8 de fev. de 2019

Parnaíba, a cidade de papel.

A gente vai ao centro de Parnaíba e nem tem tempo de esquentar a bunda no banco da praça da Graça e já vem uma mocinha com um papel lhe entregando. Dia desses, eu fiz uma excursão pra aquelas bandas, uma segunda-feira, dessas de início de mês, que é quando todo mundo está enchendo a burra, pagando carnê do Paraíba, da Macavi, daqueles empréstimos consignados. Isso sem falar nas contas de luz, de água, da farmácia e da ótica.
Porque se existe em cima da terra bicho pra gostar de dever e de pagar conta, esse bicho é pobre. Pobre parece que tem uma atração, feito relâmpago por pedra de corisco ali pras bandas da Piracuruca e do Bom Princípio, pra correr pra dentro de loja e fila de lotérica em dia que coloca um tostão no bolso. E nessa história toda fica ali na praça e adjacências recebendo de minuto a minuto papel de propaganda, que antigamente a gente chamava de reclame.

Papel de propaganda de loja de pneus, óticas, empréstimos consignados, material de construção, consultório de dentista, celular, principalmente desses que pegam até briga de Deus com o diabo, ajudam a falar mal da vida alheia, espalham fofocas da Câmara Municipal, dos secretários do Mão Santa, do Wellington Dias e das trapalhadas do Governo Federal e que fazem a alegria dos netinhos quando o vovô vai receber o dinheiro. A gente leva menos de quinze minutos pra receber essa papelada toda.

Porque se todas aqueles reclames de tudo que é coisa que a gente recebe sentado no banco da praça da Graça fossem cédulas  de cem contos, a gente voltava pra casa de burra estufada. Terra pra ter gente que gosta de dar papel pros outros. Mas tudo isso é porque não tem serviço, emprego, coisa pra se ocupar. Então fica essa coisa da cidade viver sem expectativa de produzir bens de consumo. E não produzindo bens de consumo não tem mercado.

Parnaíba vive de dinheiro de aposentados e dos pagamentos da prefeitura e do governo do Estado. Dia desses, meu amigo Ozéas Castelo Branco Furtado, que tem uma concessão de um canal de televisão, numa entrevista ao jornalista Bernardo Silva, disse que é muito difícil manter um negócio desse porte sem o apoio da publicidade empresarial. Ele tem razão e muita pra reclamar. A cidade está impestada de blogs e portais. Na sua maioria de péssima referência e qualidade no que publicam.

E toda essa publicidade aparentemente barata não causa impacto, acaba se perdendo porque na primeira lata de lixo vai pro cesto andar, que é o lugar certo de produto ruim. Não se anuncia. Não se procura a televisão e o rádio, que são as mídias mais duradouras e de retorno garantido. Quem faz publicidade em portais e blogs paga uma miséria. Então fica essa cidade de papel. A gente volta pra casa e vem 


Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor 

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