O caso de saúde foi confirmado pelo professor de Ciências Farmacêuticas, Silva Néto.
Há 15 anos, o estudante Moisés Pereira vem convivendo com a constante presença da enxaqueca em sua vida. A doença, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, tornou-se uma parte indesejada de seu cotidiano. No entanto, foi recentemente que ele fez uma descoberta surpreendente: a melancia, uma fruta aparentemente inofensiva, poderia estar agravando suas crises de enxaqueca.
“Desde os quinze anos, passei por um período de adaptação, pois era necessário identificar o que desencadeava ou agravava minhas crises e, assim, determinar quais alimentos evitar. Então, logo percebi que a melancia, uma fruta que adoro consumir em grande quantidade, estava me prejudicando. Atualmente, consumo muito menos melancia e, até quando apresento sintomas, evito ingerir essa fruta", disse.
Professor de Ciências Farmacêuticas, Silva Néto. Foto: Luis Fernando Amaranes/ Correio Piauiense |
A melancia pode aumentar a intensidade da dor de cabeça em pacientes que sofrem de enxaqueca.Moisés não está sozinho nessa preocupação. Muitas pessoas já ouviram falar que a melancia pode desencadear enxaquecas quando consumida, e essa suposição foi confirmadapelo professor de Ciências Farmacêuticas, Silva Néto, da Universidade Federal Delta do Parnaíba (UFDpar), por meio de uma pesquisa de pós-doutorado.
Essa pesquisa, desenvolvida ao longo de dois anos, foi realizada com grande rigor científico. Para comprovar o possível malefício da fruta, foi realizada uma amostra dividindo participantes entre aqueles que sofriam de enxaqueca e aqueles que não eram afetados pela doença. Os resultados revelaram uma interessante descoberta sobre a melancia.
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A pesquisa contou com o apoio de estudantes da instituição. Foto: Luis Fernando Amaranes/ Correio Piauiense |
"A pesquisa foi conduzida ao longo de cerca de dois anos, durante os quais recrutamos estudantes do curso de medicina. Um total de 76 alunos voluntariaram-se, sendo que metade deles tinha enxaqueca, enquanto a outra metade não apresentava esse problema. Todos os voluntários consumiram uma porção de melancia e foram observados durante 24 horas. Foi constatado que apenas o grupo com enxaqueca desenvolveu dor de cabeça, e essa dor surgiu de forma bastante precoce. A melancia atuou como um gatilho para desencadear essa dor em indivíduos suscetíveis", explicou.
"A dor de cabeça provocada pela melancia ocorre devido à presença de um aminoácido chamado citrulina na fruta. Este aminoácido é a principal fonte de citrulina na natureza e se converte em outro aminoácido, a arginina, que por sua vez causa a produção de óxido nítrico. O óxido nítrico age no cérebro como um potente vasodilatador, causando a dor. Portanto, sempre que um indivíduo sensível ao consumo de melancia a ingere, ele experimenta dor de cabeça por meio desses mecanismos", concluiu o professor.
O trabalho árduo e a dedicação resultaram em um achado de grande importância para a comunidade médica global. Para Gabriela Leal, acadêmica de Medicina envolvida no projeto, a jornada foi desafiadora, mas igualmente gratificante. Ela enfatiza a relevância desse estudo para a medicina moderna.
“Sinto-me profundamente grata por fazer parte deste projeto, pois considero um avanço significativo na área da enxaqueca. Quando uma descoberta como essa ocorre e revela que a melancia pode ser um gatilho para a enxaqueca, isso valida as queixas dos pacientes. Agora, quando um paciente relatar ter sentido dor de cabeça após consumir melancia, podemos afirmar que existe uma correlação real. É crucial destacar que essa informação inédita contribui não apenas para a medicina local, mas também para a comunidade médica global”, explicou.
A pesquisa inédita no país, conduzida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi publicada neste ano em revistas internacionais, como a European Neurology.
Dados
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enxaqueca atinge cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, tornando-se a sexta doença crônica mais prevalente. No Brasil, 15% da população sofre de forma crônica, enfrentando crises que duram 15 dias ou mais por mês.
Por: Luis Fernando Amaranes e Suzana Moreno | correiopiauiense.com.br | Edição - Luis Fernando Amaranes