Documentos da embaixada brasileira em Cuba mostram que tratativas foram mantidas em sigilo para evitar reação da classe médica brasileira. Procurados, PT e Dilma disseram que não vão comentar. Ex-ministro afirma que programa foi negociado publicamente, aprovado e prorrogado pelo Congresso.
Telegramas da embaixada brasileira em Havana revelam que partiu de Cuba
a proposta para criar o programa Mais Médicos no Brasil, e que a negociação com
o governo Dilma Rousseff (PT) ocorreu de forma secreta. Os documentos mostram
ainda que foi adotada uma estratégia para que o programa fosse colocado em
prática sem precisar da aprovação do Congresso Nacional. A troca de mensagens
foi publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo" e confirmada pela TV
Globo.
Segundo a reportagem, Cuba apresentou todo o projeto, desde o envio de
médicos e enfermeiras, até a assessoria para a construção de hospitais, a
preços vantajosos, demonstrando a negociação de um acordo comercial entre os
dois países.
Os telegramas, mantidos em sigilo por cinco anos, mostram que as
negociações foram confidenciais para evitar reações da classe médica brasileira
e do Congresso.
Os telegramas mostram que a negociação ocorreu da seguinte forma:
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Cuba criou uma empresa estatal de
exportação de serviços médicos em outubro de 2011
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Missão cubana visitou regiões
carentes do Brasil em março de 2012
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Proposta inicial foi enviar 6 mil
médicos às regiões da Amazônia brasileira
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Cuba queria inicialmente US$ 8 mil
por médico, e depois passou para US$ 5 mil
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Brasil sugeriu US$ 4 mil, sendo US$ 3
mil para o governo cubano e US$ 1 mil para o médico
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Proposta de usar a Opas como
intermediária partiu do governo brasileiro
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O Brasil aceitou exigências de Cuba
como não realizar avaliações dos médicos nem permitir que eles exercessem a
profissão fora do programa
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Questões jurídicas deveriam ser
levadas à corte em Havana
Iniciativa de Cuba
Em comunicação de 23 de abril de 2012, o então encarregado de negócios
da embaixada brasileira em Cuba, Alexandre Ghisleni, relata encontro ocorrido
três dias antes com Tomás Reinoso, vice-presidente de Negócios da Empresa de
Serviços Médicos Cubanos (SMC), criada em 2011.
Na ocasião, Reinoso informou que já tinha contratos de serviços médicos
em outros países e que conhecia o debate no Brasil sobre revalidação de
diplomas e a utilização de médicos estrangeiros para solucionar o déficit de
profissionais do país.
Segundo o diplomata, o representante cubano informou inclusive que uma
missão da estatal cubana já havia visitado o Brasil. Em março de 2012, um grupo
liderado por Maria Entenza Soto, especialista de negócios da empresa, visitou
os Estados do Amapá, Bahia e Paraíba, além do Distrito Federal, onde discutiram
possibilidades de cooperação. Continua...