Cocal dos Alves é uma cidade no interior do Piauí que está entre as trinta piores em IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país. Entretanto, nos últimos anos, o município vem sendo chamado de “Capital Nacional da Matemática”, graças ao ótimo desempenho dos estudantes de duas escolas locais na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Veja abaixo a reportagem na íntegra:
Essa é Cocal dos Alves, no interior do Piauí. Uma cidade que está entre as 30 piores no Brasil em Desenvolvimento Humano, ou seja, a renda das pessoas, o acesso à saúde e ao conhecimento por aqui, estão num nível muito baixo.
Vitaliano de Souza Amaral nasceu na cidade, trabalhou na roça desde pequeno e só concluiu o ensino médio aos 24 anos e nos últimos anos ele também ajudou atransformar o município com tantos problemas na capital nacional da matemática. "O significado da matemática para mim, eu nem sei dizer direito. Meu plano quando fiz vestibular era, se eu não passasse, ir para o Rio de Janeiro ser ajudante de pedreiro. A matemática foi que me tirou desse rumo", diz o professor.
Hoje ele é professor na Universidade Federal do Piauí em Teresina e acaba de passar na seleção de Doutorado na USP de São Carlos, em São Paulo. "A minha escolha pela matemática foi devido ao OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), onde eu consegui medalha de bronze."
Já o Sandoel de Brito Vieira, estudante de matemática, ganhou três medalhas de ouro e duas de bronze na competição. "A partir da OBMEP eu fui apresentado a novos problemas e isso fez com que eu decidisse fazer matemática", disse.
Hoje ele faz mestrado na universidade onde Vitaliano dá aulas e também já foi aceito para o Doutorado no super prestigiado Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro.
O Sandoel vai ser o primeiro doutor da família, o pai dele não estudou e assina apenas o nome, a mãe fez até a 4ª série e mesmo assim os pais sempre incentivaram o filho a buscar conhecimento para ter uma vida melhor.
"A gente não sabe muito na educação, mas o incentivo vale a pena", disse a mãe de Sandoel, Francisca de Brito Vieira.
A história dos dois futuros doutores começou nesta escola pública de Cocal dos Alves e outros alunos daqui querem seguir o mesmo caminho. "Conheci a OBMEP e quis participar e conquistei a medalha de prata, agora eu pretendo conquistar o ouro, disse a estudante, Ana Clara de Brito Amaral.
Em 11 anos, a escola Augustinho Brandão, a única de ensino médio do município, já foi premiada mais de 100 vezes na olimpíada. Nesse ano foi a primeira colocada com 22 prêmios anunciados a cerca de 10 dias.
Qual o segredo da sua escola? "O principal é o interesse dos professores", disse Ana Clara.
"Reunimos os professores e falamos que iríamos fazer esses alunos de baixa renda atingir os sonhos que eles nem ousavam sonhar", disse a diretora da escola, Aurilene Vieira de Brito.
Em 2005, quem teve a ideia de escrever a escola na Olimpíada de Matemática foi o professor Amaral. Na época ele também dava aula em outra escola da cidade. A Teotônio Ferreira Brandão de Ensino Fundamental. Esse ano, ela foi outro destaque na OBMEP e ficou em 4º lugar na competição. Agora ele comemora. "Ainda não caiu completamente a ficha, entender que por aqui já passou um menino que agora vai se matricular num Doutorado no IMPA. É um resultado extraordinário para nós, disse o professor Amaral.
Mas não é só em matemática que eles se destacam. Na república do Sandoel, em Teresina, todos os moradores fizeram Ensino Médio na escola Augustinho Brandão. As famílias de Cocal dos Alves, agradecem. "Nós que somos pais, estamos muito felizes porque a gente não teve esse conhecimento."
Fonte: Com informações do Fantástico