7 de mai. de 2023

O SONHO DE LAURO: A FERROVIA, O RIO E O PORTO



Neste domingo, acompanhado do Canindé Correia, seu sobrinho, fui visitar o Dr. Lauro Andrade Correia. Neste Diário já tive ocasião de escrever nota sobre a sua profícua vida de labor e dedicação aos estudos. Entregou-me um exemplar do Jornal do Advogado, no qual foi publicado o texto Um Mestre Inesquecível, em que lhe presto sincera homenagem, e o artigo Pela Grandeza e Beleza de Amarante, da autoria do insigne mestre.

Falou de suas causas e lutas com energia e entusiasmo, parecendo um garoto, em seus 86 anos de idade. Ao longo de algumas décadas, tenho acompanhado a vida laboriosa de Lauro Correia, e o considero um grande paladino das lutas em prol da preservação do Rio Parnaíba, da implantação do porto de Luís Correia e da construção da ferrovia Transpiauí, que se estenderia de Eliseu Martins a Luís Correia, desde os tempos em que ele presidiu a FIEPI e foi diretor do Campus Ministro Reis Velloso e do SESI-PI. Defendeu essas causas nos vários encontros e audiências públicas de que participou e em mais de meia centena de artigos e pequenos ensaios que escreveu, alguns dos quais enfeixados em plaquetas.

O Piauí parece estar navegando contra as correntes e os ventos da lógica econômica e administrativa. Essas duas vias – a fluvial e a ferroviária – que tem numa extremidade os cerrados piauienses, com a sua avantajada produção de soja e outros grão, e na outra, o futuro porto marítimo de nosso estado, sem dúvida barateariam o transporte desses produtos, dando-lhes maior competitividade em relação a outros centros produtores. O rio Parnaíba, como todo mundo sabe, vem se esvaindo em lenta agonia. Meu pai, em 1940, no colégio Diocesano, ouviu o acadêmico e professor de Geografia, Álvaro Ferreira, dizer que se providências não fossem tomadas esse grande rio morreria em cinquenta anos.

Felizmente, essa triste profecia ainda não se cumpriu inteiramente, mas as inúmeras coroas de areia, a largura imensa do Parnaíba em vários pontos e o seu pequeno calado em muitos trechos são provas de que ele caminha no rumo de um melancólico e indesejável ocaso. Dr. Lauro Correia, engenheiro e advogado, tem estudado o nosso maior rio, sob os mais diferentes aspectos, em profundidade, e apontado as soluções. Mas é quase uma voz clamando no deserto da insensibilidade, descaso e incompreensões, porquanto entra governo e sai governo e nenhuma medida séria e enérgica foi tomada até agora para impedir a inexorável degradação desse curso d' água cantado e louvado por vários poetas, mormente o grande Da Costa e Silva.

Entretanto, com pesar o digo, medidas sérias estão sendo adotadas, mas para apressar o seu fim: a construção de cinco barragens, que segundo Lauro Correia e outros estudiosos impedirão a navegabilidade e contribuirão de forma acentuada para a degradação do rio e do meio ambiente. Uma das barragens ameaça de forma assustadora a bela, bucólica e histórica cidade de Amarante, pois inundaria parte dela e atingiria alguns de seus vetustos e memoriais solares. Segundo Lauro Correia, com a construção das barragens, o volume d' água vai diminuir, o que trará consequências catastróficas ao ecossistema.

Além das óbvias, um desses efeitos danosos seria a salinização do Delta do Parnaíba, pois a força das marés passaria a exercer maior influência sobre o rio, tornando mais salobras suas águas, podendo chegar a comprometer o atual sistema de abastecimento de Parnaíba, hoje localizado em Rosápolis, perto de onde pesquei e banhei diversas vezes, em minha juventude.

Nada justificaria a construção dessas barragens; além dos enormes prejuízos que elas causariam ao Parnaíba, cada uma delas produziria apenas 60 megawatts, que seriam supridos, com inúmeras vantagens, por usinas eólicas, a serem construídas no litoral piauiense e no município de Paulistana.

Urge, pois, que essas vozes que clamam no deserto, e entre elas a de Lauro Correia, esse Quixote, não da Mancha, mas do Delta Parnaibano, sejam finalmente ouvidas e acatadas, e que as providências cabíveis e necessárias sejam adotadas, sem titubeios e delongas.

28 de julho de 2010

Elmar Carvalho

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