Por:Pádua Marques(*)
Nos meus tempos de Grupo Escolar Epaminondas Castelo Branco, no hoje bairro São Benedito, que já foi bairro de Fátima e mais antes foi Macacau, nossas professoras nos ensinaram que a carnaubeira era uma árvore que dela se aproveitava de um tudo. Outra criação de Deus e que eu também aprendi naquela época de que tudo dele se aproveitava, era o boi. Nossas professoras deixavam pra nós, crianças ignorantes, a tarefa de nomear todas os objetos domésticos de que era possível se obter desse animal fabuloso.
Do boi aprendemos que se aproveita tudo, inclusive os chifres. Servem ou serviam pra fazer pentes, no sertão como medidores de feijão, arroz, farinha. Ainda podiam ser utilizados pra fazer botões de calças e camisas, canecos, garrafas pra aguardente, fivelas de cinturão, ornamentar cabos de armas de fogo, berrantes e o mais onde a imaginação chegasse. Isso sem mencionar a carne e a ossada. Até o estrume do boi antigamente servia pra adubar plantas e entre tribos da África, tocar fogo pra assar alimentos.
Da carnaubeira, essa árvore tão presente e tão vizinha nossa aqui da Ilha Grande de Santa Izabel, do chamado outro lado do rio, os entendidos afirmam que produz o pó que acaba dando a cera, utilizada em centenas de produtos na indústria. A madeira serve pra construção de casas, cercas, mourões de currais, tronco pra amarrar jumento na porta da casa de caboclo. Também serve como banco na entrada da fazenda e onde os cabras desocupados das casas do interior vem todo dia sentar e conversar fiado.
Mas nos últimos anos uma invenção do homem veio mexer com a cabeça de muita gente, a tal garrafa pet. Tem servido pra tudo o que é maluquice. Já inventaram telhas pra cobertura de casas e até calhas pra escoar água da chuva. Outro camarada mais lá pros lados de Minas Gerais achou de dar à tal garrafa de plástico a utilidade de lâmpada florescente. Enche a bicha com água e cola entre as telhas. Disse ele que economiza na conta de luz. Dessa maravilha também se faz pá pra ajuntar merda de menino e cisco de dentro de casa.
Garrafa pet tem é tido trabalho. Fizeram dela também vassouras pra varrer terreiro, desentupidor de pia e ralo de banheiro, medidor de farinha, arroz e goma de tapioca. Mais adiante vem servir pra fazer uma tal de casa ecológica, telha, botes e coletes salva vidas e armadilha pra pegar mosquito da dengue. Mais tem é coisa, doutor! Serve pra fazer enchimento de judas, funil, cinturão, forma pra fazer pudim, enfeite de árvore de Natal, vasilha pra tirar motorista desprevenido em meio de estrada na hora de comprar gasolina, arruela pra torneira que está pingando.
Mas na semana passada a garrafa pet entrou finalmente na indústria médica e hospitalar de um jeito, vamos dizer assim, informal. E não foi coisa de alemão, italiano ou americano, não. Foi no Brasil. Foi lá na perdida Jutaí, no Amazonas, 751 quilômetros de Manaus. Longe que nem o inferno. Lá do caixa-prego pra uma banda. Dois irmãos gêmeos, nascidos de sete meses tiveram a infelicidade de vir ao mundo no hospital daquela cidade.
(*)Pádua Marques é jornalista e escritor