Até quando a saúde lhe permitiu, o ex-ministro Reis Velloso, falecido ontem, no Rio de Janeiro, aos 87 anos, vinha anualmente ao Piauí, de forma discreta, quase anônima. Era geralmente em julho, pois gostava de festejar seu aniversário (no dia 12) na terra natal, Parnaíba.
Entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990, quando eu era o editor-chefe do Bom Dia Piauí, na TV Clube, o ex-ministro fazia uma dessas visitas ao Estado.
Então, acertei com ele, à noite, pelo telefone do hotel, sem intermediários, uma entrevista para a televisão, na manhã seguinte.
Cedinho, no outro dia, fui pegá-lo no Rio Poty Hotel, como combinado. O ministro já estava à minha espera. Ele entrou em meu carro e seguiu comigo até à televisão conversando animadamente sobre o Piauí.
O superministro
João Paulo dos Reis Velloso vem sendo lembrado, desde ontem, como o superministro que comandou a economia do país por dez anos (1969-1979, nos Governos Médici e Geisel).
Sua gestão foi marcada pelo apogeu do chamado “milagre brasileiro”. No período, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chegou a 14% ao ano. Esse desempenho econômico jamais se repetiu no país.
Reis Velloso está sendo lembrado, também, como um economista que colaborou na formulação dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) e fundou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Fórum Nacional
Também está sendo lembrado como alguém que, mesmo fora do poder, desde 1979, se manteve até o fim como uma das referências nacionais quando o assunto era economia. Fundou o Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae) e anualmente promovia o Fórum Nacional.
Esse evento contou sempre com a participação de economistas, empresários e cientistas políticos para debater propostas de desenvolvimento econômico e social e de modernização do país.
Sob sua presidência, o Fórum completou 30 edições no ano passado. Há cerca de dois anos, devido aos problemas de saúde, o ex-ministro foi substituído no comando do Fórum Nacional pelo irmão Raul Velloso, que esteve em Teresina na semana passada.
Cofre aberto para o Piauí
No Piauí, ele vem sendo lembrado como o piauiense que, no Ministério do Planejamento, entre 1969 e 1979, dispensou um tratamento diferenciado ao seu Estado. Foi um facilitador de muitas obras estruturantes realizadas nos Governos Alberto Silva e Dirceu Arcoverde.
O Reis Velloso que me marcou, porém, desde aquela manhã de julho, quando fui apanhá-lo no hotel para uma entrevista, há uns 30 anos, foi o que se fez um homem elegante e simples, que não permitiu ao poder subir-lhe à cabeça.
Foi o homem que, no breve percurso do hotel à TV, encantou-me pelas ideias bem articuladas e a grande fluência verbal.
E que, apesar de toda a louvação nacional, andava muito à vontade naquele automóvel popular sem ar-condicionado, com ar de felicidade, o cotovelo direito apoiado na porta e sem reparar que estava em um velho e desconfortável Chevette 1982, meu carro da época!
Que sua alma descanse em paz!
Imagem: Reprodução/TV Cidade Verde