Por esses dias estive com alguns amigos visitando a Lagoa da Prata. Não tem como deixar de se indignar com esta que se intitula a melhor administração da história recente da Terra de Simplício Dias!
Se em nossa comunidade já é comum o sentimento de abandono e descaso, em algumas localidades da periferia de Parnaíba a revolta é ainda maior. A localidade Lagoa da Prata é um dos bairros invisíveis ao poder público. Quase nunca recebe qualquer intervenção do governo.
Chegar até lá já é uma aventura! O caminho fora melhorado por obra do governo estadual, no ano passado. O asfalto foi recuperado da Av. José de Morais Correia até a entrada do Joaz Souza, antes intrafegável. Daí prá frente é só buraco até chegar à Vegeflora. Nesse trecho encontramos duas caçambas de uma cerâmica instalada no bairro Rosápolis colocando cacos de telhas e tijolos quebrados nas crateras da via que, por força de lei, recebe o pomposo nome de Avenida João Batista Silva!
Da empresa Vegeflora à Lagoa da Prata aumenta o tormento, acesso em piçarra e areia. No verão: buracos e poeira; lama, quando chove. Só sabe o tormento quem mora lá e precisa, diariamente, sair de casa para ir à lida no centro da cidade que mais cresce no Brasil!
Até quando vai durar a insensibilidade da gestão municipal? Até entendo a morosidade, pois para ter iniciativas de encontro aos anseios daquela comunidade seria necessário o conhecimento in loco dos gestores. Qual foi a última vez que nossos gestores andaram por lá? Na campanha não vale!!!
Os moradores da Lagoa da Prata sofrem com a ausência do poder público: educação de pouca qualidade, serviços médicos e odontológicos amenizados pela iniciativa privada, insegurança e falta de coleta de lixo. Neste último quesito a denúncia é flagrante: resíduos por toda parte. Sem alternativa, as pessoas queimam, enterram e jogam o lixo pela estrada e até mesmo nas margens da lagoa. Lá se vê a incapacidade de o poder público responder às demandas mais elementares de uma comunidade.
A insalubridade e a falta de infraestrutura das casas e das ruas sem ordenamento transformam a vida dos moradores em uma batalha, onde a esperança já não é quase mais presente. As crianças desse bairro são as que mais sofrem, não têm acesso ao lazer, saúde e projetos educacionais. São vítimas do abandono e da exclusão social. Não existem oportunidades para estas pessoas, a luta diária é apenas pela sobrevivência, são invisíveis aos que governam e que pregam o discurso de que trabalham para o bem do povo pautado no modo petista de administrar. “Não é qualquer um que pisa no barro mesmo vindo dele” (Vulgo Elemento).
Por outro lado, um lugar belíssimo, paradisíaco! Que se tivesse a sorte de contar com gestores lúcidos e com visão administrativa seria um ponto de referência para o turismo de base comunitária. A vida simples do mundo rural e o encanto da beleza natural da lagoa são ingredientes que em outras plagas renderiam oportunidades para as famílias do lugar e engordaria o orçamento público com o incremento das receitas de impostos a partir das mais diversificadas atividades que ali podem se desenvolver. Mas, é preciso enxergar a oportunidade e criar as condições para desenvolvê-la.
Porém para a glória e triunfo do Rei a maioria da população segue calada, alheia a tudo que acontece na cidade. Mesmo tendo conhecimento destas mazelas que, não é um privilégio da Lagoa da Prata (muitas são as comunidades invisíveis ao poder público) a vida segue e, assim caminha a Parnaíba! A passos de formiga, sem orgulho e sem maldade!
Quando muito, um ou outro, se interessa por fofocas políticas ou questões superficiais e que em nada contribuem para o engrandecimento pessoal e até mesmo da cidade. E na obscuridade em toda essa vastidão de interesses escusos e omissões, não há nenhum indício que possa sinalizar que algo possa vir de algum lugar para nos salvar de nós mesmos!
O que está acontecendo em Parnaíba é uma inversão de valores e ninguém repara. Estamos dizendo milhões de frases sem nenhum valor. Tento ter argumento, alguns riem. Gira em volta de mim um estilo de vida que insiste em mostrar que não vale à pena lutar! Será que os passos dessa estrada vão dar em nada?! Continuarei, contudo, caminhando e acreditando!
Várias inquietações podem suscitar uma visita dessas. Fiquei fervilhando com meus amigos. Várias respostas podem ser encontradas aqui, as quais carecem de um debate mais intenso. Não se pretende remetê-las a uma resposta curta e simples: a inoperância do governo municipal. Que é um fato, mas sobretudo discutir o acesso aos direitos, ou melhor, a forma do acesso e como ele é usado. Como interferem no processo de conquista e de efetivação dos direitos dos cidadãos? Será preciso se fazer manifestação para se provar que somos cidadãos ou que precisamos de cidadania?
A Lagoa da Prata poderia ser uma comunidade com um projeto piloto de desenvolvimento?!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.