O rio Igaraçu é um dos braços do rio Parnaíba componente do delta do Parnaíba, sua extensão é de, aproximadamente, 20 km da nascente até a foz no Oceano Atlântico. Durante seu trajeto a cidade lhe tem sido implacável causando-lhe ao longo do tempo assoreamentos, desmatamentos e queimadas das matas ciliares, além do lançamento de toneladas de lixo e esgotos urbanos em sua calha.
A relação estabelecida entre a cidade de Parnaíba e o rio Igaraçu se manifesta, timidamente, desde o momento em que ainda ocupava a condição de vila da Província do Piauí, tornando-se mais complexa com o passar dos anos, quando a cidade assume a posição de entreposto comercial, passando a ser veículo de integração entre o Estado e o comércio exterior. O rio foi a estrada fluida por onde se escoava o charque produzido e a cera da carnaúba, favorecendo o desenvolvimento econômico e urbano de Parnaíba, transformando-a em um próspero empório comercial.
Ao longo desses anos temos um histórico da ausência de uma política pública de gestão socioambiental. Produzimos erros, muitos dos quais irreversíveis, induzindo a um elevado índice de degradação. O insucesso desse gerenciamento é percebido através de deterioração do solo, perda de produtividade, assoreamento, redução do estoque pesqueiro e extinção de espécies, diminuição de vazão, enchentes, baixa qualidade da água e a retirada da cobertura vegetal dos mananciais.
O rio Igaraçu/Parnaíba foi e é importante para todos nós. Lamentavelmente nenhum governo nas três esferas de poder assumiu sua competência de cuidar dele. Deveríamos ter uma ação integrada que minimizasse os impactos já causados e concomitantemente planejasse o uso racional doravante.
A cidade de Parnaíba com a maior concentração urbana é, naturalmente, a que mais degrada o rio. Em contrapartida nada faz em favor dele. Falta uma discussão séria sobre o atual quadro de degradação. A despeito de ter uma secretaria de meio ambiente, a rigor, o município deveria se preocupar com aquele que mantém a vida de milhares de famílias. O rio Igaraçu/Parnaíba não recebe a atenção devida!
As populações ribeirinhas e usuários do rio Igaraçu/Parnaíba utilizam a água da forma mais diversificada possível: consumo humano, dessedentação de animais, lazer, pequenas unidades de irrigação, etc., caracterizando múltiplos usos. Já existe registro de conflito em função do uso da água, uma vez que os interesses dos atores sociais são específicos, mesmo quando legítimos, nem sempre coincidem com os da coletividade. O gerenciamento da bacia hidrográfica deveria estar na ordem do dia. Sequer sabem disso!
Um dos sérios problemas é a destruição da vegetação em áreas de preservação permanente (matas ciliares), pois afeta diretamente a quantidade e qualidade da água e contribue para o agravamento do processo de assoreamento. Como consequência uma intensa erosão vem se processando em suas margens, relacionadas ao seu regime torrencial e à própria natureza arenosa do material que se encontra nos terrenos sob a ação da corrente, desenvolve acelerado processo de erosão eólica com a intensa movimentação de dunas, assoreando ainda mais os estuários do delta do Parnaíba.
A gestão racional e o uso sustentável do rio Igaraçu/Parnaíba precisa ganhar a ordem do dia. É necessário e urgente se fazer uma avaliação da sua situação, permitindo a identificação de suas potencialidades de uso (ou de não uso), suas vulnerabilidades e seu desempenho futuro, possibilitando que se tomem decisões quanto à sua preservação e conservação. Esta avaliação é básica e fundamental para implementação de políticas de desenvolvimento autossustentado. Mas quem vai fazer? Quem se interessa pela gestão dos recursos hídricos?
Não obstante a necessidade de intervenção mais rápida e ágil nas ações locais, a gestão ambiental ainda se mostra precária em Parnaíba. A Secretaria de Meio Ambiente parece que foi criada com o propósito puro e simples de ampliar a arrecadação municipal. Não há nenhum aceno na linha contrária. Lagoas do Portinho. Bebedouro e da Prata agonizam; arborização urbana sem planejamento; educação ambiental inexiste; poluição sonora reina; para citar exemplos de omissão e descaso.
É do rio Parnaíba que vem a água que bebemos, mas ele tem se tornado um mero depósito de efluentes e lixo. A contaminação das suas águas está descrito no recente trabalho de doutorado da professora Marly Lopes (UESPI, 2014) que concentrou sua investigação na Tradescantia Pallida, planta popularmente conhecida como “Coração Roxo”, utilizada no biomonitoramento dos efeitos de poluentes nas águas. Vê-se que nem tudo está perdido!
Preciosas são as informações constantes no Zoneamento Ecológico e Econômico do Baixo Parnaíba (MMA, 2001) e do Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado da Bacia do Rio Parnaíba - PLANAP (CODEVASF, 2006). Com o conhecimento técnico da problemática podemos planejar melhor a ação de intervenção, visando a construção de um desenvolvimento racional e sustentável. Nossos gestores precisam despertar pra isso, um novo estilo de desenvolvimento precisa ser adotado. Acordem!!!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.