A recente melhora no desempenho do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas de intenção de voto causou apreensão no núcleo de decisões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deverá apressar sua apresentação formal como pré-candidato petista ao Palácio do Planalto para o início de abril.A data ainda não está marcada, mas o evento ocorrerá logo seja fechada a chamada janela partidária, ou seja, no dia 1º de abril, quando termina o prazo para a mudança de partidos ou filiações de quem concorrerá à eleição neste ano.
O PT planeja um grande um grande ato em São Paulo, reunindo aliados e o ex-governador Geraldo Alckmin, escolhido como vice, e que ainda negocia sua filiação com algum partido da base de Lula, seja o PV, ou PSB.
Antes do lançamento oficial da pré-campanha, Lula fará duas viagens: Uma delas será para Curitiba, no dia 18, para participar da filiação do ex-senador Roberto Requião ao PT. Requião será o nome do partido para disputar o governo do estado.
A outra viagem será para o Rio de Janeiro, no dia 30 de abril, para participar do Congresso do PCdoB, partido que se unirá ao PT e ao PV em uma federação pró-Lula.
A urgência de colocar a campanha na rua foi motivo de conversa de Lula com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, durante a volta da viagem ao México no início da semana. Lula disse à deputada ter chegado a hora de começar a colocar o pé na estrada, já como pré-candidato formal.
A preocupação com o crescimento das intenções de voto de Bolsonaro é o principal motivo. O desejo é frear esse avanço de Bolsonaro, principalmente na Região Nordeste. De acordo com petistas do entorno de Lula, ainda não há uma data certa para a ida de Lula ao Nordeste, no entanto, essa deve ser uma das primeiras ações do pré-candidato petista.
Bolsonaro é considerado um adversário perigoso, por ter nas mãos a máquina pública e por já ter conseguido reverter boa parte da diferença com o petista, lançando mão de programas sociais como o auxílio emergencial para enfrentar os problemas causados pela pandemia de coronavírus e o Auxílio Brasil – substituto do Bolsa Família.
Distância cada vez menor
Além disso, Bolsonaro vem ganhando terreno desde o fim do no passado, após o lançamento do Auxílio Brasil e com as constantes viagens pelo país, no que vem sendo criticado como campanha antecipada. O que mais assusta os petistas é a diminuição da distância entre Lula e o atual presidente. Duas pesquisas divulgadas nesta semana captaram essa tendência.
Na consulta do instituto Paraná Pesquisas, Lula manteve a liderança tanto na consulta espontânea quanto na estimulada, mas o jogo apertou. No cenário estimulado, Bolsonaro ficou oito pontos percentuais atrás do petista. Lula marcou 38,9% e Bolsonaro 30,9%.
Essa distância já foi maior. Em fevereiro, era de 11 pontos percentuais, de acordo com o levantamento do mesmo instituto, e reforçava o favoritismo de Lula, indicando, inclusive, a possibilidade de vitória do petista no 1º turno. Lula teve 40,1% dos votos, seguido por Jair Bolsonaro, com 29,1%.
Os dois têm rejeição alta, com a de Bolsonaro no patamar de 55,8%, e Lula, de 47,4%.
A pesquisa divulgada pelo instituto Ipespe na sexta-feira (11/3) mostrou que o petista segue com 43% das intenções de voto na pesquisa estimulada, e oscilando de 35% para 36% na espontânea.
Bolsonaro somou 28% das intenções de votos, e conseguiu reduzir a diferença em relação a Lula para 15 pontos percentuais. Na primeira pesquisa Ipespe do ano, o saldo era de 20 pontos. Antes, na estimulada, Bolsonaro havia marcado 26%. Na espontânea, o ex-capitão chegou a 26%, um ponto acima da última pesquisa anterior.
Diante dos resultados, a decisão no núcleo de Lula é ativar a campanha e a militância. “Nós vamos colocar nossa campanha na rua. Está todo mundo em campanha. Bolsonaro faz campanha o tempo inteiro”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE), um dos dirigentes mais próximos do ex-presidente.
“Sem clima de já ganhou”
Lula não faz segredo da corrida para se lançar. Em evento com mulheres nesta semana, ele apontou que “não será fácil” sua eleição e rejeitou o clima de “já ganhou”.
“A luta não será fácil. Não existe essa do ‘já ganhou’. Eleição a gente só sabe o resultado depois da apuração”, disse Lula a uma plateia de apoiadoras.
O impacto da recente subida de Bolsonaro nas pesquisas foi tema de discussãojá na segunda-feira (7/3), em reunião de petistas organizada pela Fundação Perseu Abramo.
No encontro, que costuma ocorrer sempre às segundas, a avaliação unânime foi de que era realmente necessário colocar a pré-campanha e a mobilização da militância na rua.
Bloco na rua
A discussão também permeou os debates em relação à federação. Um dos pontos considerados para o desfecho desta semana, com o PSB abandonando a perspectiva de entrar na federação e optando por apenas se coligar, em parte se deveu à urgência de já colocar o bloco na rua.
“Não dá para ficarmos discutindo a federação enquanto o Bolsonaro faz campanha todos os dias viajando pelo país”, avaliou um integrante do PSB.
“Tudo que o Bolsonaro quer é que a gente fique aqui se digladiando para resolver disputas estaduais em nome de uma federação. É hora de a gente começar a percorrer o país como uma frente contra o atual governo”, enfatizou um dos membros do PSB.
“Está na hora de a gente pensar no que nos une e parar de discutir o que nos separa”, enfatizou o presidente do PSB, Carlos Siqueira, ao anunciar a desistência da federação.
Fonte: Metropoles