos quintais das casas.
Depois de Paulino Neves a estrada melhora, apesar de ainda continuar de areia, mas é possível viajar de 4x2 em alguns trechos, no verão. Pertinho de Tutóia, uns 10 km, têm um lugar chamado Lagoinha, para quem não almoçou em Paulino Neves lá é uma boa opção. A comida é farta, tem muito camarão e ostra. Há um banho excelente de água doce e as crianças podem se divertir à vontade, o local de banho é raso. Aos domingos vira um balneário, com roda de samba e forró. Quem quer sossego é bom evitar esse dia.
Tutóia é uma cidade pequena, com cerca 45 mil habitantes e uma estrutura hoteleira composta de pousadas, das quais se destacam a Jagatá e a Tutóia Palace. A primeira situa-se na proximidade da praia, um lugar aprazível, a segunda na proximidade do rio, mais no centro, é conhecida como a pousada da promotora. Aos finais de semana e na alta temporada é sempre bom reservar com antecedência.
Há dois passeios recomendáveis. Um de buggy ou 4x4 para a praia do amor e outro de lancha pelo Delta. O passeio pelo Delta é realizado em dois barcos pequenos, a motor. Saem da cidade por volta das 8h e retornam no final da tarde, com a opção de se ver a revoada dos guarás. Os guarás são garças vermelhas, cuja coloração se deve à alimentação composta basicamente de uma espécie de caranguejo vermelho, existente em abundância naquelas paragens. Quando essas garças deixam de se alimentar dos caranguejos vão perdendo a cor avermelhada e voltando a ser brancas.
Pega-se o barco em um pequeno porto na margem do rio, no centro da cidade. Quando a maré está enchendo o barco tem dificuldade para chegar até à baía de Tutóia. No meio da baía há um navio todo enferrujado, encalhado. Do outro lado fica a Ilha do Cajueiro, onde se manda preparar o almoço. E é bom que se faça isso porque o serviço é demorado.
Depois se entra em um igarapé, pelo mangue, quando se tem a visão dos pequenos caranguejos vermelhos, de garças e de pequenos peixes, chamados de quatrolhos. Durante a viagem o igarapé vai se abrindo até se avistar uma outra ilha, a do Caju. Nesta há um hotel fazenda, pertencente a uns descendentes de ingleses, a família Clark.
A Ilha do Caju é estreita e comprida, dá para atravessá-la verticalmente a pé. Do lado do canal pode-se tomar banho enquanto as crianças descem as dunas em surfboard. É preciso cuidado com a correnteza da maré, enchendo ou secando, é muita velocidade e pode arrastar uma pessoa.
Depois da Ilha do Caju, o passeio se completa, após o almoço, com as visitas às Ilhas da Melancieira e do Coroatá. Já no final da tarde, os barcos se dirigem à Ilha dos Guarás, lá são ancorados em local estrategicamente discreto e os turistas aguardam a chegada das aves, que para lá se dirigem após um dia de caçada, a fim de passar a noite, cuidar de seus filhotes e fazer seus ninhos. É um espetáculo da natureza, elas aparecem em pequenos bandos e vão se juntando na copa das árvores. É algo indescritível, só indo lá parar ver, mas não esqueçam de me convidar para ir junto.
Roberto Carvalho Veloso é Juiz Federal e professor doutor da UFMA/ Para o Portal az
Edição Blog do Pessoa
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