A gente vai ao centro de
Parnaíba e nem tem tempo de esquentar a bunda no banco da praça da Graça e já
vem uma mocinha com um papel lhe entregando. Dia desses, eu fiz uma excursão
pra aquelas bandas, uma segunda-feira, dessas de início de mês, que é quando
todo mundo está enchendo a burra, pagando carnê do Paraíba, da Macavi, daqueles
empréstimos consignados. Isso sem falar nas contas de luz, de água, da farmácia
e da ótica.
Porque se existe em cima
da terra bicho pra gostar de dever e de pagar conta, esse bicho é pobre. Pobre
parece que tem uma atração, feito relâmpago por pedra de corisco ali pras
bandas da Piracuruca e do Bom Princípio, pra correr pra dentro de loja e fila
de lotérica em dia que coloca um tostão no bolso. E nessa história toda fica
ali na praça e adjacências recebendo de minuto a minuto papel de propaganda,
que antigamente a gente chamava de reclame.
Papel de propaganda de
loja de pneus, óticas, empréstimos consignados, material de construção,
consultório de dentista, celular, principalmente desses que pegam até briga de
Deus com o diabo, ajudam a falar mal da vida alheia, espalham fofocas da Câmara
Municipal, dos secretários do Mão Santa, do Wellington Dias e das trapalhadas
do Governo Federal e que fazem a alegria dos netinhos quando o vovô vai receber
o dinheiro. A gente leva menos de quinze minutos pra receber essa papelada
toda.
Porque se todas aqueles
reclames de tudo que é coisa que a gente recebe sentado no banco da praça da
Graça fossem cédulas de cem contos, a
gente voltava pra casa de burra estufada. Terra pra ter gente que gosta de dar
papel pros outros. Mas tudo isso é porque não tem serviço, emprego, coisa pra
se ocupar. Então fica essa coisa da cidade viver sem expectativa de produzir
bens de consumo. E não produzindo bens de consumo não tem mercado.
Parnaíba vive de dinheiro
de aposentados e dos pagamentos da prefeitura e do governo do Estado. Dia
desses, meu amigo Ozéas Castelo Branco Furtado, que tem uma concessão de um
canal de televisão, numa entrevista ao jornalista Bernardo Silva, disse que é
muito difícil manter um negócio desse porte sem o apoio da publicidade
empresarial. Ele tem razão e muita pra reclamar. A cidade está impestada de
blogs e portais. Na sua maioria de péssima referência e qualidade no que
publicam.
E toda essa
publicidade aparentemente barata não causa impacto, acaba se perdendo porque na
primeira lata de lixo vai pro cesto andar, que é o lugar certo de produto ruim.
Não se anuncia. Não se procura a televisão e o rádio, que são as mídias mais
duradouras e de retorno garantido. Quem faz publicidade em portais e blogs paga
uma miséria. Então fica essa cidade de papel. A gente volta pra casa e vem
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor