Por:Pádua Marques (*)
Num desses dias que tirei pra dar uma volta pelo centro histórico de Parnaíba me ocorreu de uma situação especial. Fui até o mais que conhecido Porto das Barcas, o maior conjunto de edifícios ainda de pé naquela região, me lembrei de nos meus tempos de estudante do curso primário ler Malba Tahan. Sobre ele, este brasileiro espetacular, escritor e matemático, ainda vou qualquer dia desses tecer maiores comentários porque julgo da maior importância e porque as gerações atuais e as futuras nunca terão um ídolo igual.
Mas lembro de Malba Tahan, numa de suas leituras, pra mim mais impressionantes, falar sobre um monge que andando em peregrinação a Meca passou pela casa de um rico negociante de tapetes e especiarias. Este rico comerciante era conhecido por sua avareza e crueldade com os criados. Sabendo disso o monge em lá chegando pediu hospedagem pra uma noite enquanto no outro dia deveria prosseguir viagem.
Estando com fome e sede o religioso estudou uma forma de tirar da cozinha do seu anfitrião alguma coisa pra forrar a barriga. Lembrou que dentro do alforje trazia umas duas pedras. Pedras comuns, dessas que se encontram pela beira da estrada. O monge disse que estava muito cansado e com sono. Mas seria de bom grado se lhe oferecessem pelo menos um prato de sopa. O negociante, muito avarento, relutou dizendo que não havia nada na cozinha. O monge insistiu que, bem que as mulheres da casa poderiam fazer uma sopa. Uma sopa de pedras.
Mas uma sopa de pedras? Como seria isso possível? O monge disse que havia em seu alforje duas pedras que dariam uma excelente sopa àquela hora da noite. Nisso se ofereceu pra ensinar as cozinheiras a fazer o tal prato. Pediu água e fogo. O monge, do alto de sua sabedoria e sabendo da avareza de seu protetor, disse que pra sopa ficar ainda mais saborosa deveria ter um pedaço bom de carne. Depois de muita insistência ele conseguiu o pedido. Mas o monge ainda não estava satisfeito. Repetiu que a sopa ficaria ainda mais saborosa se tivesse alguns temperos de ervas.
E a seus pedidos, mesmo depois de muita relutância do domo da casa ele ia conseguindo os complementos pra sua sopa de pedras. No fim deu tudo certo. E naquela casa, na casa daquele negociante avarento no caminho de Meca o monge, seus seguidores e até os criados da casa conseguiram aos poucos tirar com muita sabedoria e paciência aquilo de que necessitavam. Encerrada a refeição, o monge chamou a criada encarregada da cozinha e depois de lavar lhe entregou as duas pedras dizendo que serviria pra outras ocasiões.
E agora voltando pra Parnaíba, que está no meio do caminho e do destino de ser um dia, se Alá quiser, a Meca do turismo no Piauí, eu fiquei olhando o cais do porto, os armazéns velhos e as pouquíssimas embarcações silenciosas. Bem que poderiam alguns empresários fazer como fazem noutros lugares que têm praias e quase a mesma conformação geográfica do norte do Piauí. Que criassem empresas pra ofertar passeios no rio Igaraçu. Do porto das Barcas até Luiz Correia ou pra dentro do continente. Seria uma alternativa mais barata praqueles que tem pouco dinheiro pra uma viagem até o delta a dentro.
Que bom seria dentro de pouco tempo ver pequenas lanchas e mais lanchas coloridas, cheias de adultos e crianças, deslizando nas águas em direção a Luiz Correia e à ponte do Jandira ou até onde desse condição de se navegar. Passeios curtos, de meia hora, mas agradáveis, feitos com toda a segurança. Tenho certeza que daria certo porque deu certo noutros lugares. Agora fica um rio desses, que nunca seca e muito menos ameaça, na frente da gente passando suas águas na direção do oceano sem utilidade turística nenhuma. E seria pra muita gente uma fonte de renda.
E muita e muita gente que não tem muito dinheiro pra uma viagem mais demorada bem que gostaria de conhecer essa nossa geografia. Gostaria de fotografar, filmar, enfim, ver realmente como é a formação urbana do famoso delta do rio Parnaíba. Acho que deu pra entender essa minha vontade danada de fazer com o pouco que temos uma suculenta sopa de pedra no Porto das Barcas.
(*)Pádua Marques é jornalista e escritor