Neste domingo, acompanhado do Canindé Correia, seu sobrinho, fui visitar o Dr. Lauro Andrade Correia. Neste Diário já tive ocasião de escrever nota sobre a sua profícua vida de labor e dedicação aos estudos. Entregou-me um exemplar do Jornal do Advogado, no qual foi publicado o texto Um Mestre Inesquecível, em que lhe presto sincera homenagem, e o artigo Pela Grandeza e Beleza de Amarante, da autoria do insigne mestre.
Falou de suas causas e lutas com energia e entusiasmo, parecendo um garoto, em seus 86 anos de idade. Ao longo de algumas décadas, tenho acompanhado a vida laboriosa de Lauro Correia, e o considero um grande paladino das lutas em prol da preservação do Rio Parnaíba, da implantação do porto de Luís Correia e da construção da ferrovia Transpiauí, que se estenderia de Eliseu Martins a Luís Correia, desde os tempos em que ele presidiu a FIEPI e foi diretor do Campus Ministro Reis Velloso e do SESI-PI. Defendeu essas causas nos vários encontros e audiências públicas de que participou e em mais de meia centena de artigos e pequenos ensaios que escreveu, alguns dos quais enfeixados em plaquetas.
Felizmente, essa triste profecia ainda não se cumpriu inteiramente, mas as inúmeras coroas de areia, a largura imensa do Parnaíba em vários pontos e o seu pequeno calado em muitos trechos são provas de que ele caminha no rumo de um melancólico e indesejável ocaso. Dr. Lauro Correia, engenheiro e advogado, tem estudado o nosso maior rio, sob os mais diferentes aspectos, em profundidade, e apontado as soluções. Mas é quase uma voz clamando no deserto da insensibilidade, descaso e incompreensões, porquanto entra governo e sai governo e nenhuma medida séria e enérgica foi tomada até agora para impedir a inexorável degradação desse curso d' água cantado e louvado por vários poetas, mormente o grande Da Costa e Silva.
Entretanto, com pesar o digo, medidas sérias estão sendo adotadas, mas para apressar o seu fim: a construção de cinco barragens, que segundo Lauro Correia e outros estudiosos impedirão a navegabilidade e contribuirão de forma acentuada para a degradação do rio e do meio ambiente. Uma das barragens ameaça de forma assustadora a bela, bucólica e histórica cidade de Amarante, pois inundaria parte dela e atingiria alguns de seus vetustos e memoriais solares. Segundo Lauro Correia, com a construção das barragens, o volume d' água vai diminuir, o que trará consequências catastróficas ao ecossistema.
Além das óbvias, um desses efeitos danosos seria a salinização do Delta do Parnaíba, pois a força das marés passaria a exercer maior influência sobre o rio, tornando mais salobras suas águas, podendo chegar a comprometer o atual sistema de abastecimento de Parnaíba, hoje localizado em Rosápolis, perto de onde pesquei e banhei diversas vezes, em minha juventude.
Nada justificaria a construção dessas barragens; além dos enormes prejuízos que elas causariam ao Parnaíba, cada uma delas produziria apenas 60 megawatts, que seriam supridos, com inúmeras vantagens, por usinas eólicas, a serem construídas no litoral piauiense e no município de Paulistana.
Urge, pois, que essas vozes que clamam no deserto, e entre elas a de Lauro Correia, esse Quixote, não da Mancha, mas do Delta Parnaibano, sejam finalmente ouvidas e acatadas, e que as providências cabíveis e necessárias sejam adotadas, sem titubeios e delongas.
28 de julho de 2010
Elmar Carvalho